José Dirceu não sabia o que se passava no PT porque estava muito ocupado na Casa Civil. José Genoino foi falho na gestão do PT porque gostava mesmo era de política. Delúbio Soares cometeu apenas um ilícito: caixa dois de campanha. Marcos Valério distribuiu dinheiro a 67 pessoas mas não foi corrupção. É o que disseram os advogados de defesa de quatro dos principais acusados.
A estratégia entre os advogados de defesa dos réus do mensalão foi acusar o Ministério Público de não ter se baseado apenas em depoimentos em juízo com o “contraditório”. O procurador-geral da República, na verdade, registrou logo no começo da sua fala, na sexta-feira, que estava usando as provas dos “milhares de documentos” das 50.508 folhas da Ação Penal.
Os advogados sustentaram também que não houve compra de voto, nem era dinheiro público, e que não houve decisão de funcionários da administração pública — atos de ofício — determinada pela distribuição de dinheiro.
Segundo o advogado de Marcos Valério, o deputado João Paulo Cunha não tinha qualquer poder sobre o contrato de publicidade da Câmara dos Deputados, apesar de ser o presidente da Casa.
Fora alguns pontos em comum, os advogados seguiram linhas que ajudam seus clientes, mas criam zonas de sombra sobre os outros. O advogado de José Dirceu quis afastar seu cliente de qualquer das atividades executadas no partido, alegando que ele se ausentou da presidência quando assumiu a Casa Civil. Não defendeu os atos do partido.
O de José Genoíno alegou que à época da campanha de 2002 ele estava disputando o governo de São Paulo e, portanto, nada soube das decisões da campanha presidencial. O de Delúbio Soares afirmou que foi pedido a ele, como tesoureiro, que resolvesse o problema das finanças em frangalhos do PT. E por isso ele pediu empréstimos através das empresas de Marcos Valério.
A SMP&B e a DNA de fato pegaram empréstimos e distribuíram dinheiro a políticos. Um dos bancos a conceder esses recursos foi o Banco Rural. José Dirceu se encontrou sim com a diretoria do Banco Rural, e um desses encontros foi mesmo em Belo Horizonte, mas ele havia viajado para a capital mineira em compromissos oficiais e lá se encontrou com “empresários”.
Tudo sendo verdade, fica faltando explicação. Se o dinheiro que foi distribuído por Marcos Valério tinha origem legal, conseguido através desses empréstimos, por que mesmo teve que ser entregue em espécie, em volumes altos, fugindo do sistema bancário? Por que o PT precisava que o empréstimo fosse feito através de uma agência de publicidade?
O advogado de Marcos Valério definiu a função de uma agência: criação; produção de áudio e vídeo; veiculação. Em qual dessas três atividades se inclui distribuição farta de dinheiro aos partidos da base do governo contratante?
O advogado de Delúbio Soares admitiu que seu cliente cometeu “ilícito”: o caixa dois de campanha. “Por que tudo em cash? Porque era ilícito. Não se podia transferir dinheiro que não tinha dado entrada no partido, por isso teve que ser em moeda sonante”, disse Arnaldo Malheiros, advogado de Delúbio.
Já Marcelo Leonardo, o advogado de Marcos Valério, falou outra coisa: “Não era dinheiro sujo, não precisava ser lavado. O que aconteceu depois é que poderia ser lavagem de dinheiro.”
Os advogados honraram seus honorários e fizeram a melhor defesa possível dos seus clientes. Levantaram questões técnicas para os ministros refletirem em seus votos. Difícil é aceitar o enredo que eles, juntos, contam.
Origem e destino do dinheiro continuam obscuros.
Miriam Leitão, O Globo
07 de agosto de 2012
A estratégia entre os advogados de defesa dos réus do mensalão foi acusar o Ministério Público de não ter se baseado apenas em depoimentos em juízo com o “contraditório”. O procurador-geral da República, na verdade, registrou logo no começo da sua fala, na sexta-feira, que estava usando as provas dos “milhares de documentos” das 50.508 folhas da Ação Penal.
Os advogados sustentaram também que não houve compra de voto, nem era dinheiro público, e que não houve decisão de funcionários da administração pública — atos de ofício — determinada pela distribuição de dinheiro.
Segundo o advogado de Marcos Valério, o deputado João Paulo Cunha não tinha qualquer poder sobre o contrato de publicidade da Câmara dos Deputados, apesar de ser o presidente da Casa.
Fora alguns pontos em comum, os advogados seguiram linhas que ajudam seus clientes, mas criam zonas de sombra sobre os outros. O advogado de José Dirceu quis afastar seu cliente de qualquer das atividades executadas no partido, alegando que ele se ausentou da presidência quando assumiu a Casa Civil. Não defendeu os atos do partido.
O de José Genoíno alegou que à época da campanha de 2002 ele estava disputando o governo de São Paulo e, portanto, nada soube das decisões da campanha presidencial. O de Delúbio Soares afirmou que foi pedido a ele, como tesoureiro, que resolvesse o problema das finanças em frangalhos do PT. E por isso ele pediu empréstimos através das empresas de Marcos Valério.
A SMP&B e a DNA de fato pegaram empréstimos e distribuíram dinheiro a políticos. Um dos bancos a conceder esses recursos foi o Banco Rural. José Dirceu se encontrou sim com a diretoria do Banco Rural, e um desses encontros foi mesmo em Belo Horizonte, mas ele havia viajado para a capital mineira em compromissos oficiais e lá se encontrou com “empresários”.
Tudo sendo verdade, fica faltando explicação. Se o dinheiro que foi distribuído por Marcos Valério tinha origem legal, conseguido através desses empréstimos, por que mesmo teve que ser entregue em espécie, em volumes altos, fugindo do sistema bancário? Por que o PT precisava que o empréstimo fosse feito através de uma agência de publicidade?
O advogado de Marcos Valério definiu a função de uma agência: criação; produção de áudio e vídeo; veiculação. Em qual dessas três atividades se inclui distribuição farta de dinheiro aos partidos da base do governo contratante?
O advogado de Delúbio Soares admitiu que seu cliente cometeu “ilícito”: o caixa dois de campanha. “Por que tudo em cash? Porque era ilícito. Não se podia transferir dinheiro que não tinha dado entrada no partido, por isso teve que ser em moeda sonante”, disse Arnaldo Malheiros, advogado de Delúbio.
Já Marcelo Leonardo, o advogado de Marcos Valério, falou outra coisa: “Não era dinheiro sujo, não precisava ser lavado. O que aconteceu depois é que poderia ser lavagem de dinheiro.”
Os advogados honraram seus honorários e fizeram a melhor defesa possível dos seus clientes. Levantaram questões técnicas para os ministros refletirem em seus votos. Difícil é aceitar o enredo que eles, juntos, contam.
Origem e destino do dinheiro continuam obscuros.
Miriam Leitão, O Globo
07 de agosto de 2012
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