E Kofi Annan desistiu. Não há surpresa nisso. Promover a paz na Síria está
muito além de suas formidáveis habilidades diplomáticas.
O regime de Assad está onde sempre esteve desde que os protestos contra ele começaram no rastro da chamada Primavera Árabe: disposto a se manter no poder a qualquer preço.
Nenhuma ditadura se transforma em democracia pacificamente. Não existe registro histórico disso. Assad herdou o poder na Síria de seu pai, um autocrata que governou com mão de ferro o país por 30 anos.
Um país não é uma empresa familiar, em que o filho toma as rédeas quando o pai morre. Mas a tentação entre os ditadores é grande. Não basta, em vida, exercer o poder. É preciso, depois, perpetuá-lo nos filhos. Gaddafi vinha preparando um dos filhos para sucedê-lo.
E a oposição a Assad ficou muito mais complexa do que era no começo. Jovens idealistas foram cedendo espaço a mercenários financiados pelos Estados Unidos, de um lado, e a extremistas islâmicos dedicados à Jihad – a Guerra Santa –, de outro. (A maior parte dos mercenários anti-Assad é composta de veteranos pagos recentemente para guerrear contra Gaddafi na Líbia.)
Mercenários da Libia agora estão na Síria
É uma união de conveniência parecida com a que se viu, nos anos 1980, no Afeganistão. Num breve momento, os interesses americanos e os dos grupos islâmicos – dentro dos quais se destacava o jovem Osama bin Laden – foram os mesmos: expulsar os russos. Completada a missão, foi o que se viu: o Afeganistão virou palco de uma guerra que se arrasta até hoje.
Mercenários que lutaram na Líbia estão hoje na Síria
A Síria vive uma situação tragicamente bizarra. Assad é um presidente deposto em exercício. E a oposição, tal como é hoje, é uma mistura voltada para a guerra e para a destruição, não para a paz.
O ponto essencial que vem sendo pouco debatido é: pelo conjunto da obra dos Estados Unidos no Oriente Médio desde o fim da Segunda Guerra, qualquer governo hoje na região suspeito de ser marionete americana vai enfrentar uma resistência feroz. É o que acontece no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão – e o que provavelmente vai ocorrer na Síria também.
Enquanto os Estados Unidos permanecerem no Oriente Médio, a paz vai ser — para usar as palavras de Annan — uma missão impossível.
Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
07 de agosto de 2012
O regime de Assad está onde sempre esteve desde que os protestos contra ele começaram no rastro da chamada Primavera Árabe: disposto a se manter no poder a qualquer preço.
Nenhuma ditadura se transforma em democracia pacificamente. Não existe registro histórico disso. Assad herdou o poder na Síria de seu pai, um autocrata que governou com mão de ferro o país por 30 anos.
Um país não é uma empresa familiar, em que o filho toma as rédeas quando o pai morre. Mas a tentação entre os ditadores é grande. Não basta, em vida, exercer o poder. É preciso, depois, perpetuá-lo nos filhos. Gaddafi vinha preparando um dos filhos para sucedê-lo.
E a oposição a Assad ficou muito mais complexa do que era no começo. Jovens idealistas foram cedendo espaço a mercenários financiados pelos Estados Unidos, de um lado, e a extremistas islâmicos dedicados à Jihad – a Guerra Santa –, de outro. (A maior parte dos mercenários anti-Assad é composta de veteranos pagos recentemente para guerrear contra Gaddafi na Líbia.)
Mercenários da Libia agora estão na Síria
É uma união de conveniência parecida com a que se viu, nos anos 1980, no Afeganistão. Num breve momento, os interesses americanos e os dos grupos islâmicos – dentro dos quais se destacava o jovem Osama bin Laden – foram os mesmos: expulsar os russos. Completada a missão, foi o que se viu: o Afeganistão virou palco de uma guerra que se arrasta até hoje.
Mercenários que lutaram na Líbia estão hoje na Síria
A Síria vive uma situação tragicamente bizarra. Assad é um presidente deposto em exercício. E a oposição, tal como é hoje, é uma mistura voltada para a guerra e para a destruição, não para a paz.
O ponto essencial que vem sendo pouco debatido é: pelo conjunto da obra dos Estados Unidos no Oriente Médio desde o fim da Segunda Guerra, qualquer governo hoje na região suspeito de ser marionete americana vai enfrentar uma resistência feroz. É o que acontece no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão – e o que provavelmente vai ocorrer na Síria também.
Enquanto os Estados Unidos permanecerem no Oriente Médio, a paz vai ser — para usar as palavras de Annan — uma missão impossível.
Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
07 de agosto de 2012
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