Folha de S. Paulo (SP) - 07/08/2012
Eliane Cantanhêde
Perfeito que o advogado José Luis Oliveira Lima
repila veementemente a acusação da Procuradoria-Geral da República de que seu
cliente, José Dirceu, era "chefe da quadrilha" ou "chefe da
organização criminosa".
Mas... só no admirável mundo dos advogados seria
possível dizer, com toda a teatralidade cabível, que Dirceu, como chefe da Casa
Civil, não mandava nada no PT, não articulava nada, não interferia sequer nas
nomeações para cargos públicos.
Sinceramente, essa não dá para engolir, a não ser
numa história romanceada do mensalão, em contraponto à que a Procuradoria criou
para crianças e que irrita os petistas.
Quanto às audiências de Dirceu com banqueiros e
empresários no Palácio do Planalto ("entre quatro paredes"...),
Oliveira Lima disse que eram parte do trabalho do então ministro. Mas não
explicou onde Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcos Valério se encaixavam.
Chefes da Casa Civil, de fato, recebem em palácio
representantes de bancos e de empresas, mas ao lado do tesoureiro do partido e
do presidente? Com o secretário-geral desse partido? E o que fazia Marcos
Valério no Planalto com as cúpulas de dois bancos diferentes?! É juntar alhos
com bugalhos ou... ah, deixa prá lá.
Já o advogado de José Genoíno, Luiz Fernando
Pacheco, lembrou, com propriedade, que seu cliente está longe de ser um homem
rico e, ao contrário, tem uma vida até modesta. Mas caiu numa contradição:
disse, primeiro, que o mensalão é "inventado e fantasioso" e, ao
final, que Genoíno foi "arrastado pela irresponsabilidade de alguns".
"Irresponsabilidade" é tradução para mensalão?
Os quatro advogados
de ontem contaram uma mesma história, com um mesmo enredo, variando apenas
quanto à importância dos personagens -ou clientes. No fim, todos induziram à
mesma conclusão: foi tudo caixa dois. E a culpa é do Delúbio? Os 11 ministros
podem ou não acreditar.
Folha de S. Paulo (SP) - 07/08/2012
Eliane Cantanhêde
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