"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

"JOAQUINZÃO E LULA"

 



Os ideólogos do petismo se arrepiam com o julgamento do mensalão. Suas preocupações, no entanto, estão longe de sincera revolta contra a prisão eventual de seus próceres. Espíritos de natureza totalitária não se amedrontam com a cadeia.
Acham-na, mesmo, uma espécie de provação, como um martírio que legitimaria suas concepções e lhes geraria, adicionalmente, um título a ser executado no futuro com excelentes dividendos materiais e simbólicos. Declarações recentes do professor Delúbio Soares ─ aceitando ser condenado pelo STF como mais uma “missão partidária” a cumprir ─ assim o demonstram.

Esse tipo de gente se diferencia, e muito, das pessoas comuns, que, em sua larga maioria, temem qualquer restrição à sua liberdade ─ menos, é claro, os psicopatas. Jorge Luis Borges dizia, ironicamente, que a prisão não tem efeitos exclusivamente negativos; ela, por incrível que pareça, fez bem à literatura.
Entre suas citações favoritas estariam Marco Pólo e Cervantes, cujas obras nasceram dentro dos cárceres. No Brasil, seriam encontrados, também, bons exemplos, como Graciliano Ramos, para ficar somente num dos casos mais notórios.

A intelectualidade petista ─ vá lá o oxímoro ─ assanha-se, ou fica em contraditório e obsequioso silêncio, por perceber o surgimento no Brasil, pelos acasos da história, de outra referência concreta que possa pautar o comportamento dos indivíduos: Joaquinzão! Aqueles ideólogos sabem que, para conquistar e manter o poder, é fundamental capturar o imaginário das pessoas.

Por isso, o endeusamento de personalidades como Stalin, Guevara, Fidel, o Kim da Coreia do Norte, e, claro, Lula da Silva. Tributam a tais figuras apodos sublimes: “Guia Genial dos Povos”, “Grande Timoneiro”, “Amado e Poderoso Líder” e, até, “Deus”, como o fez a ministra Marta Suplicy.
A subserviência de alguns é compartilhada no íntimo por todos os seus confrades.

A racionalidade embutida em tal processo é simples e pode ser traduzida numa pergunta: igual a quem eu quero ser quando crescer? Nas periferias, uma resposta vem se destacando. Quer-se ser igual aos bandidos; poucos querem ser como a polícia. Inveja-se a riqueza, mesmo efêmera, o poder e o prestígio dos traficantes. No campo político, a referência massacrante vendida há anos é a do menino retirante que se deu bem, que virou presidente de sindicato e, depois, presidente do Brasil, apelando a golpes de esperteza e de velhacaria: uma encarnação de Malasartes.

Eis que os fatos imprevistos encontram um personagem de outro barro apto a dar novo sentido ao imaginário das massas: o ministro Joaquim Barbosa ou, respeitosamente, o Joaquinzão: retirante pobre e estudioso que venceu na vida pelo esforço e pelo trabalho duro.
A punição aos mensaleiros sinaliza ao Brasil, felizmente, que outro modelo humano é possível, sem o cinismo desencantado dos espertalhões que nunca acreditaram que a humanidade pudesse dar um passo à frente.

18 de outubro de 2012
ANTONIO MACHADO DE CARVALHO
PUBLICADO NO JORNAL O TEMPO

Nenhum comentário:

Postar um comentário