Que o PT e outros partidos sempre apostaram na divisão de classes para formatar seus espaços na vida nacional, todos sabemos.
Mas agora, confesso, estou de fato preocupado com o rumo que o Brasil está tomando.
Não falo da disputa eleitoral em São Paulo, em si, onde o PT joga tudo o que pode para conquistar o poder.
Mas, ao ouvir da boca do candidato Fernando Haddad a palavra “apartheid”, acenderam-se todas as minhas luzes vermelhas, no sentido de que o propósito petista é de fato dividir a sociedade brasileira. Dividir para conquistar e governar.
Lula foi mestre nisso em seus dois períodos de governo, jogando as classes sociais umas contra as outras. Criaram-se bolsas, programaram-se cotas para negros e, de repente, como se fosse do nada, quando se pode esperar que seja fato urdido no sentido de provocar algo que nunca houve no País – o chamado “apartheid” – o governo fala em criar cotas para negros nos serviços públicos federais.
Outro dia a jornalista Glória Maria, da Rede Globo , disse que estava, com essa ideia, se sentindo trinta anos atrás, numa situação retrógrada que a levava à África do Sul, quando lá, sim, havia “apartheid”.
Sou absolutamente a favor da igualdade entre todos, sem distinção de raça, sexo, religião, cor, como determina a Constituição brasileira.
O Brasil – seria hipocrisia negar – tem preconceitos velados, que vinham diminuindo na medida em que as novas gerações, no processo de miscigenação e de educação, começaram a se integrar e a entender o País de uma forma mais plural.
Mas, jamais, nunca, em tempo algum, eu, que milito na imprensa política brasileira há 40 anos, ouvi, no nosso cotidiano, a palavra “apartheid” como algo presente na vida nacional.
É muita coincidência que na mesma semana em que o governo Dilma anuncia sua intenção de criar cotas para servidores negros, na mesma semana em que sai publicada oficialmente a regulamentação de cotas para raças nas universidades brasileiras, o candidato Fernando Haddad, na abertura da campanha do segundo turno em São Paulo, venha dizer que precisamos acabar com o “apartheid” social. Parece que o governo do PT trabalha justamente para que este aqui se instale.
Seria o correto, o ideal, que o poder público promovesse a interação plena, oferecendo condições iguais para todos e promovesse ainda a oportunidade para todos – sem riscar o chão do País, chamando pobre para um lado, rico para o outro, negros e índios para lá, brancos para cá…
Daqui a pouco seremos separados em ônibus, restaurantes, cinemas, num retrocesso histórico e humano que mais uma vez, em nome de promover o bem, incentiva o mal.
Sei que as patrulhas de má-fé estão atentas para desconstruir quem não apoia suas teses que, em nome de igualdade, são opressivas, autoritárias e fogem da vocação brasileira da igualdade de direito para todos.
Minha origem de neto de imigrantes, filho de trabalhador, a vida toda construída pela educação e pelo trabalho (e em que algumas vezes essa descendência foi provocada pelo chamamento de “turco” e outra bobagens), como brasileiro que ama e trabalha com denodo, voluntariamente, a favor da educação e da cidadania em 25 estados do Brasil, me sinto autorizado a dizer alto e bom som, e assinar como sempre faço: “Alô Brasil, o ‘apartheid’ como forma de dominação e de perpetuação no poder está sendo arquitetado nos porões do governo”.
Se a dominação “social” da mídia não está prosperando – devem pensar os “cérebros” das ideias retrógradas e nefastas – vamos dividir as classes sociais, as raças, os credos, os sexos, e dominar pela cizânia, algo que jamais passou perto do território nacional.
As eleições são mero detalhe. Até porque não existirão mais, se um dia aqueles que ainda buscam impor ao Brasil o falecido sistema da ditadura do proletariado conseguirem seu intento.
O Brasil precisa investir na formação de sua população de forma igualitária, com educação de nível para todos, com oportunidades de trabalho iguais, com tratamento isonômico para cada brasileiro.
Resgatar dívida histórica é o nome da falácia sob a qual se escondem os que conspiram contra a construção de um Brasil justo, igual para todos. Incompetentes que são para desenvolver de verdade um País, ou corruptos que sugam os recursos nacionais, eles urdem sua dominação eterna, onde só o desencontro “social” pode propiciar os meios para tal.
“Apartheid” no Brasil, nunca!
(*) Paulo Saab é jornalista e escritor. Artigo publicado originalmente no Diário do Comércio.
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