Artigos - Globalismo
O presidente iraniano omitiu de seu discurso um pequeno ponto: nomeadamente, aquele no qual Mahdi alcança a bondade global e o amor exterminando os ímpios.
O mundo ouviu um pronunciamento esclarecedor do presidente Mahmoud Ahmadinejad durante seu discurso do dia 26 de setembro na sede da ONU em Nova Iorque, que começou com o refrão: “Em nome de Alá, o Compassivo e Misericordioso...”. Tentando emplacar uma pose espiritual, o presidente iraniano disse: “Estou aqui para transmitir a mensagem divina e humanitária dos sábios homens e mulheres do meu país para vocês e para o mundo todo...”
O presidente Ahmadinejad então começou a enumerar as calamidades da história – guerras, cruzadas, assim como o “trágico incidente de 11 de setembro e as ações militares contra o Afeganistão e Iraque” que, segundo ele, “deixou milhões de mortos e desabrigados...”.
Em seguida, o presidente fez considerações acerca da situação econômica global. A pobreza está aumentando, afirmou ele, e a dívida externa somada “de 18 países industrializados já ultrapassou os 60 trilhões de dólares...”.
Daí Ahmadinejad ateve-se em acusações, dizendo que “as economias dependentes do consumismo e da exploração do povo servem apenas aos interesses de um limitado número de países”. Aludindo ao dólar americano, enfatizou que a “criação de ativos sem valor por meio do uso da influência e controle sobre os centros econômicos mundiais, constitui o maior abuso da história.”
Mais tarde, Ahmadinejad acusou “um único governo” de ter imprimido 32 trilhões – novamente uma óbvia referência aos Estados Unidos. Ele criticou o capitalismo como modelo de desenvolvimento, dizendo que ele levou a economia para um “círculo vicioso” que engatilhou uma “mórbida e devastadora competição”. O presidente iraniano disse que o desenvolvimento por meio do capitalismo é uma “prática fracassada”.
Alterando o rumo para assuntos culturais, Ahmadinejad iniciou um ataque moral aos líderes do mundo capitalista: “do ponto de vista dos políticos que controlam os centros de poder do mundo, conceitos tais como princípios morais, pureza, honestidade, integridade, compaixão e sacrifício voluntário são rejeitados por serem considerados antiquados”. Ele então ofereceu apoio às “culturas puras e indígenas que são produtos dos séculos”. O iraniano também criticou a cultura ocidental, referindo-se a ela como “desprovida de identidade individual ou social”. Se lançou ainda em defesa da família e da maternidade, dizendo que a “família é a instituição mais nobre das sociedades” e que o Ocidente enfraqueceu seriamente a instituição familiar, levando ao seu próprio declínio.
O líder iraniano também falou do meio ambiente. Ele alegou que o capitalismo causou “sérios danos e devastação” ao planeta pelo “excessivo uso de recursos”. O iraniano também culpou as enchentes, secas e poluições provocadas pelo Ocidente. Tendo atacado o Ocidente e o capitalismo, o presidente Ahmadinejad partiu para a questão da felicidade humana. A atual ordem capitalista é incapaz de fazer alguém feliz, diz ele: “Nos dias de hoje, todos estão descontentes e desapontados com a atual ordem internacional”.
Sem aparentar ironia, Ahmadinejad disse: “Eu não acredito que os muçulmanos, cristãos, judeus, hindus, budistas e outros têm qualquer problema ou são hostis entre uma religião e outra. Eles caminham juntos confortavelmente e vivem juntos em uma atmosfera de paz e amizade. Eles são todos devotos à causa da justiça, pureza e amor”. O problema, segundo ele, é encontrado nos “centros autoproclamados de poder que se entregaram ao demônio”. O domínio global deles é fundado, de acordo com o presidente, no materialismo e é inerentemente imoral. A filosofia deles é baseada no “egoísmo, embuste, ódio e animosidade”.
Eles também são racistas e devotados à “humilhação” e subjugação “das outras nações”. Parafraseando Lenin, o líder iraniano perguntou: “O que há de se fazer?”. Para trazer uma nova ordem global baseada na paz, bondade e igualdade ante a lei, deve existir uma “gestão global conjunta”.
Os numerosos pobres devem unir-se contra “a minoria gananciosa”. A própria ONU deve ser reestruturada para que a discriminação e o monopólio não prevaleçam. Ahmadinejad ainda disse que “o problema da reestruturação da ONU é extremamente vital e é uma necessidade que deve ser enfatizada de novo e de novo...”
A justiça, o amor e a liberdade devem ser proclamados, disse o presidente iraniano, por causa da iminente chegada de um messias muçulmano. O amor e a justiça devem triunfar porque “Alá Todo Poderoso prometeu-nos um homem de bondade, um homem que ama as pessoas e ama a justiça absoluta, um homem que é o ser humano perfeito e tem o nome de Imã Al-Mahdi, um homem que virá na companhia de Jesus Cristo e dos justos”.
Omitiu de seu discurso um pequeno ponto: nomeadamente, aquele no qual Mahdi alcança a bondade global e o amor exterminando os ímpios. Não precisa nem mencionar esse detalhe. Melhor sublinhar os positivos. Assim, o presidente iraniano meramente notou que a “chegada (do Mahdi) significará o fim da opressão, imoralidade, pobreza, discriminação e o começo da justiça, amor e empatia”.
Ahmadinejad finalizou seu discurso com o seguinte refrão: “Vida longa à essa primavera, vida longa à essa primavera e vida longa à essa primavera”.
Estava ele – talvez – referindo-se à Primavera Árabe?
Escrito por Jeffrey Nyquist
02 Outubro 2012
Publicado no Financial Sense.
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