À TONA A FALÁCIA DA GERENTONA FARSANTE E brasil maravilha 100/200/300% "PREPARADO" : Brasil fora da Libertadores da economia
O Produto Interno
Bruto (PIB) do terceiro trimestre surpreendeu negativamente. Ele mostrou que, a
despeito da desvalorização do real e dos muitos estímulos monetários, fiscais e
creditícios, o Brasil cresceu apenas 0,6% em relação ao trimestre anterior,
metade do que se estimava.
Essa surpresa levou a dois tipos de reação. A primeira foi questionar o trabalho do IBGE, a segunda culpar a crise internacional pelo fraco desempenho.
Ambas, a meu ver, deixam de lado o principal:se o nosso modelo econômico é adequado para os tempos de hoje.
Questionar os números do IBGE é válido e, até certo ponto, fácil. É válido porque naturalmente as metodologias das contas nacionais sempre podem ser aprimoradas. A crítica bem-intencionada também ajuda a manter o IBGE vigilante, o que é bom para a sociedade. Desde que, é claro, não constranja a autonomia técnica e operacional da instituição, como ocorre em nosso vizinho do sul.
É fácil porque as contas nacionais, aqui e em qualquer país, são obtidas com base em inúmeras aproximações e não por outra razão são revistas quando novas informações ficam disponíveis.
A atividade desacelerou por causas internas, por problemas no modelo, não devido a um choque externo.
Será, porém, que as questões levantadas mudam qualitativamente as conclusões? Minha impressão é que não:
se o PIB tivesse crescido o dobro (1,2%) no trimestre, a expansão em quatro trimestres teria sido de 1%, contra os 0,9% efetivamente observados.
Na mesma, apontaria para um crescimento medíocre em 2012. Esse fraco desempenho tem sido atribuído à crise internacional. Sem dúvida a crise ajudou a conter o investimento em setores como extrativa mineral, mas esse setorresponde por apenas 3,7% do PIB. A desaceleração chinesa também não explica a queda do crescimento:as exportações para a China correspondem a apenas 1,8% do PIB.
A China precisaria ter entrado em total colapso para causar a desaceleração observada no Brasil.
A conclusão é a mesma quando se compara o Brasil com outros países latino-americanos. Quero aqui me ater ao que considero hoje o G-4 da região:Chile, Colômbia, México e Peru,
os quatro signatários da Aliança do Pacífico, que juntos formam um Brasil: 209 milhões de habitantes e PIB de US$ 2 trilhões.
Na média do sexênio 2005/10, o crescimento brasileiro ficou em 4,3% ao ano, igual ao Chile, melhor do que o México (2%) e abaixo de Colômbia (4,6%)
e Peru (7,2%).
Já no biênio 2011/12, a expansão média brasileira (1,8% ao ano) deve ser uma fração da desses países (5,1%, 3,8%, 5,3% e 6,2%, respectivamente).
Como explicar que só no Brasil a crise derrubou o crescimento?
Há, portanto, um erro de diagnóstico:
a economia brasileira desacelerou por causas internas, por problemas no nosso modelo, não devido a um choque externo. Em especial, o Brasil vem adotando um modelo que, sem os radicalismos de Argentina e Venezuela, também se caracteriza pelo intervencionismo estatal, o fechamento da economia e a maior tolerância com a inflação.
Alguns indicadores ajudam a ilustrar: O Brasil tem uma carga tributária (35% do PIB em 2011) bem mais elevada que os países do G-4:
na Colômbia, cuja carga mais se aproxima do Brasil, essa é de apenas 23% do PIB. Na América Latina, apenas a Argentina rivaliza com o Brasil nesse indicador.
A economia brasileira é muito mais fechada ao comércio exterior: em 2011, a razão entre a soma de exportações e importações de bens e serviços não fatores e o PIB foi de 25% no Brasil, contra 37% na Colômbia,
52% no Peru, 65% no México e 78% no Chile.
Na média do quadriênio 2009/12, a inflação no Brasil deve ser de 5,4%, contra 4,2% no México, 3,3% na Colômbia, 2,9% no Peru e 2,3% no Chile.
Na edição deste ano do Doing Business, o Brasil aparece na 130ª colocação em termos de ambiente de negócios, entre 185 países, enquanto México, Colômbia, Peru e Chile ocupam, respectivamente, a 48ª, 45ª, 43ª e 37ª posições.
Não surpreende, assim, que o Brasil invista menos que os países do G-4: na média do período 2005-11, nossa taxa de investimento foi de apenas 18,7% do PIB, igual à média dos últimos quatro trimestres (18,5% do PIB), enquanto Chile, Colômbia,
Peru e México tiveram taxas médias de 22,5%, 22,7%, 22,8% e 25,2% do PIB, respectivamente.
Da mesma forma, não surpreende que, apesar de todo o interesse de empresas estrangeiras no Brasil, o país receba proporcionalmente menos investimento direto estrangeiro que os países do G-4: na média de 2005-11, 2,2% do PIB, contra 2,3% do PIB no México,
4,2% do PIB na Colômbia, 4,6% do PIB no Perue 7,3% do PIB no Chile.
Chile, Colômbia e Peru
têm ótimo desempenho econômico há mais de uma década.
O México não foi tão bem, mas muitos acreditam que possa repetir o crescimento do Brasil na década passada, com base na crescente competitividade, na recuperação americana e na expansão do crédito. O grande risco é que, enquanto o México vira o "novo Brasil", o reverso também ocorra:
o Brasil virar um México, um país política e economicamente estável, sem risco de grandes crises, mas que cresce pouco.
Armando Castelar Pinheiro é coordenador de Economia Aplicada do IBRE/FGV e professor do IE/UFRJ. Escreve mensalmente às sextas-feiras.
Essa surpresa levou a dois tipos de reação. A primeira foi questionar o trabalho do IBGE, a segunda culpar a crise internacional pelo fraco desempenho.
Ambas, a meu ver, deixam de lado o principal:se o nosso modelo econômico é adequado para os tempos de hoje.
Questionar os números do IBGE é válido e, até certo ponto, fácil. É válido porque naturalmente as metodologias das contas nacionais sempre podem ser aprimoradas. A crítica bem-intencionada também ajuda a manter o IBGE vigilante, o que é bom para a sociedade. Desde que, é claro, não constranja a autonomia técnica e operacional da instituição, como ocorre em nosso vizinho do sul.
É fácil porque as contas nacionais, aqui e em qualquer país, são obtidas com base em inúmeras aproximações e não por outra razão são revistas quando novas informações ficam disponíveis.
A atividade desacelerou por causas internas, por problemas no modelo, não devido a um choque externo.
Será, porém, que as questões levantadas mudam qualitativamente as conclusões? Minha impressão é que não:
se o PIB tivesse crescido o dobro (1,2%) no trimestre, a expansão em quatro trimestres teria sido de 1%, contra os 0,9% efetivamente observados.
Na mesma, apontaria para um crescimento medíocre em 2012. Esse fraco desempenho tem sido atribuído à crise internacional. Sem dúvida a crise ajudou a conter o investimento em setores como extrativa mineral, mas esse setorresponde por apenas 3,7% do PIB. A desaceleração chinesa também não explica a queda do crescimento:as exportações para a China correspondem a apenas 1,8% do PIB.
A China precisaria ter entrado em total colapso para causar a desaceleração observada no Brasil.
A conclusão é a mesma quando se compara o Brasil com outros países latino-americanos. Quero aqui me ater ao que considero hoje o G-4 da região:Chile, Colômbia, México e Peru,
os quatro signatários da Aliança do Pacífico, que juntos formam um Brasil: 209 milhões de habitantes e PIB de US$ 2 trilhões.
Na média do sexênio 2005/10, o crescimento brasileiro ficou em 4,3% ao ano, igual ao Chile, melhor do que o México (2%) e abaixo de Colômbia (4,6%)
e Peru (7,2%).
Já no biênio 2011/12, a expansão média brasileira (1,8% ao ano) deve ser uma fração da desses países (5,1%, 3,8%, 5,3% e 6,2%, respectivamente).
Como explicar que só no Brasil a crise derrubou o crescimento?
Há, portanto, um erro de diagnóstico:
a economia brasileira desacelerou por causas internas, por problemas no nosso modelo, não devido a um choque externo. Em especial, o Brasil vem adotando um modelo que, sem os radicalismos de Argentina e Venezuela, também se caracteriza pelo intervencionismo estatal, o fechamento da economia e a maior tolerância com a inflação.
Alguns indicadores ajudam a ilustrar: O Brasil tem uma carga tributária (35% do PIB em 2011) bem mais elevada que os países do G-4:
na Colômbia, cuja carga mais se aproxima do Brasil, essa é de apenas 23% do PIB. Na América Latina, apenas a Argentina rivaliza com o Brasil nesse indicador.
A economia brasileira é muito mais fechada ao comércio exterior: em 2011, a razão entre a soma de exportações e importações de bens e serviços não fatores e o PIB foi de 25% no Brasil, contra 37% na Colômbia,
52% no Peru, 65% no México e 78% no Chile.
Na média do quadriênio 2009/12, a inflação no Brasil deve ser de 5,4%, contra 4,2% no México, 3,3% na Colômbia, 2,9% no Peru e 2,3% no Chile.
Na edição deste ano do Doing Business, o Brasil aparece na 130ª colocação em termos de ambiente de negócios, entre 185 países, enquanto México, Colômbia, Peru e Chile ocupam, respectivamente, a 48ª, 45ª, 43ª e 37ª posições.
Não surpreende, assim, que o Brasil invista menos que os países do G-4: na média do período 2005-11, nossa taxa de investimento foi de apenas 18,7% do PIB, igual à média dos últimos quatro trimestres (18,5% do PIB), enquanto Chile, Colômbia,
Peru e México tiveram taxas médias de 22,5%, 22,7%, 22,8% e 25,2% do PIB, respectivamente.
Da mesma forma, não surpreende que, apesar de todo o interesse de empresas estrangeiras no Brasil, o país receba proporcionalmente menos investimento direto estrangeiro que os países do G-4: na média de 2005-11, 2,2% do PIB, contra 2,3% do PIB no México,
4,2% do PIB na Colômbia, 4,6% do PIB no Perue 7,3% do PIB no Chile.
Chile, Colômbia e Peru
têm ótimo desempenho econômico há mais de uma década.
O México não foi tão bem, mas muitos acreditam que possa repetir o crescimento do Brasil na década passada, com base na crescente competitividade, na recuperação americana e na expansão do crédito. O grande risco é que, enquanto o México vira o "novo Brasil", o reverso também ocorra:
o Brasil virar um México, um país política e economicamente estável, sem risco de grandes crises, mas que cresce pouco.
Armando Castelar Pinheiro é coordenador de Economia Aplicada do IBRE/FGV e professor do IE/UFRJ. Escreve mensalmente às sextas-feiras.
Valor Econômico
07 de dezembro de 2012
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