"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

PASSADOS 40 ANOS, O QUE FIZEMOS DE NOSSAS VIDAS?

 

Assisti, no início dos anos 80 (do século passado, vejam só!), a um filme chamado “St. Elmo’s Fire”, que foi exibido no Brasil com o título “O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas”. Creio ter sido esse um dos primeiros estrelados por Demi Moore.
Para quem não assistiu ou assistiu e se esqueceu, vai aí uma sinopse: trata-se de uma história de amizade entre colegas que acabam de sair da universidade, passam a enfrentar a vida como ela é e se perguntam se a amizade entre eles perdurará.



Lembrei-me dessa película ao rever, no último sábado, colegas da turma de direito da UFMG dos idos de 1972. Há 40 anos, passávamos pelas mesmas inquietações retratadas no filme. Nossa formatura marcaria o primeiro ano do resto de nossas vidas.
O que seria de nossas carreiras profissionais? Seríamos felizes? Nossas amizades subsistiriam? Os amores dos bancos escolares engatariam? Teríamos pela frente um Brasil melhor?

Não eram tempos fáceis aqueles. Na Vetusta Casa de Afonso Penna, ensinava-se um direito constitucional lastreado em uma Constituição semântica, sem qualquer força normativa, outorgada por três constituintes fardados; o que valia era a paz de cemitério do Ato Institucional nº 5.

A liberdade entrara em recesso, desde as agitações de 1968. Nas nossas festividades de graduação, no auge do governo Médici, não havia espaço para especulações sobre o que o destino tragicamente reservaria, alguns meses depois, para um dos mais brilhantes alunos que passaram por aquela escola, o ex-presidente do glorioso Centro Acadêmico Afonso Penna (Caap) José Carlos da Matta Machado. Que seu suplício não tenha sido em vão!

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SEM RESPOSTA

Passados 40 anos, quanta emoção rever pessoas com quem cruzávamos, despercebidamente, no dia a dia das aulas, dos trabalhos e das provas ou aquelas que, de um modo ou de outro, nos marcaram profundamente, por toda a vida. Todos tinham alguma história para relembrar.

Ou precisavam contar algo que não poderia ficar guardado por mais dez anos. Quanta emoção pensar nos que se foram! Na leitura dos seus nomes, um quê de Kurosawa perpassava as nossas mentes: “madadayo”, ainda não!

Alquebrados, é verdade, pelo tempo, crachás de identificação se fizeram necessários. A memória, é claro, já não é a mesma, mas, como num passe de mágica, demos o “passo retrocedido”, de que nos conta a canção de Violeta Parra, pelo simples prazer do reencontro.

Ali, a oportunidade tocante para que todos os presentes se perguntassem: o que fizemos de nossas vidas? Talvez, a resposta esteja naqueles versos dos Titãs: “Devia ter amado mais,/ chorado mais,/ ter visto o sol nascer./ Devia ter arriscado mais/ e até errado mais,/ ter feito o que eu queria fazer/ queria ter aceitado/ as pessoas como elas são./ Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração(…) devia ter complicado menos/ trabalhado menos”…

Querem saber, mesmo? Pouco importa a resposta. Fico com Paulo Sérgio Pinheiro e Eduardo Gudin: o importante é que a nossa emoção sobreviva.

07 de dezembro de 2012
Sandra Starling
(Transcrito do jornal O Tempo)

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