Niemeyer no Museu de Niterói
Foi um gênio, sob todos os aspectos. Um transformador do concreto, sempre à procura da criação do novo, do que tornava eterno o que produzia. Com apoio de Juscelino, partiu do projeto da Pampulha, na capital mineira, e daí para Brasília.
Lagos entre os concretos das duas cidades. Na segunda, quando traçou as linhas exaltadas por André Malraux, quando o ministro da Cultura de De Gaulle desembarcou em nosso país chamou a cidade de capital da esperança.
Uma nova etapa surgia com os traços de Niemeyer apontando para o futuro. Esta foi a expressão usada pelo intelectual que percebeu o arrojo e a qualidade do artista buscando o futuro, tentando o porvir.
E foi assim, de passo a passo, que Niemeyer lançou-se ao futuro, não sem antes projetar o Sambódromo, o Museu de Niterói e a própria concepção de viver. Em linhas esteticamente livres.
Ninguém como ele uniu a arte à técnica, a ruptura estética com a existência humana. Um ateu, mas cuja obra na Catedral de Brasília são traços que simbolizam mãos erguidas para o céu em oração.
Ele humanizou o planalto central, uma cidade cuja previsão era em 1960, para 500 mil habitantes no ano 2000. Essa previsão não se confirmou. Foi várias vezes ultrapassada. No prazo inicial o país chegou ao final do século e do milênio com uma população de mais de 2 milhões de pessoas.
Equívocos dessa ordem servem para acentuar a força dos projetos em si. Não fora Brasília, como se viveria em centros como o Rio de Janeiro e São Paulo. As favelas e os cortiços seriam ainda mais numerosos do que são. O efeito demográfico tem que ser considerado. Afinal as obras destinam-se aos seres humanos.
Oscar Niemeyer legitimou suas obras e legitimou o país, os governos, legitimando-se a si próprio e a sua arte, tanto quanto a sua técnica. No momento em que viaja para a eternidade, eternizando todas as suas realizações, mais ele acrescentará a seu vulto que imortalizou com suas concepções, com suas ideias, consigo próprio.
Ficará para sempre como um dos grandes nomes da cultura brasileira e universal. Nunca será esquecido como , e será lembrado como tendo consigo a força da renovação. E também quanta economia proporcionaram seus traços nos empreendimentos do passado recente, do presente e vão proporcionar no futuro?
Não quero dizer que seja copiado, isso seria simples demais para a complexidade de sua obra. Sustento somente que seus traços marcantes inspiraram e inspiram arquitetos no mundo inteiro. Onde tais obras estiverem, além do gênio diretamente, está a sua sombra inspiradora produzindo autores, os quais a partir de sua concepção tornam possíveis etapas que sem ele, Niemeyer, não poderiam ser realizadas e concluídas.
Por isso nada mais oportuno no momento em que atravessa a fronteira entre a existência e a eternidade, do que se criar um museu com seu nome, cujo destino é ser tão eterno quanto ele. Jamais será esquecido. Obra e arte se encontram na eternidade. Isso é tudo para o arquiteto e o artista.
07 de dezembro de 2012
Pedro do Coutto
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