A coluna dominical de Elio Gaspari (Folha de S.Paulo e O Globo) é uma referência no jornalismo – bem informada, pesquisada, uma pauta às vezes indignada, outras espirituosa, sempre instigadora. A verve e o antigo cosmopolitismo carioca, a serviço dos porteiros das redações do país que sequer leem o que sai no seu jornal.
Nos últimos dois domingos (30/12 e 6/1) a coluna tratou de uma fazenda-orfanato no interior de São Paulo, pertencente ao aristocrático clã dos Rocha Miranda e convertida num centro de formação nazista. Tudo começou em 1933, ano em que Hitler tomou o poder e os integralistas brasileiros preparavam-se para imitá-lo. A fonte da matéria é a próxima edição da excelente Revista de História,da Biblioteca Nacional, que circulará nestes dias com um enorme dossiê sobre os flertes da direita brasileira com o nazifascismo.
Na primeira nota, uma ferroada bem aplicada: “O porão dos órfãos numa fazenda chique”. Na segunda, uma errata bem-intencionada porém enganosa (“Injustiça”).
Para não esquecer
Quem chamou a atenção para o episódio, em junho de 2009, foi o semanário alemão Der Spiegel – em reportagem de doze páginas do seu correspondente no Rio, Jens Glusing, e fotos de Thomas Milz (baseado em São Paulo).
Naquele momento, o programa Observatório da Imprensa da TV Brasil preparava uma série para lembrar os 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial. A repórter-editora Lilia Diniz foi até Campina de Monte Alegre (a 250 km da capital paulista), entrevistou um dos sobreviventes então com 85 anos, mostrou os tijolos com a suástica e contou a história inteira. Foi ao ar no terceiro episódio da série, “O Brasil na guerra”, em novembro de 2009.
Pouco importa que o casal Malu e Celso da Rocha Miranda, figuras de proa do antigo jet-set carioca, nada tivessem a ver com aquela maluquice caboclo-fascista (aparentemente a iniciativa foi do parente, Luis Rocha Miranda). Importa lembrar que a alta burguesia brasileira, parte da elite urbana e interiorana, intelectuais ingênuos, muitos militares e toda a hierarquia católica tenham se fascinado com as figuras e ideologias de Hitler, Mussolini e do seu ignóbil escudeiro, Plínio Salgado.
Aquele momento da nossa história não pode ser esquecido. Esta deve ter sido a intenção inicial de Elio Gaspari, é também a intenção deste observador ao fazer reparos ao seu trabalho.
11 de janeiro de 2013
Alberto Dines
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