"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

TRÊS NOTAS DE CARLOS BRICKMANN

Os mais iguais


O julgamento dos réus do Mensalão, no Supremo Tribunal Federal, foi integralmente transmitido pela televisão. O julgamento do casal Nardoni, alvo de intensa comoção popular, foi amplamente coberto por rádio, TV, jornais, revistas, Internet.

Já o caso de Rosemary Noronha, que foi chefe de Gabinete da Presidência da República em São Paulo, apanhada na Operação Porto Seguro da Polícia Federal e sobre quem há suspeitas de muitas irregularidades, está protegida da imprensa.
Os repórteres fotográficos não podem registrar imagens no Fórum Criminal Federal de São Paulo sem prévia autorização. Rose fez o pedido alegando estar “com trauma” da exposição que sofreu desde que seu caso foi divulgado.

Este colunista entende a posição de Rosemary Póvoa de Noronha: também detestaria estar na posição dela, também estaria com trauma da exposição. Só que na hora do bem-bom Rose não imaginou as consequências; ou imaginou que, ocupando uma área estratégica, estaria livre desse tipo de constrangimento.

O fato é que nem gente poderosa, ligada ao Governo, como a Turma do Mensalão, foi tratada com tanta gentileza quanto Rose. Por que será ela mais igual que os outros?

Ô, gente chata!

Está cada vez mais difícil ter paciência para acompanhar opiniões de consumidores de informação sobre o noticiário divulgado pelos veículos. Desde que a tropa do cheque tomou a vanguarda dos comentários, tudo ficou previsível e chato.

O Delúbio Soares só não será canonizado porque o papa está sendo influenciado pela imprensa direitista e pelo pessoal da zelite, o Supremo (em que os ministros, menos um, foram escolhidos por presidentes da República hoje unidos em torno do Governo petista) virou “tribunal de exceção” porque se atreveu a condenar mensaleiros, uzianque lutam bravamente, a golpes de manchetes, para sabotar o tratamento do cumpañero Hugo Chávez.

Um jornalista chegou a escrever um “Eu acuso”, garantindo que os ministros do Supremo não levaram em conta as provas do processo ─ como se ele tivesse lido as 50 mil páginas, como se, mesmo que as tivesse lido, chegasse a entendê-las.
Parece que a base do besteirol foi o J’Accuse, de Emile Zola. Mas a falta de talento fez com que nem o plágio tivesse condições de funcionar.

Não, não é exclusividade de petistas e assemelhados. Após o episódio Rosemary, passaram a circular na Internet dezenas de informações sem base sobre irregularidades financeiras que atribuem ao ex-presidente Lula.
Até agora, nenhuma informação concreta ─ mas os jornalistas são bombardeados o dia inteiro com e-mails e telefonemas de gente indignada porque não publicam “a verdade”. E por que é “a verdade”? Porque acreditam nela, uai!
É como a tal reportagem atribuída à Forbes segundo a qual Lula teria uma das maiores fortunas do mundo ─ uma reportagem que, a propósito, a Forbes jamais publicou. Até as capas que saíram na Internet eram falsas.

Mas um bom exemplo dos atuais dodóis é uma pesquisa do Ibope que mostra que o número de eleitores que não segue partido algum é hoje a maioria no país, com 56%. Há alguns números interessantes na pesquisa: por exemplo, este número de eleitores sem fidelidade a partidos sempre oscilou perto dos 40%, e passou a subir por volta de 2010.

Outro número mostra a queda de eleitores fiéis ao PMDB, que chegou a 25% durante a Constituinte (que durou até 1988) e, de lá para cá, veio caindo até chegar a algo como 5%. O PSDB, ao vencer no primeiro turno, com Fernando Henrique, as eleições presidenciais de 1994, tinha 10%.
 Hoje está na faixa dos 5%.
E o PT, que continua sendo o maior partido do país, chegou a 33% em 2002, com a eleição de Lula, manteve este número até 2010, e hoje caiu para 24%.

E daí? Daí que a Turma do Dodói reclama que a matéria tinha de ter como abertura a posição predominante do PT, como maior partido do país, e como o lead não foi este os jornais não são sérios.
A posição predominante do PT poderia ser o lead; a queda de todos os partidos, inclusive do PT, poderia ser o lead; o PMDB imenso no Congresso e nas Prefeituras, mas mínimo no eleitorado, poderia ser o lead. A pouca substância do PSDB no eleitorado poderia ser o lead. E a ascensão do apartidarismo entre os eleitores é também um excelente lead.

O duro é aguentar os chatos. E entender como é que gente se dispõe a perder tempo procurando erros de digitação para interpretá-los como malignas tentativas de prejudicar seus chatos partidos.

O historiador best-seller

Muitos o conhecem como Peninha ─ uma alusão ao personagem de Walt Disney. Muito mais gente o conhece como Eduardo Bueno, o historiador que cansou de vender livros ─ e vendê-los ao público, não a Governos ─ sobre a História do Brasil.
Pois está saindo um novo-velho livro de Eduardo Bueno: uma versão compacta de Brasil, uma História, um apanhado deste país de 1500 até agora.

Não é um tratado erudito para especialistas: é um livro para leitores não especializados, que querem conhecer a História brasileira sem mergulhar em documentos nem na linguagem dos séculos anteriores. Já nas livrarias.

31 de janeiro de 2013
CARLOS BRICKMANN

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