Jorge Viana (PT-AC) enviou uma carta padrão para os 80 demais senadores pedindo o voto deles para se eleger vice-presidente do Senado nesta sexta-feira.
Renan Calheiros (PMDB-AL) nem se deu a esse trabalho. Sem ter dito uma única vez de público até hoje que é candidato, se elegerá com folga presidente do Senado.
E pela segunda vez. Da primeira não chegou a completar os dois anos de mandato. Renunciou para não ser cassado por quebra de decoro. Tremenda quebra!
O lobista de uma empreiteira pagava a pensão da jornalista mãe de uma filha que Renan teve fora do seu casamento. Renan alegou que era pecuarista.
Sua fortuna em gado bastaria para pagar o valor de qualquer pensão. A Polícia Federal descobriu que ele mentiu. Foi denunciado pelo Procurador Geral da República.
“A denúncia que apresentei contra ele é muito consistente”, garantiu o Procurador. Caberá ao Supremo Tribunal Federal acatá-la ou não.
Renan assumirá a presidência do Senado na condição de denunciado por corrupção. Se a denúncia for acatada, presidirá o Senado na condição de processado por corrupção.
A desmoralização do Senado estará completa caso Renan acabe condenado. Ele perderá então a presidência, o mandato de senador, os direitos políticos e talvez a liberdade.
O PMDB é dono da maior bancada de senadores. E também da maior bancada de deputados federais. Daí porque indicará os presidentes do Senado e da Câmara.
É o que manda o regimento interno das duas Casas. Mas nada tem a ver com o regimento o fato de o PMDB indicar políticos suspeitos para o comando do Congresso.
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) espera colher na próxima segunda-feira uma vitória acachapante para presidente da Câmara. E não importa o apuro em que se meteu.
Um assessor de Henrique era dono da empresa que construía obras para prefeituras do Rio Grande do Norte com dinheiro federal obtido por... Henrique, naturalmente.
O assessor era também tesoureiro do PMDB no Estado. Notas fiscais frias permitiram a Henrique obter da Câmara o ressarcimento de despesas.
Seria mais do que razoável que o PMDB apontasse outros nomes para as presidências do Senado e da Câmara.
Como não o fez, esperava-se que os demais partidos se recusassem a votar em Renan e em Henrique dado que se preocupam com a reputação do Congresso.
Mas quem disse que se preocupam? Quem disse que no lugar do PMDB procederiam de maneira diferente?
Argumentam que as vagas pertencem ao PMDB. É problema dele.
Cinismo puro!
Há tragédias que atraem a atenção coletiva e doem fundo, muito fundo. Santa Maria é um exemplo.
Há outras que quase passam despercebidas e parecem indolores. As eleições no Congresso são um exemplo.
Apesar de diferenças tão expressivas, ambas são tragédias.
31 de janeiro de 2013
ricardo noblat
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