O Smithsonian Conservation Biology Institute em associação com o Fish and Wildlife Service, orgão federal que, nos Estados Unidos, reúne as atribuições divididas no Brasil entre o Ministério do Meio Ambiente e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) acaba de publicar no Nature Communications Journal um estudo nacional que conclui que os gatos domésticos “são, isoladamente, a maior ameaça contra a fauna nativa e a biodiversidade nos Estados Unidos, responsáveis pela eliminação, anualmente, de 2,4 bilhões de aves e 12,3 bilhões de pequenos mamíferos nativos”, aí incluídos de coelhos para baixo na escala de tamanhos.
O estudo consistiu em reunir e consolidar todas as pesquisas de campo sobre o tema feitas por universidades e outras instituições reconhecidamente abalizadas, eliminar aquelas em que a amostra era muito pequena ou os resultados encontrados muito extremos e projetar o resultado para uma escala nacional, segundo cada tipo de ambiente pesquisado.
Desse escrutínio sobraram 21 estudos considerados os mais rigorosos já feitos no país.
Se a conclusão final não contrariou aquilo que já se sabia de modo genérico, os números finais surpreenderam os pesquisadores.
“Chegamos a números entre duas e quatro vezes maiores que os que se imaginava antes deste estudo. Os gatos domésticos são a maior entre todas as ameaças à vida selvagem direta ou indiretamente relacionadas à ocupação humana nos Estados Unidos. Mais aves e mamíferos morrem nos dentes dos gatos do que a soma dos que são vítimas de atropelamentos, dos venenos e pesticidas, das colisões com arranha-céus e usinas eólicas ou de qualquer outro fator antropogênico”.
Alguns dos detalhes importantes destacados da pesquisa incluem os seguintes:
- os mascotes morando com seus donos com acesso a jardins ou áreas maiores matam 29% das aves (696 milhões) e 11% dos mamíferos e outras espécies (1 bilhão 353 milhões) nativas abatidas por ano por gatos em todo o país;
- o restante das aves e animais abatidos são capturados por gatos domésticos “alongados”, ou seja, soltos ou escapados que se reproduzem na natureza e tornam-se semi-selvagens;
- esses gatos “alongados” ficam na categoria que os americanos classificam como “predadores subsidiados”, que são aqueles mais tolerados pelos humanos, vivem nas proximidades deles sem ser ameaçados e podem se garantir com as sobras que eles descartam; “tais espécies se estabelecem e proliferam muito mais facilmente que um coiote, por exemplo, que tem que contar exclusivamente com a natureza para sobreviver e, ainda assim, suficientemente longe dos homens”;
- calcula-se que existam pelo menos 80 milhões de gatos “alongados” ou simplesmente gatos sem dono vagando pelas matas e cidades dos Estados Unidos;
- mesmo os gatos domésticos bem alimentados não diminuem sua agressividade; um estudo da Universidade da Geórgia que instalou câmeras no pescoço desses animais e os monitorou 24 horas por dia mostrou que “qualquer bater de asas ou frêmito de outro animal desencadeia automaticamente o seu mecanismo de ataque que, em geral, é mortífero”;
- essas câmeras confirmam que passarinhos, batráquios, roedores de todas as espécies do tamanho de um gato para baixo e até coelhos são suas presas habituais; esses gatos atacam e põe para correr até cachorros muito maiores que eles.
Na verdade, não é necessário que seja um ser vivo. O proverbial novelo de lã agitado nervosamente pelo chão, como todo mundo sabe, desencadeia o bote de um gato.
E não se trata apenas de “uma brincadeira” como tendem a pensar os urbanoides que perderam todo contato com a natureza e “humanizam” os comportamentos animais. Aquilo é uma manifestação do instinto e da natureza para sempre indomesticável dos gatos.
A população deste e de outros predadores invasivos está crescendo globalmente enquanto a população de aves e outras espécies nativas está em declínio visível, razão pela qual George H. Fenwick, presidente da American Bird Conservancy festejou a publicação dos resultados deste estudo como “um grande passo à frente” para conscientizar populações que têm sido induzidas pela mídia, pelas escolas e por organizações ideológicas militantes a pensar que resgatar gatos de rua ou reintroduzir na natureza gatos “alongados” presos em armadilhas em zonas semi rurais onde estejam provocado grandes prejuízos é a coisa certa a fazer “pelo bem da natureza”.
O artigo original de onde saiu este post foi publicado no New York Times, está neste link e foi-me indicado por Katia Zero
31 de janeiro de 2013
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