"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

HENRIQUE ALVES É ELEITO PRESIDENTE DA CÂMARA COM 271 VOTOS LULISTAS

Peemedebista era favorito para presidir a Casa no biênio 2013-2014. Sessão para eleição na Câmara começou com homenagem às vítimas de Santa Maria

Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) é o favorito para a presidência da Câmara
Foto: Ailton de Freitas / O GloboHenrique Eduardo Alves (PMDB-RN) é o favorito para a presidência da CâmaraAilton de Freitas / O Globo

O deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) foi eleito nesta segunda-feira presidente da Câmara para o biênio 2013-2014 por 271 votos contra 165 de Júlio Delgado (PSB-MG), seu principal adversário.
A candidata avulsa do PMDB, Rose de Freitas (ES), recebeu 47 votos, seguida de Chico Alencar (PSOL-RJ), com 11 votos.
Foram registrados três votos em branco. A vitória do peemedebista representa a hegemonia do partido no Congresso, agora no comando das duas casas do Legislativo.
Antes da eleição para presidência da Câmara um dossiê apócrifo contra o favorito na disputa foi recebeido pelos deputados. Com uma foto do parlamentar, o documento tinha na capa a frase:
"Candidato condenado no Rio Grande do Norte, com direitos políticos cassados e responde a vários processos".
Há cópias da decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte e cópias de reportagens com denúncias envolvendo o deputado.

- Isso é coisa de quem não tem voto - disse Henrique.

Desde a madrugada, os gabinetes dos deputados foram inundados com o dossiê contra Henrique Alves. Ele pediu à segurança da Casa que investigue quem distribuiu o documento apócrifo, com mais de 30 páginas.

Para garantir a vitória já em primeiro turno, o peemedebista passou as últimas horas prometendo a eleitores cargos de comando e funções em comissões especiais, além de se manter em articulação com os dirigentes do seu partido, em especial o vice-presidente Michel Temer. A despeito da existência de três outros candidatos, o PMDB estima que Henrique terá cerca de 300 votos. Os mais otimistas falavam em 340.

A primeira sessão da Câmara começou com uma homenagem às vítimas da tragédia ocorrida em Santa Maria (RS). Os nomes das vítimas foram apresentados no painel eletrônico do Plenário da Câmara e, depois, um texto foi lido pela deputada Cida Borghetti (PP-PR). O presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), explicou que a eleição do seu sucessor será feita por meio de urna eletrônica, cujo resultado poderá ser acompanhado pelos deputados por meio dos novos tablets instalados no Plenário.

Se Henrique Alves for eleito, pela primeira vez em muitos anos o PMDB estará no comando das duas casas do Legislativo.
Na sexta-feira, Renan Calheiros foi escolhido novo presidente do Senado. Do outro lado, a expectativa é outra: a de que Henrique Alves não alcançará votos para se eleger no primeiro turno — 257 se os 513 deputados estiverem presentes.

Disputam com ele os candidatos do PSB, Júlio Delgado (MG); do PSOL, Chico Alencar (RJ); e a candidata avulsa do PMDB, Rose de Freitas (ES). Como contraponto à atuação de Temer, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, operou nos bastidores para tentar ampliar os votos de Delgado, buscando apoios no PSDB e no PSD de Gilberto Kassab.

Para aumentar o favoritismo e evitar novas candidaturas, Henrique Alves fez promessas variadas. A Inocêncio Oliveira (PR-PE), que estava sendo estimulado a ser candidato, ofereceu a presidência do Centro de Estudos e Debates da Câmara. Em outra frente, abriu mão de outro cargo que o PMDB teria na Mesa Diretora e deu ao PSC, com 16 deputados, uma das suplências.

Henrique Eduardo Alves criticou em seu discurso a imprensa e os que tentam prejudicar a sua eleição com denúncias envolvendo seu nome, em discurso antes do início da votação. Henrique Alves disse que as acusações “são labaredas” que não resistem à vida pública que construiu nos últimos 42 anos e disse que se apresenta aos deputados como candidato com honra e altivez.

Rose de Freitas (ES), candidata independente do PMDB, disse que não traiu o partido ao lançar seu nome e que não houve reunião oficial da sigla para lançar o candidato Henrique Eduardo Alves. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) fez um duro discurso contra o desgaste do Poder Legislativo junto à opinião pública, e o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) também atacou as atuais práticas

Despedida de Marco Maia

No discurso de despedida da presidência da Câmara, Maia defendeu o trabalho do Legislativo e atacou a imprensa e setores da sociedade que “questionam a importância do trabalho legislativo”. Segundo ele, a maior fonte de expressão da sociedade não está nos jornais e sim representada pelos parlamentares. No final, também atacou “as interferências de outros Poderes” sobre o Legislativo. Segundo ele, há preocupação sobre interferências do Judiciário sobre o Congresso. Em uma referência aos debates que ocorreram durante o julgamento do mensalão, sobre a cassação de deputados condenados a partir da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Maia afirmou haver interpretação “circunstancial” das leis.

- Defendemos as prerrogativas constitucionais contra as ameaças de interferências de outros Poderes. Tenho preocupação das interpretações circunstanciais de nossa legislação pelo Judiciário, que tem se arriscado à interpretações que só ao Legislativo cabe.

Maia ainda prestou homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Campanha do PMDB

Nesta segunda-feira, na reta final da campanha, o candidato oficial do PMDB, percorreu lideranças dos partidos e gabinetes para reforçar o pedido de votos. Henrique está acompanhado de vários candidatos indicados oficialmente pelas legendas que também dependem dos votos dos deputados para se eleger. Além da disputa pela presidência que tem quatro concorrentes, duas outras vagas terão disputa em plenário, com candidatos avulsos: a segunda vice-presidência, com dois candidatos do PSD no páreo, e a segunda secretaria, disputada por três candidatos do PP.

A última liderança que Henrique fez questão de percorrer antes de se dirigir ao plenário, onde já foi aberta a sessão, foi a do PSDB. O candidato do PMDB agradeceu o apoio que recebeu da legenda, reforçou a importância de votar respeitando a proporcionalidade e frisou que não estava lá para pedir aos tucanos que traíssem a orientação partidária. Henrique conseguiu o apoio oficial de 20 legendas para sua eleição. Mas a eleição é secreta e os outros candidatos contam com a possibilidade de deputados não seguirem a orientação partidária.

- Não venho aqui pedir para trair, para que não cumpram a palavra de sua bancada, pedir que desonrem a palavra. O que venho pedir é um voto ético, da coerência, é o voto da lealdade, do compromisso. Essa é a prática que vou exercitar aqui. Aos adversários (os ataques feitos) vou responder depois da abertura das urnas. Quem tem 42 anos nessa Casa, 11 mandatos como deputado federal, sabe perfeitamente seus deveres e direitos - disse Henrique Alves.

No PSDB, Henrique Alves ouviu a cobrança pela votação dos mais de três mil vetos que estão na pauta do Congresso Nacional antes da votação do Orçamento da União de 2013.

04 de fevereiro de 2013
Cristiane Jungblut e Isabel Braga - O Globo

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