O deputado, em si mesmo, vale por um gênero inteiro: o dos profissionais que se mantêm nos galhos mais altos da vida pública, geração após geração, servindo-se da pobreza, da ignorância e dos vícios sociais que envenenam o Brasil desde os tempos do imperador.
Nas vésperas da eleição, coerente com seus hábitos de vida, estava outra vez metido em confusão „Ÿ agora, numa miserável embrulhada com dinheiro público, seu principal assessor e uma empreiteira de obras, que ficará na crônica como o caso do bode “Galeguinho”. Chega? Chega. Não há mais nada a dizer, realmente, sobre esse novo gigante da classe trabalhadora. Em compensação, há muito a dizer sobre o PT.
O partido fundado pelo ex-presidente Lula foi uma nova força na política brasileira de trinta anos atrás. Talvez houvesse aí, pela primeira vez, um alerta para os aproveitadores, demagogos e senhores de engenho, rurais ou urbanos, que sempre exploraram o Brasil como um negócio pessoal e jamais admitem mudança alguma para melhor. A esperança durou pouco.
Começou a se desmanchar quando o PT ganhou suas primeiras prefeituras e descobriu algo chamado Erário. Vinte anos depois, quando o partido chegou enfim à Presidência da República, já tinha ido tudo para o diabo.
Antes mesmo de tomar posse em 2003 o presidente operário e sua tropa casaram no civil e no religioso com o tipo de gente que mais combatiam. O objetivo seria amansar os inimigos. O resultado prático é que acabaram ficando iguais a eles.
Os petistas mais espertos, e são muitos, descobriram com grande rapidez as oportunidades pessoais oferecidas pelo Brasil velho que prometiam mudar. Desde então, não pararam mais de caçar empregos e vantagens para si próprios e seus familiares. Gente com mais ambição farejou logo a grande mina dos conselhos de estatais e fundos de pensão controlados pelo governo „Ÿ rolam bilhões aí.
Aprenderam a traficar com licenças para emissoras de rádio e TV, montar ONGs que recebem dinheiro do Tesouro e fechar excelentes negócios no mercado de “prestação de serviços”; é todo um mundo de empresas que pertencem a esposas ou maridos, ex-esposas ou ex-maridos, amigos dos amigos e por aí afora, empenhadas dia e noite em vender alguma coisa para o governo.
A mistura entre negócios privados e canetas públicas tornou-se procedimento-padrão. Um filho do próprio Lula recebeu 5 milhões de reais de uma empresa interessada em realizar negócios que dependiam da assinatura de seu pai, em troca de ações na sua companhia de videogames „Ÿ que jamais mostrou resultado algum capaz de justificar um investimento desse tamanho. (As últimas notícias dizem que está à beira da falência, devendo mais de 6 milhões de reais na praça.)
Hoje o PT é apenas o partido do homem-cueca, dos bebês de Rosemary e do bode “Galeguinho”. Virou o beneficiário número 1 das doações feitas pelas empreiteiras de obras. Em todos os escândalos de corrupção dos últimos dez anos, assumiu automaticamente a defesa dos acusados. Está 100% ao lado de “Henriquinho”, Fernando Collor e Paulo Maluf.
Ficará marcado para sempre pela concordata moral do mensalão, que se tornou um ponto central na biografia de Lula e despedaçou a reputação de José Genoino, um dos últimos símbolos do PT que existiu um dia „Ÿ e que hoje é deputado com uma sentença de prisão nas costas. Ninguém falou mais claro sobre esse mergulho na decadência do que o ex-governador gaúcho e petista de raiz Olívio Dutra.
“Eu acho que tu deverias pensar na tua biografia, na trajetória que tens dentro do partido”, recomendou ele a Genoino. “Eu acho que tu deverias renunciar.” Nada que a “direita” disse, em anos de ataque ao PT, foi tão arrasador.
O que se ouviu, aí, foi a voz da consciência. O PT valeu enquanto foi jovem; hoje é um caso perdido. Como nos mostra o personagem Chance Wayne, de Tennessee Williams, em geral não vale a pena fazer viagens para reencontrar o doce pássaro da juventude. É pouco provável que esteja onde o procuramos — e talvez seja melhor não encontrar o que sobrou dele.
04 de fevereiro de 2013
J.R. Guzzo - Veja
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