O Brasil tem conseguido construir usinas geradoras de energia elétrica a custos mais baixos. A evolução tecnológica vem propiciando equipamentos mais eficientes, e o incremento nos investimentos permitiu que se aprimorassem as técnicas de construção.
Além disso, houve uma significativa redução nos juros e encargos dos financiamentos concedidos aos empreendedores.
Mas, ainda assim, mesmo com essa redução, a tendência é que a médio e longo prazos o custo total da energia elétrica para os consumidores encareça. E a razão é que os novos aproveitamentos hídricos ficam em sua maioria distantes dos centros consumidores. É preciso então transportar a energia por largas distâncias, o que obriga o setor a investir em alternativas para reduzir sua vulnerabilidade, para que o país não seja submetido a apagões rotineiros (como, aliás, tem acontecido, exatamente por não existirem hoje alternativas suficientes, para se evitar custos adicionais).
Como a matriz elétrica brasileira é essencialmente de base hídrica, é preciso constituir uma reserva não dependente dos humores de São Pedro, até porque restrições ambientais impedem que novas hidrelétricas sejam construídas com reservatórios que acumulem água para os anos seguintes.
Essa reserva deve ser constituída por usinas térmicas convencionais (que queimam gás natural, carvão, óleo combustível ou diesel) e nucleares, sendo que em relação a essas últimas há um ambiente político desfavorável.
Usinas térmicas são remuneradas mesmo quando não estão sendo acionadas, pois é necessário pagar pelo investimento feito para construí-las. Tal reserva, portanto, significa mais custos para o setor elétrico como um todo, que pode ser maior ou menor, a depender da disponibilidade de água nas hidrelétricas.
O país tem investido também em outras fontes renováveis para geração de energia elétrica. Mas são complementares. As usinas eólicas nem sempre funcionam durante todo o dia, e sua contribuição depende das condições do vento. Dessa forma, funcionam como complemento, e não como base de sustentação do sistema.
Além disso, seriam necessárias mais de cinco mil usinas eólicas para se obter o mesmo resultado, em energia firme gerada, por exemplo, por uma central nuclear como Angra 2.
Usinas de biomassa também dependem da oferta de matéria-prima, que pode ser bagaço de cana e resíduos da produção agroindustrial. Em períodos de entressafra, muitas não têm condições de funcionar.
Usinas que aproveitam energia solar são uma boa promessa para o futuro, mas ainda estão um pouco distantes desse estágio.
Portanto, trata-se de uma questão muito complexa. O Brasil não pode prescindir de nenhuma dessas fontes geradoras. E tanto melhor se pudesse voltar a construir hidrelétricas com reservatórios de acumulação de água.
Por pura racionalidade.
04 de fevereiro de 2013
Editorial d'O Globo
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