A crise do apagão de energia em 2001 foi atribuída à predominância da fonte hídrica na matriz elétrica. Onze anos depois, nos vemos novamente às voltas com a ameaça de racionamento. A justificativa se recicla, colocando-se a culpa na ausência de grandes reservatórios. Pelo menos desta vez, o secretário de Planejamento Energético do Ministério das Minas e Energia, Altino Ventura, admite que a tendência recente de construir hidrelétricas sem reservatórios veio menos por pressões de grupos ambientalistas do que pela dificuldade técnica de alagar enormes áreas para compensar a baixa queda d’água dos rios da região Norte.
É por isso que, antes da discussão sobre o resgate dos grandes reservatórios, cabe discutir os problemas de transmissão e distribuição. Há usinas eólicas aptas a suprir a demanda de Salvador que não estão conectadas ao sistema, devido a atrasos na entrega das linhas de distribuição. As falhas do sistema se refletem em um acúmulo considerável de horas no escuro. No ano passado, somando todos os “apaguinhos”, o país perdeu um dia inteiro de energia.
A vergonha maior é que os problemas do sistema de distribuição ameaçam o fornecimento de luz para a Copa do Mundo de 2014. Relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica afirma que, em dez das 12 cidades que sediarão os jogos da Copa, as obras das linhas de transmissão e modernização de subestações de energia estão atrasadas.
O governo não encara a decisão de descentralizar a matriz elétrica, proporcionando mais espaço às fontes renováveis, como biomassa e solar, que poderiam ser utilizadas para aplacar o déficit energético. É incompreensível negligenciar uma fonte como a solar, que seria capaz de atender a toda a demanda do Rio de Janeiro utilizando apenas 5% da área urbanizada do estado. Para efeito de comparação, a Alemanha, que não é exatamente conhecida pelos dias ensolarados, acaba de atingir a marca de 8 milhões de residências com sistemas fotovoltaicos instalados.
O Plano Decenal de Energia menospreza a energia solar e fixa metas irrisórias de eficiência energética — a opção mais imediata para minimizar os efeitos de períodos de menor oferta de energia. Estudo da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia afirma que 10% dos 430 TWh consumidos no país a cada ano são desperdiçados, volume superior ao consumo de energia de toda a população do Estado do Rio, que alcança 36 TWh. Isso representa aproximadamente R$ 15 bilhões jogados fora anualmente.
Em suma, a complexidade do debate exige mais sofisticação e argumentos técnicos que não levem novamente a análises incorretas dos reais desafios energéticos do Brasil, reciclando desculpas velhas que servem apenas para culpar os mesmos suspeitos de sempre.
04 de fevereiro de 2013
Sérgio Leitão e Ricardo Baitelo são integrantes do Greenpeace Brasil
É por isso que, antes da discussão sobre o resgate dos grandes reservatórios, cabe discutir os problemas de transmissão e distribuição. Há usinas eólicas aptas a suprir a demanda de Salvador que não estão conectadas ao sistema, devido a atrasos na entrega das linhas de distribuição. As falhas do sistema se refletem em um acúmulo considerável de horas no escuro. No ano passado, somando todos os “apaguinhos”, o país perdeu um dia inteiro de energia.
A vergonha maior é que os problemas do sistema de distribuição ameaçam o fornecimento de luz para a Copa do Mundo de 2014. Relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica afirma que, em dez das 12 cidades que sediarão os jogos da Copa, as obras das linhas de transmissão e modernização de subestações de energia estão atrasadas.
O governo não encara a decisão de descentralizar a matriz elétrica, proporcionando mais espaço às fontes renováveis, como biomassa e solar, que poderiam ser utilizadas para aplacar o déficit energético. É incompreensível negligenciar uma fonte como a solar, que seria capaz de atender a toda a demanda do Rio de Janeiro utilizando apenas 5% da área urbanizada do estado. Para efeito de comparação, a Alemanha, que não é exatamente conhecida pelos dias ensolarados, acaba de atingir a marca de 8 milhões de residências com sistemas fotovoltaicos instalados.
O Plano Decenal de Energia menospreza a energia solar e fixa metas irrisórias de eficiência energética — a opção mais imediata para minimizar os efeitos de períodos de menor oferta de energia. Estudo da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia afirma que 10% dos 430 TWh consumidos no país a cada ano são desperdiçados, volume superior ao consumo de energia de toda a população do Estado do Rio, que alcança 36 TWh. Isso representa aproximadamente R$ 15 bilhões jogados fora anualmente.
Em suma, a complexidade do debate exige mais sofisticação e argumentos técnicos que não levem novamente a análises incorretas dos reais desafios energéticos do Brasil, reciclando desculpas velhas que servem apenas para culpar os mesmos suspeitos de sempre.
04 de fevereiro de 2013
Sérgio Leitão e Ricardo Baitelo são integrantes do Greenpeace Brasil
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