Verdades e mentiras sobre o Golpe de 1964, a Ditadura Militar e a postura dos evangélicos à época
TEXTO LONGO, MAS VALE A PENA
Visão
pamarcha de março de 1964 em São Paulo contra as medidas pró-comunismo
do governo Jango, e que reuniu cerca de 600 mil pessoas
Em
2009, o Golpe de 1964 completou 45 anos. Como era de se esperar, várias
manifestações na mídia impressa, televisiva e virtual marcaram a data. Nem
todas, porém, justas. Alguns equívocos muito comuns foram repetidos. Por
exemplo, as afirmações de que o Golpe de 1964 veio para instaurar uma ditadura
no Brasil (quando, na verdade, a Ditadura Militar foi um desvio da proposta do
movimento de 1964 e que só ocorreu um ano depois da deposição de Jango); que a
deposição de Jango foi "uma tremenda injustiça"; e que os Estados Unidos
idealizaram e patrocinaram o Golpe. Essas distorções só prosperam hoje porque,
infelizmente, já faz alguns anos que uma educação com viés de esquerda prevalece
nas escolas desse país, distorcendo os fatos e reescrevendo a
História.
À época, pensei em escrever um artigo a respeito, mas
abortei a idéia no meio do caminho, já que o texto ficaria enorme, exigindo de
mim tempo significativo dentro do meu pouco tempo. Seria o mais longo texto que
já postei neste blog. Porém, hoje, quase um ano depois, depois da discussão no
início do ano em torno da Lei de Anistia (por causa do nefasto Programa de
Direitos Humanos lançado em 21 de dezembro pelo governo federal), senti-me
impelido novamente a escrever o tal texto. Você está exatamente diante dele. Ou
melhor, de parte dele. É que, como era de se esperar, ficou extremamente extenso
e, por isso, decidi postá-lo em duas partes. Esta é a
primeira.
Essa série de dois
artigos (*) que enceto hoje objetiva corroborar a não-proliferação
dessas versões falsas sobre aquela época de nossa história, distorções estas
que, inclusive, têm levado muitos crentes a fazerem julgamentos equivocados
sobre o comportamento que a igreja evangélica brasileira teve em relação à
deposição de Jango e à Ditadura Militar.
Sim, os evangélicos
foram condescendentes com o movimento de 1964, mas, para entender essa atitude,
é preciso saber o que o governo Jango estava fazendo à época para provocar essa
reação radical da sociedade brasileira, e pelo que lutou realmente esse
movimento de deposição, para, então, finalmente, entendermos porque não apenas
os evangélicos, mas todos os setores da sociedade civil brasileira e a maioria
da população, apoiaram a deposição de Jango. Não, não concordo com golpes de
Estado, mas, ao conhecer a conjuntura do movimento de 1964, dá para entender as
razões pelas quais a igreja não viu aquele movimento como um mal.
Sim, os evangélicos
também foram condescendentes com a Ditadura Militar que veio depois (embora,
neste caso, relativamente), assim como a maioria esmagadora da população daquela época apoiou o
regime (especialmente
no período de 1964 a 1982). Mesmo preferindo obviamente a democracia à ditadura,
os evangélicos agiram assim porque sabiam que seu papel, como Igreja, não era
partir para o confronto com os militares em prol da democracia, assim como a
Igreja Primitiva não se engajou em nenhuma luta pela derrubada do Império
Romano, nem mesmo quando Roma passou a perseguir os cristãos a partir do final
dos anos 60 da Era Cristã. Os evangélicos sempre foram ordeiros e, como povo
ordeiro, não poderiam coadunar com badernas, guerrilha, desordem e movimentos
que tentavam derrubar o regime pela força. E em sua esmagadora maioria, não
compactuavam com as teologias esposadas pelos que se opunham ao regime em nome
da “fé cristã” (refiro-me à Teologia da Esperança, ao Evangelho Social e à
Teologia da Libertação, que levaram seus adeptos a confundirem socialismo com fé
cristã e a muitos deles entrarem para a
guerrilha).
A
igreja evangélica também estava ciente do que fizeram os comunistas na China,
Cuba, URSS e Coréia do Norte (matando, inclusive, milhões de cristãos), o que a
levava a valorizar o importante combate que os militares realizavam contra os
grupos terroristas que lutavam para implantar o comunismo em nosso país. Por sua
vez, o regime militar ainda garantia a liberdade religiosa e honrava as igrejas
cristãs de forma geral, que gozavam do respeito e apreço dos militares.
Finalmente, os evangélicos da época, como a maior parte do povo, reconheciam o
fato de que os principais culpados pelo abortamento do retorno programado -
pelos militares - às eleições diretas (falo disso no segundo artigo), bem como
pelo endurecimento e excessos dos militares durante o regime, foram os
terroristas de esquerda, que promoveram destruição e caos, mataram mais de 130
pessoas, seqüestraram, e assaltaram bancos, casas e carros. Os militares apenas
reagiram a eles, embora tenham se excedido nesse processo, cometendo crimes.
Hoje, omite-se deliberadamente que os terroristas já haviam matado dezenas de
pessoas de 1964 até dezembro de 1968 antes de o regime instaurar o AI-5,
começando a repressão e dando meia volta volver no processo de retorno à
democracia plena.
Bem, para que você fique plenamente inteirado do que
estou falando, detalho abaixo quatro fatos fundamentais olvidados e/ou omitidos
sobre o Golpe de 1964 e a Ditadura Militar. Vamos ao
primeiro.
1) O Golpe ou
Revolução de 1964 foi um contra-golpe ao processo de “cubanização” do Brasil que
já estava em explícito andamento; ele veio para evitar uma ditadura, não para
instaurar uma. A Ditadura Militar, que surgiu um ano após o movimento de 1964,
foi um golpe dentro desse contra-golpe.
Não é verdade que o
Golpe de 1964 pretendeu estabelecer uma ditadura. Foi exatamente o contrário:
ele ocorreu para garantir a democracia em nossa nação, impedindo a implantação
de uma ditadura comunista em nosso país. O movimento de 1964 foi um contra-golpe
ao processo de “cubanização” do Brasil, que já estava em andamento.
Para quem não
conhece os fatos sobre o processo acelerado de “cubanização” do Brasil naquela
época, e que levaram ao movimento nacional de deposição de Jango, passarei a
elencá-los a seguir.
À guisa de
introdução, lembremos o contexto da época.
O mundo vivia a
Guerra Fria. A União Soviética e seus satélites apoiavam e financiavam a
implantação do comunismo no mundo, e os Estados Unidos lutavam para impedir essa
expansão, apoiando todos quantos se opusessem aos movimentos de guerrilha
revolucionária comunista nos seus respectivos países.
Em 1959, a guerrilha
dos irmãos Castro e Guevara apeou do poder o ditador Fulgêncio Batista, uma
espécie de "Getúlio Vargas" de Cuba. Batista era um militar que apoiou e
concretizou um golpe de Estado em Cuba em 1933. Anos depois do golpe, mais
precisamente em 1940, foi eleito presidente daquele país em eleições diretas,
sendo sucedido por Ramon Grau, que venceria as eleições de 1944, e Carlos Prío
Socarrás, que venceria as eleições de 1948. Em 1952, depois de três eleições,
quando a democracia em Cuba parecia solidificada e Batista concorria à
presidência mais uma vez, este resolveu promover outro golpe de Estado, dessa
vez em seu próprio benefício, para se fixar no poder. Durante sua gestão,
Batista mandou prender opositores e enriqueceu ilicitamente. Seu governo
ditatorial foi criticado tanto por comunistas e esquerdistas em geral quanto por
democratas e liberais. Porém, foi a guerrilha de esquerda que obteve êxito,
derrubando-o. E quando os irmãos Castro e seus revolucionários o derrubaram, em
vez de restituírem a democracia a Cuba, implantaram eles mesmos sua própria
ditadura, e incomensuravelmente mais
violenta.
Se
o ditador Batista prendia seus opositores, os irmãos ditadores (Fidel e Raul)
simplesmente os matavam aos milhares.
Os cubanos não-esquerdistas que lutaram contra a
ditadura de Fulgêncio foram todos exilados ou mortos pelos irmãos Castro. Logo
nos primeiros dias após a Revolução, Fidel e sua turma fuzilaram nada menos que
600 opositores ideológicos. Guevara liderou em Cuba o primeiro campo de
concentração da América Latina. Chamavam-no de “Unidade Militar de Apoio à
Produção” (Umap). Ali, nos quase dois anos que passou “apoiando a produção”, o
argentino fuzilou mais de 400 pessoas (Ver livroGuevara: Misionero de La Violencia, do ex-preso político e renomado historiador cubano
Pedro Corzo, que cita todos os mortos. Para uma consulta mais imediata, há uma
lista com o nome de 200 dessas vítimas de Guevara aqui e fotos e
dados de mais de 100 dessas vítimas aqui).
Nos dez primeiros
anos de ditadura, Raul, Fidel e Guevara fuzilaram mais de 7 mil pessoas e
encarceraram 30 mil cubanos nas Umap’s (Informações sobre algumas dessas
chacinas aqui e fotos de
alguns fuzilamentos executados por Raul, Fidel, Guevara e companhia podem ser
vistas aqui).
Por isso, em 1960, com apenas um ano de Revolução, 50 mil cubanos já haviam
fugido da ilha. Em 1963, o número de cubanos que fugiram do terror em seu país
já havia subido para 250 mil. Ou seja, a ditadura dos irmãos Castro era uma
“maravilha” tão grande que centenas de milhares de cubanos “deram no pé” em
apenas quatro anos de regime. E ainda hoje há gente fugindo daquela “ilha da
fantasia”...
Só para registro: de
1959 a 2008, a ditadura cubana fuzilou 17 mil pessoas (ao todo, de lá para cá,
foram cerca de 100 mil mortos; 17 mil foram só os que foram assassinados por fuzilamento) e jogou nas
Umap’s mais de 100 mil opositores; e o número de cubanos que tentam fugir da
ilha é hoje, em média, de 5 mil por ano – o recorde foi em 1994: 37 mil
lançaram-se ao mar em fuga.
Mas, voltemos a
meados do século 20.
Antes mesmo de Cuba,
o grande interesse do Movimento Comunista internacional era o Brasil. O namoro
já era antigo. Em 1935, a mando da URSS, os comunistas, encabeçados por Luis
Carlos Prestes (então membro da Comissão Executiva da Internacional Comunista –
Comintern), já haviam tentado tomar o poder, matando 28 militares no Estado da
Guanabara, 20 pessoas (entre militares e civis) em Natal e 720 (entre militares
e civis) em Recife (História das Revoluções
Brasileiras, do historiador Glauco Carneiro,
volume 2, p. 424). Ainda em Natal, durante os três dias de tentativa de
revolução, promoveram saques, estupros e arrombamentos (Relembre esses crimes –
ou leia sobre eles a primeira vez – aqui e aqui).
E na Guanabara, logo depois da Intentona, os comunistas ainda mataram uma jovem
de 18 anos – Elza Fernandes –, namorada de um dos “camaradas”, apenas por
suspeitarem que ela denunciara o grupo. Se realmente tivesse denunciado, estaria
cumprindo seu dever como cidadã; mas, o pior é que ela não o fez (Relembre essa
terrível história aqui).
Enfim, desde a
década de 30, o Brasil era visto como estratégico pela Internacional Comunista
pelo seu tamanho e representatividade na América Latina. Ter um país do tamanho
do Brasil como satélite comunista na América Latina seria uma grande conquista e
uma influência poderosa sobre os demais países do continente. China, na Ásia, e
Brasil, na América Latina, eram duas antigas obsessões. A China, desde 1949,
devido ao trabalho de Mao Tse-tung (que mandou ali de 1949 a 1959 e de 1966 a
1976), tornou-se comunista. Faltava agora o Brasil.
Os anos se passaram
e, um ano apenas após a Revolução Cubana, os comunistas resolveram investir
outra vez na conquista do Brasil. E em pouco tempo, a sociedade brasileira, que
ainda mantinha viva na memória a Intentona de 1935, foi tomando ciência desse
projeto.
O primeiro fato a
ser notado foi o surgimento e crescimento de grupos de guerrilha comunista no
Brasil, patrocinados, armados e treinados pelos comunistas internacionais, e
empenhados declaradamente em instaurar uma ditadura comunista no país. Em
segundo lugar e simultaneamente às guerrilhas, vieram as primeiras invasões de
terra no campo, e com o apoio do governo federal durante a presidência de João
Goulart. Em terceiro lugar, nos primeiros anos da década de 60, centenas de
sindicatos foram criados no Brasil (cerca de mil em apenas quatro anos), sendo o
número de greves fomentadas por setores de esquerda naquele período algo
inigualável na história do país. Então, quando, em 13 e 17 de março de 1964, o
presidente João Goulart manifestou a intenção de desapropriar terras - e sem
promessa de indenização - para promover a reforma agrária, ameaçou a ordem
econômica com o estatismo, propôs uma nova Constituição conforme seus ideais e
incitou descaradamente a rebelião dentro das Forças Armadas, desrespeitando
hierarquias e favorecendo injustamente militares de esquerda, a sociedade civil
brasileira não teve dúvida e saiu em massa às ruas. Depois dos discursos de 13 e
17 de março de 1964, sua deposição foi inevitável.
Vamos recapitular
cronologicamente esses fatos.
A partir do ano de
1960 até o período final do Regime Militar, milhares de comunistas brasileiros
treinaram terrorismo na União Soviética, China, Cuba, Coréia do Norte e Argélia.
O objetivo expresso desse treinamento era tentar promover uma revolução
comunista no Brasil, implantando a “ditadura do proletariado”, a “cubanização”
do país. Sobre tais treinamentos, tão convenientemente omitidos hoje em dia,
leia a obraO Apoio de Cuba à Luta Armada no
Brasil, da professora Denise Rollemberg; e a
obraA Revolução Impossível, de Luís Mir. Eis alguns links sobre o
assunto aqui, aqui,aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
A prática comunista
de incentivar e patrocinar guerrilhas nos outros países foi idealizada ainda na
época de Stalin.“Os líderes
comunistas sempre procuraram criar situações revolucionárias. Lenin favorecia a
agitação para conseguir seus objetivos de domínio mundial do comunismo, e
Trotsky pregava providências ainda mais militantes. Foi, no entanto, Stalin quem
preferiu treinar um exército de subversivos clandestinos que se infiltrariam nas
democracias para destruí-las de dentro para fora… a perigosa
quinta-coluna” (Hutton, Os subversivos, p.
9).
Herbert José de
Souza, mais conhecido como “Betinho”, ex-dirigente do grupo esquerdista Ação
Popular, contou em depoimento no livro O Fio da Navalha: “Ainda antes da Revolução de 31 de março
de 1964, no governo do presidente João Goulart, um grupo de militantes do
Partido Comunista do Brasil foi enviado à China, onde recebeu treinamento
militar na Escola Militar de Pequim. Também um grupo de dirigentes da Ação
Popular recebeu treinamento político-ideológico na China no início dos anos
70”.
Desde 1961, as Ligas
Camponesas do deputado comunista Francisco Julião, surgida em Pernambuco, já
haviam se armado para a revolução e recebido treinamento de guerrilha dos
chineses e cubanos. De Cuba, receberam ainda armas e dinheiro para comprar
fazendas em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco para funcionarem como campos de
treinamento. Essa história está contada parcialmente aqui,
mas pode ser lida em detalhes na obra supracitada da professora Denise
Rollemberg. Após a deposição de Jango, as Ligas foram fechadas, as armas
apreendidas e seus membros presos ou exilados.
Em 1963, Leonel
Brizola montara o chamado “Exército Popular de Libertação”, formado de grupos de
11 pessoas (os G-11) com, ao todo, 58.344 homens distribuídos pelo Rio Grande do
Sul, Guanabara, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. No documento
denominado “Instruções Secretas”, escreveu Brizola ao seu exército, justificando
o uso que seu grupo pudesse fazer de atos de violência: “Não nos poderemos deter na procura de
justificativas acadêmicas para atos que possam vir a ser considerados, pela
reação e pelos companheiros sentimentalistas, agressivos demais ou, até mesmo,
injustificados”. Sobre sua certeza do compromisso de João Goulart com a
revolução comunista, escreveu ele: “Devemos nos lembrar que, hoje, temos
tudo a nosso favor, inclusive o beneplácito do Governo e a complacência de
poderosos setores civis e militares, acovardados e temerosos de perder seus
atuais e ignominiosos privilégios”. Sobre a
escassez de armas para a luta: “A escassez inicial de armas poderosas e
verdadeiramente militares será suprida pelos aliados militares que possuímos em
todas as Forças Armadas”.
Sobre as táticas a
serem usadas pelo seu exército, orientou Brizola: “Os camponeses, dirigidos por nossos
companheiros, virão destruindo e queimando as plantações, engenhos, celeiros,
depósitos de cereais e armazéns gerais. A agitação será nossa aliada primordial
e deveremos iniciá-la nos veículos coletivos, à hora de maior movimento, nas
ruas e avenidas de aglomeração de pedestres, próximo às casas de armas e
munições e nos bairros eminentemente populares e operários. Desses pontos e à
sombra da massa humana, deverão convergir os G-11 especializados em destruição e
assaltos, já comandando os companheiros e com outros se ajuntando pelas ruas e
avenidas, para o centro da cidade, vila ou distrito, de acordo com a importância
da localidade, depredando os estabelecimentos comerciais e industriais,
saqueando e incendiando, com os molotovs e outros materiais inflamáveis, os
edifícios públicos e os de empresas particulares. Ataques simultâneos serão
desfechados contra as centrais telefônicas, rádio-emissoras e, onde houver, de
TV, casas de armas, pequenos quartéis militares”.
Finalmente, ao
cogitar a possibilidade da revolução comunista não acontecer, orientou Brizola
seus soldados como se segue: “No caso de derrota do nosso Movimento, o
que é improvável, mas não impossível, dado a certas características da situação
nacional, e temos que ser verdadeiros em todos os nossos contatos com os
Comandos Regionais e esta é uma informação para uso somente de alguns
companheiros de absoluta e máxima confiança, os reféns deverão ser sumária e
imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem seus aprisionadores
e não lutem, posteriormente, para sua condenação e destruição”.
Mais sobre Brizola e seus soldados, inclusive após o
Golpe de 1964, leia aqui, aqui,aqui, aqui, aqui e aqui.
Como se não bastasse tudo isso, em setembro de 1963, um
grande carregamento de armas que se encontrava a caminho do Brasil, procedente
da Europa oriental, foi interceptado pelo Exército Brasileiro, que enviou uma
tropa ao navio e conseguiu confiscar toneladas de armas portáteis, munições,
metralhadoras, equipamentos de comunicações de campanha e montões de propaganda
pró-comunismo em português. E quando Luis Carlos Prestes foi preso em 1964 logo
após a deposição de Jango, foi encontrado com grande quantidade de armamentos
pesados originários de Cuba.
Mas, antes mesmo das primeiras apreensões de armas,
planos e cartilhas da guerrilha, a imprensa brasileira já havia se apercebido do
que acontecia às escondidas no país. Em 1961, chegou às mãos da Redação do
jornal O
Globo informações
confidenciais sobre o plano de tomada de poder no país pelos comunistas, o que
resultou em grandes reportagens de denúncia no jornal a respeito do
assunto.
Foi em 13 de maio de 1961 que o jornal O Globo publicou, pela
primeira vez, um encarte denunciando a orquestração que se formava no país para
implantar uma ditadura comunista. Abaixo, cito na íntegra, conforme arquivo do
médico e escritorHeitor
de Paula, dois textos do
referido encarte:
Entreguismo
Vermelho
Plano
Básico do Comunismo Internacional
“O comunismo não é fraternidade; é a invasão do ódio
entre as classes. Não é a reconciliação dos homens; é a sua exterminação mútua.
Não arvora a bandeira do Evangelho; bane a Deus das almas e das reivindicações
populares. Não dá trégua à ordem. Não conhece a liberdade cristã. Dissolveria a
sociedade. Extinguiria a religião. Desumanaria a humanidade. Everteria,
subverteria, inverteria a obra do Criador” (Ruy
Barbosa)
Em 1957, por ocasião
das comemorações do quadragésimo aniversário da Revolução Russa, um grupo de
dirigentes comunistas reuniu-se em Moscou para organizar o plano de ação de
vários partidos comunistas de todo o mundo, segundo a nova "linha" estabelecida
pelo Kremilin. Tendo Khruchtchev consolidado sua posição de dirigente supremo da
U.R.S.S., modificou o sistema anterior de direção dos partidos comunistas
estrangeiros, dissolveu o Cominform e fez novamente de Moscou o centro do poder
e a única fonte de autoridade sobre aqueles partidos.
Os representantes
dos PCs deste continente tiveram, na época, uma reunião especial, sendo as
delegações do Brasil, Argentina, México e Chile as mais numerosas, num total
superior a 179 delegados. Uma cópia do plano, mais tarde, foi revelada em Lima e
divulgada em sua parte referente à América Latina.
As
decisões
Em linhas gerais, as
decisões da referida reunião especial com os dirigentes latino-americanos podem
ser assim enumeradas: De Moscou vem a iniciativa, a orientação e o comando para
o desenvolvimento da ação comunista. Assim, por exemplo, a luta entre os PCs do
Brasil, da Argentina, do México e do Chile pela supremacia entre os partidos
latino americanos cessou definitivamente, passando cada um deles a partidos
autônomos com relação aos outros, mas subordinados todos à direção de Moscou.
Neste Continente, o desenvolvimento dos partidos comunistas deve ser escondido
do público, embora mais do que nunca se trabalhe internamente em cada país pela
"defesa" da União Soviética e do Socialismo. Duas bandeiras devem encobrir essas
atividades comunistas: o "nacionalismo" e a luta por constantes aumentos de
salários e redução de horas de serviço, com aumento também das inatividades
remuneradas.
“Os comunistas não
devem declarar que lutam contra o capitalismo, mas, sim, contra o ‘monopólio
estrangeiro’ e ‘a tendência monopolizadora das empresas norte-americanas’. Para
isso devem ficar de lado as campanhas de exaltação do comunismo ou da Rússia,
para dar lugar ao acirramento do ódio e da resistência aos Estados Unidos, entre
a burguesia comercial e a industrial e, principalmente, entre a pequena
burguesia, os intelectuais e os estudantes”.
“Os
comunistas não devem usar a doutrina da luta de classes, mas devem lutar contra
todas as idéias de ‘harmonia entre as classes’, de ‘relações humanas’ e de
‘capitalismo popular’. Divisão de trabalho dando-se preferência às atividades de
infiltração. Enquanto um grupo coopera com o Governo, outro, menos silencioso,
deve ficar com a oposição. O grupo infiltrado no governo criará as condições de
liberdade de ação para os comunistas de oposição a fim de que essas possam
exercer maior influência sobre a comunidade”.
“Cooperar com todas as forças de oposição, onde haja
liberdade, mas cooperar também com os ditadores, quando não houver movimentos de
oposição; dar assistência a todos os grupos, independentemente de suas
tendências, que de algum modo se oponham aos Estados Unidos, seus
empreendimentos oficiais ou suas empresas particulares. Tomar como aliado todo e
qualquer descontente com a política norte-americana”.
“Dividir os partidos
comunistas em grupos diferentes que se devem infiltrar nos vários partidos
políticos, principalmente na oposição política, estimulando, sob as bandeira do
nacionalismo, o ódio aos Estados Unidos”. Nesse ponto, o documento recomenda
cuidadosamente que se evitem os aspectos de pregação comunista.
Há uma parte do
plano, porém, que mais impressionante parece, quando analisamos diante do quadro
latino-americano. É a parte em que a resolução de Moscou apresenta como
principal objetivo dos partidos comunistas ocidentais o enfraquecimento da
economia de cada país não comunista pelo apoio às exigências constantes de
salários sempre maiores, de férias remuneradas mais longas e de maiores
vantagens da Previdência Social, assim como a condenação do progresso
tecnológico, sob a alegação de que esse é a causa do desemprego e resulta em
superexploração, por impedir que mais homens trabalhem e permitir que mulheres
tomem seus lugares. A aplicação minuciosa dessas medidas determinadas pela
reunião de Moscou já se fez sentir em toda a parte. Cada dia, uma comprovação.
Não nos assiste, portanto, o direito de cruzar os braços diante do perigo
presente.
Ao referir-se
ao "perigo presente", O
Globo refere-se
ao Brasil nos primeiros três meses e meio do mandato de Jânio Quadros, que
duraria só mais três meses: as greves e os sindicatos recém-criados nesse
período seguiam à risca essa cartilha, enquanto o presidente Jânio, sob o
discurso de que o Brasil, sob seu governo, teria uma “política externa
independente”, pregava o restabelecimento das relações diplomáticas e comerciais
com a URSS e a China comunista, e condenou o isolamento de
Cuba.
Outra matéria da extensa reportagem da edição de 13 de
maio de 1961 de O
Globosegue abaixo:
Comprovações
do entreguismo vermelho
Seguindo-se sempre o
zigue-zague das mutações determinadas por Moscou, chegamos aos dias atuais em
que o Partido caminha na direção estabelecida pelo XX Congresso do Partido
Comunista da União Soviética, realizado em fevereiro de 1956. Khruchtchev,
substituto de Stalin na ditadura soviética, confirmou em discurso, perante
aquele Congresso, alguns dos crimes e violências praticados pelo ditador morto,
contra indivíduos e nações. O discurso, pronunciado secretamente, mas depois
divulgado pelas próprias autoridades russas, determinou, em todos os partidos
comunistas de fora da Rússia, a queda dos líderes que, de certo modo, se
desiludiram com a confissão de tantos crimes sempre negados, até pelo próprio
Khruchtchev, quando Stalin era vivo. Ficaram apenas aqueles líderes locais que,
embora nascidos fora da Rússia, a servem incondicionalmente, mesmo quando em
situação de flagrante traição a suas pátrias. No Brasil, Luiz Carlos Prestes
ficou. Muitos líderes locais comunistas brasileiros, sem renunciar as suas
ideais socialistas, reconheceram de público o caráter totalitário e imperialista
da Rússia Soviética e abandonaram o Partido. Mas Luiz Carlos Prestes
ficou.
Entre os que não
ficaram, Osvaldo Peralva, do grupo dos intelectuais do Partido, publicou
recentemente o livro "O Retrato", em que dá as razões do seu desligamento das
hostes vermelhas, denuncia o caráter entreguista do Partido Comunista Brasileiro
e faz considerações sobre o comunismo internacional. A esse respeito diz
Peralva: "A força da atração do bolchevismo tem residido na rapidez com que,
combinando o impulso revolucionário com as medidas compulsórias, promove o
desenvolvimento das grandes indústrias. Daí que só tenha triunfado em países
subdesenvolvidos (Rússia, China, Vietnam etc.), ou onde foi levado na ponta das
baionetas soviéticas, como é o caso da Tcheco-Eslováquia. É certo que na Itália
e na França existem poderosos partidos comunistas, mas ali o bolchevismo jamais
representou grande força, antes da II Guerra Mundial. Somente após o rompimento
do pacto nazi-soviético e a agressão hitlerista contra o aliado da véspera, num
momento em que a resistência ao ocupante nazista, na França e na Itália,
coincidia com os interesses da União Soviética, é que os dirigentes comunistas
daquelas duas nações conquistaram o apoio e a simpatia de amplas massas.
Guiando-se pelo principio estalinista de que ‘a atitude ante a U.R.S.S. é a
pedra de toque do internacionalismo proletário’, eles se destacaram na luta
contra o inimigo comum – de seus países e da U.R.S.S. – visando sobretudo
defender a ‘pátria do proletariado’, mas aparecendo aos olhos de seus povos como
valorosos combatentes pela libertação nacional”.
“No único país
altamente industrializado em que o bolchevismo se instaurou – a
Tcheco-Eslováquia – o bem estar econômico das massas trabalhadoras diminuiu.
(...) E na própria estrutura da sociedade verificou-se um retrocesso, pois a
antiga democracia tcheco-eslovaca, com suas tradições de respeito às liberdades
e aos direitos individuais, foi substituída pela ditadura de uma camarilha
burocrática”.
Como se vê, no
primeiro resumo de artigo deste suplemento, na análise do plano comunista
revelado em Lima, em 1957, Khruchtchev dissolveu também o Cominform e Moscou
passou a ser o centro do poder e a única autoridade. Do Kremlin vem a
iniciativa, a orientação e o comando para o desenvolvimento da política
comunista no mundo ocidental. Uma afirmação dessa gravidade seria de difícil
aceitação se os fatos não a viessem frequentemente comprovar.Alunos na Rússia,
mestres na América Latina
O plano de domínio
pela Rússia dos países menos desenvolvidos de todo o mundo, embora conhecido no
conjunto, só tem podido ser verificado em retalhos, em fatos isolados, apenas
percebidos em seu verdadeiro significado por aqueles que estudam as manobras
dissimuladas do imperialismo soviético. Mas esses fatos surgem e, com algum
cuidado, podem ser estudados, em sua importância exata.Em princípios de outubro
de 1959, a Polícia Política do Rio de Janeiro prendeu o agente comunista
internacional José Manoel Fortuny Arana que se encontrava clandestinamente no
País, protegido por um passaporte falso. Fortuny tornou seu nome conhecido como
um dos comunistas mais ativos da Guatemala, durante os anos sangrentos do regime
de Arbenz. Quando os comunistas guatemaltecos foram postos para fora do poder,
pela revolução popular de Castillo Armas, Fortuny escapou para a Europa, de onde
veio para o Brasil a fim de, segundo informações oficiais, pôr em execução
planos destinados a derrubar vários governos sul-americanos. Fortuny não viria
ao Brasil para outro fim, encoberto por uma falsa identidade. Como Luiz Carlos
Prestes e outros, é um agitador preparado em Moscou para a função específica de
organizar, nos países em que consegue entrar, a subversão e a desordem. Mas
esses fatos se perdem na imprensa diária e o povo os
esquece.
As
Ligas Camponesas de Francisco Julião
Não obstante a controvérsia que surge, de vez em quando,
sobre a natureza real das Ligas Camponesas de Pernambuco, organizadas pelo Dep.
Francisco Julião, a verdade é que essas ligas representam uma das mais perigosas
infiltrações comunistas no País.
Aproveitando as más
condições em que vivem os lavradores do Nordeste, o Deputado Julião promove o
mais intenso movimento subversivo de preparação da revolução comunista no
Brasil, acobertado pelo pretexto de exigir a reforma agrária. Como exemplo e
ídolo para o lavrador nordestino, Francisco Julião apresenta a figura de Fidel
Castro, levada àquelas paragens como salvador do camponês cubano e inspirador de
todos os homens do campo da América. Em seu trabalho constante, as Ligas
subvertem a ordem, provocam a ação policial, prejudicam o equilíbrio econômico
da região e preparam o terreno para a ação dos agentes comunistas.Mas, de tudo o
que mais impressiona é a exaltação permanente de Fidel Castro, o homem que
entregou Cuba ao comando do imperialismo sino-soviético.
Compreende-se,
naturalmente, que os camponeses do nordeste brasileiro tenham justa ansiedade em
resolver seus problemas econômicos e sociais, mas, positivamente, não se
compreende que a solução de tais problemas seja oferecido a troco da traição à
Pátria. Mesmo porque jamais haverá solução para os problemas do homem do campo
sob o regime que Fidel Castro instalou em Cuba, como muitos outros agentes de
Moscou têm instalado em outras nações hoje escravizadas ao jugo
soviético.
Bem,
o que ocorreu desde a matéria de O
Globo de
13 de maio de 1961 até 1963?
Em seu curto mandato presidencial sabotado por ele
mesmo, o presidente Jânio Quadros fez uma política de aproximação com os
comunistas, visitando e elogiando Cuba e condecorando o guerrilheiro Che Guevara
com a Ordem do Cruzeiro do Sul, e restabeleceu as relações entre o Brasil e URSS
e China. Aliás, na renúncia de Jânio, seu vice João Goulart estava em visita à
Rússia e à China comunistas exatamente restabelecendo as relações diplomáticas
entre o Brasil e esses países (veja aqui eaqui).
Antes de Goulart
voltar ao Brasil para assumir a presidência no lugar de Jânio, surgiu forte
resistência em relação ao seu nome por parte de alguns setores da sociedade (que
contaram inclusive com o apoio de militares) por ser ele escancaradamente
esquerdista e simpático à Revolução Cubana. Além do mais, seu cunhado e parceiro
ideológico Leonel Brizola (casado com Neusa Goulart, irmã de Jango), então
governador do Rio Grande do Sul, declarado defensor da “cubanização” do Brasil e
mentor de Goulart, havia estatizado, durante seu mandato como governador gaúcho,
duas empresas norte-americanas sem direito a indenização, o que criou um impasse
entre o Brasil e os Estados Unidos; e também desapropriara terras para reforma
agrária usando como critério uma emenda na constituição gaúcha que garantia a
desapropriação de terras se houvesse tão somente um abaixo-assinado com 100
assinaturas pedindo-a. Brizola estimulou os abaixo-assinados em acampamentos de
agricultores para forçar desapropriações.
Foi o temor pela
“cubanização” do país em um mandato Jango com Brizola ao seu lado que fez com
que, após a renúncia de Jânio, se cogitasse fortemente impedir a posse do seu
vice (mesmo contrariando a Constituição) e invocar outras eleições
presidenciais. Diante dessa ameaça, Brizola promoveu a chamada “Cadeia da
Legalidade”, uma campanha pelo rádio em prol do cumprimento da Constituição,
isto é, da posse do vice, seu cunhado Jango, no lugar do renunciante Jânio. A
causa defendida por Brizola foi justa, mas isso não significa dizer que Brizola
fosse defensor do cumprimento estrito da Constituição. Como seus atos à época
mostraram, sua defesa foi por conveniência. Para ele, os ideais socialistas
estavam acima.
Enquanto Brizola,
apoiado por militares de esquerda, fazia sua campanha, formando, inclusive, uma
trincheira armada de onde provocava as Forças Armadas, uma solução política já
havia sido negociada no Congresso Nacional. Em 2 de setembro de 1961, foi
aprovada uma emenda constitucional (número 4) alterando o regime de governo para
o parlamentarismo. Com os poderes de Jango limitados ao de um chefe de Estado e
não de governo, o temor em relação a um governo Goulart desapareceu e, em 7 de
setembro, dois dias depois de voltar da China, João Goulart tomou posse como
presidente.
A resistência
inicial a Jango fez com que este engavetasse temporariamente alguns de seus
projetos “cubanizadores”, passando a usar um discurso centrista, o que irritou
seu cunhado Brizola. Mas, não demorou muito para Jango voltar ao seu normal.
Estrategicamente, Goulart agira assim no início de seu mandato como chefe de
Estado, para tentar convecer a todos que não era mais um esquerdista
"carnívoro", mas "herbívoro", para, dessa forma, conquistar a confiança de seus
opositores. Ele queria a volta ao presidencialismo.
Em 1962, Goulart dá
os primeiros passos de retorno ao velho estilo. Ele foi à ONU tentar defender as
estatizações sem indenização de Brizola no Rio Grande do Sul (vejaaqui).
No mesmo ano, idealizou um plebiscito para que o sistema presidencialista
voltasse. O plebiscito ocorreu em 6 de janeiro de 1963 e, após uma campanha
maciça de Jango, o presidencialismo venceu.
No final de 1962, o
gaúcho Brizola, pretendendo estar mais perto de Jango para ajudá-lo no ano
seguinte no processo de “cubanização” do país, se candidatou e se elegeu
deputado federal pelo então Distrito Federal, o Estado da Guanabara, assumindo o
cargo no ano seguinte.
Em 1963, Goulart,
sem o regime parlamentarista para tolhê-lo e com o apoio de Brizola ao seu lado,
começou seu projeto de “cubanização”. Ainda naquele ano, ele apoiou as invasões
de terra das Ligas Camponesas no Nordeste, o que levou, por exemplo, o
jornal O
Globo a retomar o
assunto da reportagem especial de 1961. Eis o texto da matéria de O Globo em
1963:
Meditem
os responsáveis pelo destino do País
Há cerca de dois anos passados, sob o título-tema de
"Entreguismo Vermelho”, publicamos um suplemento em forma de revista,
denunciando o trabalho do comunismo internacional no sentido de arrastar para o
domínio da Russia soviética muitas nações de vários continentes, principalmente
as de menor desenvolvimento econômico, como o Brasil. Foi tão clara a exposição
dos fatos e tão irrefutável a documentação apresentada naquele suplemento, que
por muito tempo se estendeu a repercussão da denúncia, glosada em vários
comentários da imprensa, em declarações de líderes políticos democráticos e em
afirmações decididas de autoridades eclesiásticas.O suplemento trazia como
epígrafe um trecho do discurso do Presidente Getúlio Vargas, que assim se
referia aos comunistas e suas atividades anti-nacionais: “A dissiminação da
mentira, a felõnia, constituem as suas armas, chegando, não raro, à audácia e ao
cinismo de se proclamarem nacionalistas e de receberem o dinheiro da traição
para entregar a Pátria ao domínio estrangeiro. Sejam quais forem os disfarces e
os processos usados, os adeptos do comunismo perseguem, invariavelmente, os
mesmos fins”.
O decorrer do tempo
comprovou cada uma dessas afirmações de Vargas. Mais adiante, mostraremos que
isso aconteceu em muitas partes do mundo, nos últimos dois anos. Quanto ao
Brasil, porém, basta pequeno esforço de memória para relembrar que no mesmo
período os comunistas dissimularam, mentiram, proclamaram-se nacionalistas,
receberam dinheiro da traição e muito fizeram para entregar a Pátria ao domínio
estrangeiro. E assim continuam a agir, porque embora mudem de vez em quando as
condições político-sociais e, consequentemente, seus métodos de ação, o
movimento comunista internacional tem sempre os mesmos objetivos, que é a
entrega de nações ao domínio da Russia soviética.
O plano comunista,
originário de Moscou, que denunciamos há dois anos passados, com forte reação
democrática do povo brasileiro, não conseguiu os efeitos desejados pelos
dirigentes vermelhos. Mas os esforços comunistas continuam, mais dissimulados,
mais insidiosos, contra a liberdade e a independência deste País, deste
Continente, do Mundo.
Para aferir os
perigos permanentes que nos ameaçam e a muitos outros países, repetiremos os
pontos básicos do plano comunista para a conquista da América Latina. Meditem
sobre eles os responsáveis pelos destinos do
País.
Então, a matéria repetia o texto da reportagem de 1961,
o qual já apresentamos.
Em 1963, setores da
sociedade civil, sentindo a forte guinada do país à esquerda, começaram a
manifestar-se e a protestar contra os ideais do governo e as denúncias de
corrupção que se seguiram. Sobre a mobilização popular em todo o país, escrevo
no segundo artigo. Sobre a corrupção, eis um relato
abaixo:
Com
uma renda declarada de menos de 50 milhões de cruzeiros em 1963, Goulart, por
exemplo, conforme documentos apreendidos pelo Conselho de Segurança Nacional
depois que ele fugiu para o exílio – gastou 236 milhões de cruzeiros somente em
suas fazendas do Mato Grosso. Enquanto Goulart insistia no confisco das
propriedades dos latifundiários e na distribuição da terra aos camponeses, os
registros de imóveis demonstram que ele rapidamente somava imensas propriedades
às que já tinha. Só depois que Jango fugiu pôde o Brasil medir a sinceridade
dele em matéria de partilha de terras. Proprietário de terras apenas em São
Borja, quando iniciou sua vida pública, ao abandonar o País em abril de 64
Goulart era o maior latifundiário do Brasil, possuindo em seu nome mais de 7.700
quilômetros quadrados de terras, uma área quatro vezes e meia superior à do
município do Rio de Janeiro.
E havia os que compartilhavam as oportunidades de
ficarem ricos depressa. Indiscrições sobre uma possível mudança na política
oficial, como sobre taxas de câmbio, davam milhões a favoritos palacianos.
Empreendimentos de qualquer gênero eram vinculados a comissões e retribuições em
dinheiro.
Verificou-se que um
membro do estafe de Jango tinha um bico como ‘ministro-conselheiro’ de assuntos
econômicos numa embaixada no exterior – emprego a que nunca dedicou um dia de
trabalho, mas adicionava mais de 15 milhões de cruzeiros ao seu salário anual de
oito milhões e meio. O tráfico de influência era um fato. Um dos deputados do
Partido Trabalhista, de Goulart, estava fazendo uma fortuna acrescentando 1.295
funcionários à sua folha de pagamento em troca de uma fatia dos vencimentos
deles.Outro negócio confortável, explorado por um do peito do Governo, era
conseguir bons empregos públicos para quem pudesse pagar-lhe uma taxa de um
milhão e meio de cruzeiros. Um governador de Estado estava fazendo fortuna com
contrabando; outro recebeu uma verba de 6 bilhões e meio de cruzeiros para a
construção de rodovias e calmamente embolsou o
total.
Além
de todas essas velhacarias de alto calibre, que podiam ser documentadas,
inúmeros milhões de cruzeiros desapareciam sem deixar rastro no poço sem fundo
da corrupção que campeava. (...) Especialmente
mimada pelo Ministério da Educação era a UNE (União Nacional dos Estudantes),
cuja diretoria era completamente dominada por vermelhos e cujos 100.000 sócios
constituíam a maior organização estudantil nacional da América Latina. Durante
anos, um subsídio anual do Governo, de cerca de 150 milhões de cruzeiros
(valores de 64) era entregue aos diretores da UNE – sem que tivessem de prestar
contas. Assim garantidos, eles se dedicavam integralmente à agitação política
entre os estudantes. Parte desse subsídio era usado para financiar excursões à
Cuba Vermelha e visitas a grupos de irmãos de estudantes comunistas em outros
países da América Latina. (...) A
UNE publicava panfletos inflamados e um jornal semanal marxista. Fingindo-se
empenhado em combater o analfabetismo, um grupo da UNE passou dois meses
distribuindo material de leitura, no qual se incluía o manual de guerrilhas do
castrista Che Guevara – impresso em português por comunistas brasileiros da
linha vermelha chinesa. Líderes da UNE especializavam-se em fomentar greves
escolares estudantis, demonstrações públicas e distúrbios de
rua.
A citação acima é do texto A Nação que Salvou a Si Mesma, de Clarence Hall, publicada pela Biblioteca do
Exército e sintetizada em formato de artigo na revistaSeleções,
do Reader’s Digest.
Em 1963 e 1964, a
inflação subiu em espiral com o aumento da impressão de toneladas de papel-moeda
sem lastro, fazendo o cruzeiro alcançar uma desvalorização abissal. Além disso,
o capital estrangeiro fugira do país devido ao aumento das restrições a ele
impostas pelo governo Jango e às constantes ameaças de desapropriação proferidas
pelo presidente (vide discurso de Jango à ONU em 1962 e o apoio às invasões
camponesas).
Porém, em 1964,
Jango passou de todos os limites. Ele promoveu uma rebelião entre os militares
apoiando militares de esquerda (ao lado, um dos exemplares da série de matérias
no jornal Folha de São
Paulo da época sobre o assunto). E
mais: anunciou, em seu discurso na Central do Brasil em 17 de março de 1964, a
cartilha do golpe que planejara junto com Brizola: (1) a “superação da estrutura de governo e da
ordem social vigentes”, exigindo
“mudanças na
Constituição”; (2) a legalização do Partido
Comunista; e (3) o confisco, sem indenização em dinheiro, de qualquer área
agrária julgada pelo governo como inadequadamente utilizada, a qual seria
entregue a camponeses sem terra. Brizola, que discursou no mesmo evento logo
após Jango, vaticinou ainda (4) “a extinção do Congresso” (sic) e (5) a instituição em seu lugar de
“assembléias de operários,
camponeses e sargentos do Exército”. Cerca
de 150 mil pessoas assistiram o discurso, sendo milhares deles militantes de
esquerda trazidos de ônibus e de trem pelo governo portando bandeiras com a
foice e o martelo.
A reação foi imediata. O povo saiu às ruas. Seis dias
após o evento, mais de 600 mil pessoas marcharam nas ruas de São Paulo contra as
propostas do governo. Os jornais também protestaram contra o ato tresloucado de
Jango, bem como todos os setores organizados da sociedade civil.
Cito, a seguir, na íntegra, três editoriais: um antes do
golpe, outro durante o golpe e mais outro após o golpe. Os dois primeiros são
do Correio da Manhã, um
dos maiores jornais do país à época; e o terceiro é do jornal O Globo. Por estes
editoriais pode-se sentir o clima da época em relação às medidas socialistas,
absurdas, de Jango. Na seqüência, citarei também trechos de editorias de outros
dos principais jornais do período.
Correio da Manhã
(31 de março de
1964)
“Basta!
Até
que ponto o Presidente da República abusará da paciência da Nação? Até que ponto
pretende tomar para si, por meio de decretos-lei, a função do Poder Legislativo?
Até que ponto contribuirá para preservar o clima de intranqüilidade e
insegurança que se verifica presentemente, na classe produtora? Até quando
deseja levar ao desespero, por meio da inflação e do aumento do custo de vida, a
classe média e a classe operária? Até que ponto quer desagregar as Forças
Armadas por meio da indisciplina que se torna cada vez mais incontrolável?Não é
possível continuar neste caos em todos os sentidos e em todos os setores. Tanto
no lado administrativo como no lado econômico e financeiro.Basta de farsa. Basta
da guerra psicológica que o próprio Governo desencadeou com o objetivo de
convulsionar o País e levar avante a sua política continuísta. Basta de
demagogia, para que, realmente, se possam fazer as reformas de
base.
Quase todas as medidas tomadas pelo Sr. João Goulart,
nestes últimos tempos, com grande estardalhaço, mas inexeqüíveis, não têm outra
finalidade senão a de enganar a boa-fé do povo, que, aliás, não se
enganará.
Não é tolerável esta
situação calamitosa provocada artificialmente pelo Governo, que estabeleceu a
desordem generalizada, desordem esta que cresce em ritmo acelerado e ameaça
sufocar todas as forças vivas do país.
Não contente de
intranqüilizar o campo, com o decreto da Supra, agitando igualmente os
proprietários e os camponeses, de desvirtuar a finalidade dos sindicatos, cuja
missão é a das reivindicações de classe, agora estende a sua ação deformadora às
Forças Armadas, destruindo de cima a baixo a hierarquia e a disciplina, o que
põe em perigo o regime e a segurança nacional.
A opinião pública
recusa uma política de natureza equívoca que se volta contra as instituições,
cuja guarda deveria caber ao próprio Governo Federal.
Queremos o respeito
à Constituição. Queremos as reformas de base votadas pelo Congresso. Queremos a
intocabilidade das liberdades democráticas. Queremos a realização das eleições
em 1965. Se o Sr. João Goulart não tem a capacidade para exercer a presidência
da República e resolver os problemas da Nação dentro da legalidade
constitucional, não lhe resta outra saída senão entregar o Governo ao seu
legítimo sucessor.
É admissível que o
Sr. João Goulart termine o seu mandato de acordo com a Constituição. Este grande
sacrifício de tolerá-lo até 1966 seria compensador para a democracia. Mas, para
isto, o Sr. João Goulart terá de desistir de sua política atual, que está
perturbando uma Nação em desenvolvimento e ameaçando de levá-la à guerra
civil.
A Nação não admite
nem golpe nem contragolpe. Quer consolidar o processo democrático para a
concretização das reformas essenciais de sua estrutura econômica. Mas não admite
que seja o próprio Executivo, por interesses inconfessáveis, quem desencadeie a
luta contra o Congresso, censure o rádio, ameace a imprensa e, com ela, todos os
meios de manifestações do pensamento, abrindo o caminho à ditadura.
Os Poderes
Legislativo e Judiciário, as classes armadas, as forças democráticas devem estar
alertas e vigilantes e prontos para combater todos aqueles que atentarem contra
o regime.
O Brasil já sofreu
demasiado com o Governo atual. Agora, basta!
Correio da Manhã
(1
abril de 1964)
“Fora!”
“Art.
83. Parágrafo único. O Presidente da República prestará, no ato da posse, este
compromisso: "Prometo manter, defender e cumprir a Constituição da República,
observar as suas leis, promover o bem geral do Brasil, sustentar-lhe a união, a
integridade e a independência".
Este foi o juramento prestado pelo Sr. João Goulart no
dia 7 de setembro de 1961, perante o Congresso Nacional. Jurou e não cumpriu.
Não é mais Presidente da República. Fora!
A Nação não mais
suporta a permanência do Sr. João Goulart à frente do Governo. Chegou ao limite
final a capacidade de tolerá-lo por mais tempo. Não resta outra saída ao Sr.
João Goulart senão a de entregar o Governo ao seu legítimo sucessor. Só há uma
coisa a dizer ao Sr. João Goulart: saia.
Durante dois anos o
Brasil agüentou um Governo que paralisou o seu desenvolvimento econômico,
primando pela completa omissão, o que determinou a completa desordem e a
completa anarquia no campo administrativo e financeiro.
Quando o Sr. João
Goulart saiu de seu neutro período de omissão foi para comandar a guerra
psicológica e criar o clima de intranqüilidade e de insegurança, que teve o seu
auge na total indisciplina que se verificou nas Forças Armadas.
Isto significou e
significa um crime de alta traição contra o regime, contra a República, que ele
jurou defender.
O Sr. João Goulart
iniciou a sedição no País. Não é possível continuar no poder. Jogou os civis
contra os militares e os militares contra os próprios militares. É o maior
responsável pela guerra fratricida que se esboça no território
nacional.
Por ambição pessoal,
pois sabemos que o Sr. João Goulart é incapaz de assimilar qualquer ideologia,
ele quer permanecer no Governo a qualquer preço.
Todos nós sabemos o
que representa de funesto uma ditadura no Brasil, seja ela de direita ou de
esquerda, porque o povo, depois de uma larga experiência, reage e reagirá com
todas as suas forças no sentido de preservar a Constituição e as liberdades
democráticas.
O Sr. João Goulart
não pode permanecer na presidência da República, não só porque se mostrou
incapaz de exercê-la, como também porque conspirou contra ela, como se verificou
pelos seus últimos pronunciamentos e seus últimos atos.
Foi o Sr. João
Goulart quem iniciou de caso pensado uma crise política, social e militar,
depois de ter provocado a crise financeira, com a inflação desordenada e o
aumento do custo de vida em proporções gigantescas.
Qualquer ditadura,
no Brasil, representa o esmagamento de todas as liberdades, como aconteceu no
passado e como tem acontecido em todos os países que tiveram a desgraça de vê-la
vitoriosa.
O Brasil não é mais
uma nação de escravos. Contra a desordem, contra a mazorca, contra a perspectiva
de ditadura, criada pelo próprio Governo atual, opomos a bandeira da
legalidade.
Queremos que o Sr.
João Goulart devolva ao Congresso, devolva ao povo o mandato que ele não soube
honrar.
Nós do Correio da
Manhã defendemos intransigentemente em agosto e setembro de 1961 a posse do Sr.
João Goulart, a fim de manter a legalidade constitucional. Hoje, como ontem,
queremos preservar a Constituição. O Sr. João Goulart deve entregar o Governo ao
seu sucessor, porque não pode mais governar o País.
A Nação, a
democracia e a liberdade estão em perigo. O povo saberá defendê-las. Nós
continuaremos a defendê-las.
O
Globo
(2
de abril de 1964)
“Ressurge
a Democracia!”
Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se
todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou
opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a
lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes
a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a
hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que
insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e
tradições.
Como dizíamos, no
editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a
escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria
legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da
Nação horrorizada.
Agora, o Congresso
dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua
marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam
afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado
volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos
estava a levar à anarquia e ao comunismo.
Poderemos, desde
hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos
problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com
má-fé, demagogia e insensatez.
Salvos da
comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos
bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos
porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a
defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não
confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um
daqueles poderes, o Executivo.
As Forças Armadas,
diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República
E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”
No momento em que o
Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos
das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo,
conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade,
assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das
corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no
Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e
da lei.
Atendendo aos
anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos
últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as
Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de
seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos
vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.
Este não foi um
movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida
política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras
presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais
respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças
Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.
A esses líderes
civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que
nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a
ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação
popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios
constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.
Se os banidos, para
intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem
o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as
massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o
Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no
Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro
foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise,
sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande
favor.
Seguem
agora trechos de outros editoriais de grandes jornais da
época:
"De
Norte a Sul vivas à Contra-Revolução"
“Desde ontem se instalou no País a verdadeira
legalidade. Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de
mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade
está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas” (Jornal do
Brasil, Rio de Janeiro, 1 de abril de
1964).
"Multidões em
júbilo na Praça da Liberdade"
"Ovacionados o
governador do estado e chefes militares.O ponto culminante das comemorações que
ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e pela
democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao Palácio da
Liberdade. Toda área localizada em frente à sede do governo mineiro foi
totalmente tomada por enorme multidão, que ali acorreu para festejar o êxito da
campanha deflagrada em Minas (...), formando uma das maiores massas humanas já
vistas na cidade” (O Estado de Minas,
Belo Horizonte, 2 de abril de 1964).
“A
população de Copacabana saiu às ruas, em verdadeiro carnaval, saudando as tropas
do Exército. Chuvas de papéis picados caíam das janelas dos edifícios enquanto o
povo dava vazão, nas ruas, ao seu contentamento” (O
Dia,
Rio de Janeiro, 2 de abril de 1964).
“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder
como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart,
infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas. Um dos maiores
gatunos que a história brasileira já registrou., o Sr João Goulart passa outra
vez à história, agora também como um dos grandes covardes que ela já
conheceu” (Tribuna da Imprensa,
Rio de Janeiro, 2 de abril de 1964).
"A paz
alcançada"
A" vitória da causa
democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves
dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva
seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças
Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do
Brasil” (O Povo, Fortaleza, 3
de abril de 1964).
“Vibrante
manifestação sem precedentes na história de Santa Maria para homenagear as
Forças Armadas. (...) Cinquenta mil pessoas na Marcha Cívica do
Agradecimento”(A Razão, Santa Maria - RS, 17 de abril de 1964).
“Sabíamos, todos que
estávamos na lista negra dos apátridas, que se eles consumassem os seus planos,
seríamos mortos. Sobre os democratas brasileiros não pairava a mais leve
esperança, se vencidos. Uma razzia de sangue vermelha como eles atravessaria o
Brasil de ponta a ponta, liquidando os últimos soldados da democracia, os
últimos paisanos da liberdade” (Revista O
Cruzeiro, edição extra de 10 de abril de 1964
– Edição Histórica da Revolução, artigo Saber
ganhar, de David Nasser).
“Golpe? É crime só
punível pela deposição pura e simples do Presidente. Atentar contra a Federação
é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr. João Goulart de crime de
lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida, desordem social e corrupção
generalizada” (Jornal do Brasil,
edição de 1 de abril de 1964).
"...cuja subversão
além de bloquear os dispositivos de segurança de todo o hemisfério , lançaria
nas garras do totalitarismo vermelho, a maior população latina do mundo..."(31
de março de 1964, Folha da
Tarde, do Editorial A grande ameaça).
"Quem quisesse
preparar um Brasil nitidamente comunista não agiria de maneira tão fulminante
quanto a do Sr. João Goulart a partir do comício de 13 de março..." (31 de março de 1964, Jornal do Brasil).
"Minas
desta vez está conosco (...) Dentro de poucas horas, essas forças não serão mais
do que uma parcela mínima da incontável legião de brasileiros que anseiam por
demonstrar definitivamente ao caudilho que a nação jamais se vergará às suas
imposições" (1 de abril de 1964, O Estado de São
Paulo).
"Feliz
a nação que pode contar com corporações militares de tão altos índices cívicos.
(...) Os militares não deverão ensarilhar suas armas antes que emudeçam as vozes
da corrupção e da traição à pátria" (5 de abril de
1964, O Estado de
Minas).
"Forças Armadas violaram a Constituição para poder
salvá-la!" (6 de abril
de 1964,Jornal do Brasil).
"A
Revolução democrática antecedeu em um mês a revolução comunista" (5
de abril de 1964, O
Globo).
Leia ainda matérias da revista O Cruzeiro, maior
revista do país na época, celebrando o contra-golpe de 1964: primeiro,
veja aqui como foi a
Revolução de 1964 no Rio de Janeiro; depois, veja aqui como foi em
São Paulo; e aqui,
como foi em Minas Gerais; e ainda aqui como se deu a
reação dos principais políticos da época; e aqui as explicações
porque o golpe aconteceu.
No
próximo artigo (*),
os protestos e mobilização nas ruas de todo o país contra Jango, e os crimes dos
terroristas de esquerda que adiaram a volta das eleições diretas e levaram ao
AI-5.
(*)
Para que todos os comentários sobre este assunto se encontrem em um mesmo lugar
no blog, isto é, em um mesmo espaço de comentários em vez de se dividirem entre
os espaços de comentários de dois artigos com datas distantes uma da outra,
resolvi publicar a segunda parte dessa série neste mesmo espaço - clarificando:
no espaço de comentários deste artigo. Tal medida facilitará pesquisas futuras
sobre o tema neste blog. O próximo artigo, se o Senhor permitir, deverá sair do
forno até o final de semana (S.D., 03/02/2010). P.S.:
Não foi possível concluir o segundo artigo na data pretendida, mas brevemente,
como prometido, ele será postado
(S.D., 01/04/2010).
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