Caros Amigos a Amigas
Como prometi estou lhes entregando um texto que
considero muito esclarecedor para quem quer conhecer mais o novo papa, ao mesmo
tempo em que nele recupero alguma informação factual sobre os últimos três
pontificados. De fato, foi uma grande surpresa a eleição do cardeal argentino;
novidade para mim e para muitos. Agora, ainda não refeito da surpresa e da novidade, começo a
reconstruir os fatos, os acontecimentos, e os bastidores agora revelados do
recente conclave.
A base da informação, como disse em post
anterior, provem do jornalista americano John Allen, um vaticanista que morou em
Roma de 2000 até 2006 quando retornou ao seu país. É dele as informações sobre a
vida franciscana do cardeal Bergoglio que a mídia brasileira e internacional
repercutem.
Ele também nos relata que este conclave foi único em um aspecto:
cinqüenta cardeais que participaram do conclave de 2005 que elegeu o papa Bento
XVI estavam presentes neste.
Havia uma experiência e uma prática que podia se
repetir, isto é, a série de eventos que levou o cardeal Bergoglio a largar com
40 votos e na frente do cardeal Ratzinger no conclave de 2005. Foi ultrapassado
por Ratzinger porque abriu mão de seus votos em seu favor, embora não tenha
feito isso por submissão, por imperativo ou servilidade, como veremos.
Tampouco
se deixou manipular por maiorias interessadas da Cúria. Dividia com o cardeal
Ratzinger, como o fez com o papa João Paulo II, um amor pelas doutrinas do Padre
Luigi Giussani – Communione e Liberazione – doutrina que o papa Bento XVI
confessou ter mudado a sua vida.
Essa doutrina os une, e enquanto vivia João
Paulo II unia os três. Eles eram os cielini (CL), os seguidores da nova
doutrina. A turma do Ratzinger no conclave, uma expressiva maioria que o
respeitava intelectualmente, embora soubesse de sua pouca vocação para a
administração política e econômica, sabia da adoração dos três papas pela
doutrina do Pe. Luigi. Que doutrina é essa, tão importante e que une agora três
papas?
Melhor para mim do que tentar defini-la ou
explicá-la é transcrever e traduzir semanticamente um trecho da homilia fúnebre
de Joseph Ratzinger, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. John
Allen nos relata que Ratzinger jamais tinha falado antes para uma platéia tão
numerosa.
Rocco Palmo nos diz que mais de 30 mil fiéis lotavam o duomo de Milão
e a enorme piazza em frente para homenagear o Pe. Luigi Giussani em 24 de
fevereiro de 2005. Só o papa João Paulo II não estava lá; estava no Hospital
Gemeli; morreria dois meses depois. Impossibilitado de estar presente nomeou
Ratzinger, às instâncias deste, como seu enviado especial para homenagear aquele
que seria considerado o Homem do Ano na Igreja Católica.
Reproduzo algumas palavras de Ratzinger em
homenagem ao fundador da Communione e Liberazione: citando o próprio Pe . Luigi
no funeral: “O Pe. Giussani sempre manteve seus olhos e seu coração fixados em
Cristo. Deste modo ele entendia que o cristianismo não é um sistema intelectual,
um pacote de dogmas, um moralismo; mais do que isso, o cristianismo é um
encontro (uma presença), uma história de amor, um evento”. Reparem aqui que o
foco do cristianismo não é a Igreja, suas regras morais, sua liturgia, suas
encíclicas, mas o próprio Cristo.
Há um quê reformista nesta doutrina que lembra
a simplicidade de São Francisco ao retorno de Jesus caridoso. Um Francisco que
se despojou e abraçou os pobres e os sofredores. Communione significa presença
de Cristo, um acontecimento na vida de cada um de nós que não deve ficar em nós,
mas antes ser compartilhado.
Este acontecimento, ou presença de Cristo, torna-se
razoável e verdadeiro ao nosso conhecimento – razão e verdade tornam-se
concretas nessa experiência. Foi isso que Ratzinger quis dizer sobre o Milagre
de Fátima? Que a experiência acontece em nós, tornando verdadeiro para nós o
milagre? Liberazione, a liberdade, é a consequência inevitável e reparadora,
algo maravilhoso que se atinge automaticamente, isto é, sem a mediação da Igreja
e suas amarras ideológicas e seus entraves materiais facilmente corruptíveis;
por fora da Igreja, o Cristo puro na alma e no coração. A libertação vem da
verdade atingida, alcançada.
Os sedevacantistas acusaram João Paulo II de
heresia por ele ter dito que o Homem é Deus. O Deus-Jesus da presença acontece
em nós. Não foi isso que quis dizer João Paulo II? Sabe-se que João Paulo II
recebia pouca gente em privado, abrindo seu gabinete ao pessoal do Opus Dei, ao
jesuíta Superior-Geral Peter-Hans Kolvenbach, e ao próprio Monsenhor Luigi
Giussani. O sucessor do Monsenhor Luigi Giussani, Julian Carron, foi recebido em
particular por Bento XVI várias vezes. Pertencem também ao cielini, o cardeal
Scola, o canadense Marc Oulet, e Christoph Shöenborn, os três muitíssimo cotados
para o este conclave.
O Padre Luigi Giussani teve no jesuíta Jorge
Mario Bergoglio um seguidor dos mais fervorosos e apaixonados, tanto na
aceitação integral da sua doutrina, quanto no comportamento ascético, frugal,
humilde, com a recusa da glória. Nas Feiras Literárias na Argentina o jesuíta
Bergoglio difundia o trabalho do venerado Padre Luigi, como disse, apaixonado
por sua doutrina piedosa, verdadeiramente piedosa, diferente da Igreja que,
segundo suas palavras de hoje – palavras de Francisco – está em vias de se
tornar uma “ONG piedosa e não a Casa do Senhor”.
No conclave de 2005 outro jesuíta estava cotado
para sair eleito papa: o cardeal Martini de Milão. Mas Martini não professava a
mesma devoção pelo Padre Luigi; ele não seria o seguidor. O seguidor que se fez
papa foi Ratzinger, o papa da devoção à Communione e à Liberazione. Nada mais
natural que essa devoção compartilhada por mais de 100.000 fiéis no mundo
tivessem na pessoa do jesuíta argentino uma CONTINUIDADE na oportunidade que se
apresentou na renúncia programada de Bento XVI.
Assim, não há ruptura nem mudança, como ontem
cheguei a escrever. Vou além, esse papado de Francisco é transitório; ele é uma
garantia da nova teologia professada. É também uma tomada de tempo enquanto a
Igreja tenta se reequilibrar dos seus fracassos materiais. É uma grande jogada
de marketing, no bom sentido, quando o papa se chama Francisco. Quem resiste a
Francisco? Um papa americano, um papa jesuíta, um papa não ligado à Cúria, à
Europa, aos velhos vícios. De quebra, a Igreja e o Cristianismo ganhando um
revitalizado pastoreio de almas, um potencial evangelizador com o feitio de dois
Franciscos e não apenas um.
As mentes mais mesquinhas e curtas da oposição
comunista já fazem Francisco sofrer em menos de 24 horas. De novo, porque em
2005 um advogado comunista argentino tentou desestabilizar o cardeal Bergoglio
às vésperas do conclave. Esse ataque parte de desgraçados que nele não enxergam
alguém disposto à mentira criminosa com que acostumaram a sociedade que
controlam. Gente que vive da fraude pomposa de uma militância e de uma guerrilha
comunista na Argentina e com simpatizantes no Brasil na figura sinistra de uma
CNBB, hoje uma despeitada CNBB. Na Argentina, o Foro de São Paulo, firmemente
instalado na dinastia Kirchner, late a plenos pulmões contra
Francisco.
Não é a mesma crítica dos sedevacantistas que
enxergam–no como o mais novo anti-papa. Aqui as razões são muito diferentes: a
Communione e a Liberazione têm aos seus olhos cores heréticas, anti-dogmáticas,
apóstatas, anti-conciliares pré-Concílio Vaticano II. Parecem não entender que o
foco de Bento XVI e de Francisco não está na Cúria nem no papado propriamente
dito. A renúncia de Bento XVI é a renúncia a isso. Não posso deixar de
considerar também que a razão da renúncia surpreendente fica melhor explicada
pela possibilidade ímpar e única de Ratzinger PARTICIPAR do conclave garantindo
a CONTINUIDADE daquilo que para ele é o mais importante – o caso de amor com
Cristo, segundo a doutrina da Communione e Liberazione. Essa é a sua preghiera
atual e já de alguns anos.
A origem da simplicidade, como modo de vida
levada pelo Bergoglio/Francisco, acho que ficou muito bem explicada. Daí fica
mais fácil entender a idade de 76 anos de Francisco ao conclave não ter sido um
fator a ser levado em conta. Seria determinante em outras circunstâncias,
segundo as expectativas gerais. Isso para mim significa e demonstra a
transitoriedade do seu papado. Daí a Igreja de Francisco, pura, simples,
renovada. Se for breve outros a seguirão. Como os progressistas (comunistas
disfarçados) entenderiam Francisco? Foi por isso que os cardeais foram “buscar
no fim do mundo” um novo Francisco, um novo tempo para a Igreja de
Cristo.
Para concluir, quem gosta de Bento XVI talvez
não saiba que gosta dele por este motivo que apontei. Quem não gosta dele (o
caso mais claro o dos sedevacantisas, isto é, aqueles que consideram que todos
os papas depois de 1958 são antipapas e ilegítimos) têm outras razões: ele
parece sair da linha conciliar tradicional, revogando doutrinas, desprezando
milagre, dogmas, e encíclicas, especialmente as dos papas Pio IX, Pio X (Santo
da Igreja) que retornam a São Roberto Belarmino, ícone dos tradicionalistas
anti-modernistas e anti-Concílio Vaticano II. No caso dos milagres, os três
últimos papas os interpretam de maneira diferente, muito mais sutilmente. Acho
que o sedevacantistas têm razão em parte. Mas, no mínimo, Francisco tem o
benefício da dúvida.
Ninguém mais fala em Nossa Senhora de Fátima,
embora hoje o papa Francisco tenha ido celebrar missa em Santa Maria Maggiori em
Roma. Vou esperar o papa Francisco falar em Nossa Senhora de Fátima ou na
presença de Nossa Senhora do Rosário, como Ela se apresentou aos pastorinhos em
1917.
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