"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 19 de março de 2013

CAMPOS ASSEDIADO POR DESCONTENTES DA BASE ALIADA E EMPRESÁRIOS

Governador de Pernambuco e presidente do PSB recebe apoio em várias frentes

Campos tem dividido sua agenda entre Brasília e São Paulo
Foto: Marcos Alves / Arquivo O Globo
Campos tem dividido sua agenda entre Brasília e São PauloMarcos Alves / Arquivo O Globo

O presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, cada dia mais assediado por descontentes da base governista, tem dividido sua agenda entre Brasília e São Paulo, onde volta a se encontrar, nesta quarta-feira, com representantes de outros setores do empresariado nacional. E até os 'dilmistas' não se furtam a marcar encontros com ele.

As reuniões que teria em Brasília nesta terça-feira — com o bloco União e Força (PTB-PR e PSC), que reúne 14 senadores e comandado pelo líder do PTB, Gim Argelo (DF), e mais seis rebelados do PMDB — foram adiadas para depois da Semana Santa, em função de reuniões em São Paulo, mas a euforia é grande.

Mesmo com o reforço da presença do PMDB no Ministério de Dilma na semana passada, Campos está abrindo frentes no PMDB do Mato Grosso do Sul por meio do senador Waldemir Moka (PMDB-MS) e do governador André Puccineli (PMDB-RS), com quem almoçou duas vezes em Brasília nos últimos dias. Lá, o governador perbambucano articula ainda com o grupo do ex-prefeito Nélson Trad Filho, também do PMDB. Outra ala do PMDB em contato com Eduardo Campos é a comandada pelos irmãos Viera Lima (Geddel e deputado Lúcio), da Bahia.

O senador e empresário Armando Monteiro (PTB-PE), ex-presidente da CNI, está entre os organizadores do encontro do provável adversário da presidente Dilma Rousseff em 2014, com o “Bloco do Gim”, aliado de primeira hora do governo, e que tem entre seus integrantes o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) — este último citado semana passada pela presidente como parceiro fiel. O almoço com Eduardo Campos estava marcado para esta terça-feira, na liderança do PTB no Senado. Mas Campos disse que teria que viajar a São Paulo e remarcou para depois da Páscoa.

Monteiro disse que o convite a Eduardo partiu de outros companheiros do bloco União e Força, e ele, como Pernambucano, está ajudando a organizar o encontro.

— Estou achando que Eduardo está ganhando muito espaço na opinião pública e na opinião publicada. Há uma demanda, uma curiosidade do país, e uma busca por alguma coisa nova nesse processo sucessório. Ele é um político hábil e moderno, que está indo muito bem. Aloysio Nunes, líder do PSDB, já disse que o vento está batendo na vela dele, e eu concordo com isso — disse Armando Monteiro.

Do jantar do PMDB devem participar os senadores Jarbas Vasconcelos — que já se reconciliou com Eduardo na última eleição de prefeito em Recife —, Ricardo Ferraço(PMDB-ES), Luis Henrique da Silveira (PMDB-SC), Casildo Maldaner (PMDB-SC), além de Waldemir Moka.

— Aqui no Senado tem uma avalanche de gente querendo conversar com Eduardo. O que me preocupa é a antecipação da campanha, que pode queimar não só a titular (Dilma), mas Aécio (Neves, do PSDB) e Eduardo — disse Jarbas, ontem.

— Eduardo Campos é o que há de novo na política real e pode agregar os descontentes. Essa alteração no Ministério para amarrar o PMDB e nada é a mesma coisa! Quem quer saber se saiu Joaquim e entrou Joana? Alguém imaginava que Kassab, do PSD, ia tomar a posição que tomou? Acho que o gato da presidente Dilma subiu no telhado — completou Ferraço.

No caso dos peemedebistas do Mato Grosso do Sul, o senador Moka disse que a disputa com o PT local pode jogá-los nos braços do Eduardo Campos, e adianta que já tratou disso com o governador de Pernambuco. Moka relata que nas duas últimas eleições presidenciais, o PMDB no estado apoiou o PSDB e ganharam no primeiro e segundo turno contra Lula e Dilma, respectivamente. Mas que na eleição passada, a municipal de 2012, o PSDB resolveu lançar candidato próprio em Campo Grande, e a aliança foi rompida. Agora Campos é a alternativa, diz.

— Hoje o Puccineli está liberado. Pela primeira vez a tendência era apoiar a reeleição de Dilma, com um candidato a governador do PMDB, mas o Delcidio Amaal (senador petista) disse que não aceita dois palanques, que se quisermos apoiar a Dilma, temos que apoiar ele também. Aí não tem jeito. O PMDB é o maior partido e não pode ter dois palanques? Então, neste momento, se concretizar a candidatura do Eduardo, ele é alternativa. A intransigência do PT está levando a isso. Só querem ser apoiados, sempre.

19 de março de 2013
Maria Lima - O Globo

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