Há mais um partido na praça. Trata-se da Rede, de Marina Silva, candidata que recebeu 20 milhões de votos nas últimas eleições presidenciais. Tem muita gente cansada da dicotomia entre PT e PSDB, em busca de alguma alternativa. Será que a Rede é a solução?
Confesso ao leitor que ela não me convence. Para começo de conversa, o partido fez como o fisiológico PSD, de Kassab, e alegou não ser de esquerda nem de direita, pró-governo nem oposição. Contudo, quando vamos verificar quem são as pessoas por trás dele, só encontramos gente de esquerda, inclusive da ala mais radical, aquela que ainda sonha com o fracassado socialismo cubano.
Um de seus gurus intelectuais é Leonardo Boff, da Teologia da Libertação, uma mistura tosca entre cristianismo e marxismo. Marina veste literalmente o boné dos invasores de terra do MST. Vários membros do PSOL pretendem migrar para a Rede. E por aí vai.
Alguns ali abraçam a cruzada ecológica, mas tampouco me enganam. São “melancias”: verdes por fora, mas vermelhos por dentro. Seu discurso transforma o meio ambiente em religião antiprogresso, e dá para notar claramente o viés anticapitalista. O planeta será salvo pelo resgate do “bom selvagem”, de uma vida comunitária idealizada, como no filme “Avatar”. Estou fora dessa seita romântica!
Resta a importante questão ética. Uma vez mais, eu não fico tão convencido. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que Marina teve quase três décadas de filiação ao PT. E não é novidade alguma o uso de práticas imorais do partido em sua busca implacável pelo poder. Elas chegaram ao auge do absurdo com o mensalão, mas não foram iniciadas ali.
Relações com o jogo do bicho, parceria com ditadores comunistas, até mesmo afinidade e aproximação com os guerrilheiros das FARC representam o histórico do PT desde muito tempo. A bandeira da ética sempre foi hipócrita, e está totalmente esgarçada pelas traças do poder.
Esse rompimento tardio de Marina, que foi ministra de Lula, remete ao caso do escritor Saramago, que rompeu com Fidel Castro após uma nova perseguição a três intelectuais cubanos, ignorando os milhares de cadáveres acumulados na mais longa ditadura da América Latina.
Marina Silva resolveu sair do PT apenas quando seu espaço político estava prejudicado. Mas ela fez parte do governo, ainda que não tenha praticado atos ilegais. Quando abandonou o PT, disse que foi preciso coragem para sair de sua “casa política”, à qual ainda nutria profundo respeito. Quem respeita tanto assim o PT perde o meu respeito.
A Rede fez muito barulho com a bandeira ética, tal como o PT de ontem. Mas começou mal, ao recusar dinheiro de empresas de tabaco e cerveja, mas aceitar o de empreiteiras (eu inverteria). Aceitou ainda gente do PSOL envolvida no escândalo do bicheiro Cachoeira. Será que Marina concorda com José Dirceu, para quem a Lei da Ficha Limpa é absurda? Caiu na Rede é peixe?
Em suma, por trás daquela fala mansa e da mensagem messiânica (o próprio Alfredo Sirkis afirmou que se trata mais de um “estado de espírito” do que de prática política), jaz o embrião de mais um partido populista e demagógico, uma espécie de PT revigorado e embalado em alface orgânico. Um projeto personalista da “salvadora da pátria”.
O Brasil, infelizmente, continua com uma hegemonia de esquerda na vida política. Todos os partidos relevantes rezam o mesmo credo socialista envergonhado: intervencionista na economia, coletivista e paternalista no social. Nenhum fala abertamente em privatização, em redução do papel do governo na economia e em nossas vidas. Todos querem assumir o papel de “pai do povo” e controlar 40% do PIB nacional.
O grande nome “novo” é Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes e líder de um partido que ainda se diz socialista. Do lado dos tucanos, temos Aécio Neves, que parece o melhor da turma. Mas algo ali não cheira bem. Falta disposição para assumir uma postura efetiva de oposição.
Os milhões de brasileiros cansados da completa falta de ética na política, do viés estatizante de todos esses partidos, continuam órfãos políticos, sem representação partidária. Sei que há partidos demais (legendas, na verdade), mas precisamos de uma alternativa verdadeira, sem medo de assumir sua posição de direita liberal, a favor do livre mercado, da família e da propriedade.
Um partido que não venda ilusões e milagres por meio da pesada mão do Estado, mas sim reformas que devolvam o poder a cada um de nós. Um partido que diga “Basta!” a todos esses privilégios e subsídios estatais. Precisamos de algo realmente NOVO!
05 de março de 2013
Rodrigo Constantino, O Globo
Confesso ao leitor que ela não me convence. Para começo de conversa, o partido fez como o fisiológico PSD, de Kassab, e alegou não ser de esquerda nem de direita, pró-governo nem oposição. Contudo, quando vamos verificar quem são as pessoas por trás dele, só encontramos gente de esquerda, inclusive da ala mais radical, aquela que ainda sonha com o fracassado socialismo cubano.
Um de seus gurus intelectuais é Leonardo Boff, da Teologia da Libertação, uma mistura tosca entre cristianismo e marxismo. Marina veste literalmente o boné dos invasores de terra do MST. Vários membros do PSOL pretendem migrar para a Rede. E por aí vai.
Alguns ali abraçam a cruzada ecológica, mas tampouco me enganam. São “melancias”: verdes por fora, mas vermelhos por dentro. Seu discurso transforma o meio ambiente em religião antiprogresso, e dá para notar claramente o viés anticapitalista. O planeta será salvo pelo resgate do “bom selvagem”, de uma vida comunitária idealizada, como no filme “Avatar”. Estou fora dessa seita romântica!
Resta a importante questão ética. Uma vez mais, eu não fico tão convencido. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que Marina teve quase três décadas de filiação ao PT. E não é novidade alguma o uso de práticas imorais do partido em sua busca implacável pelo poder. Elas chegaram ao auge do absurdo com o mensalão, mas não foram iniciadas ali.
Relações com o jogo do bicho, parceria com ditadores comunistas, até mesmo afinidade e aproximação com os guerrilheiros das FARC representam o histórico do PT desde muito tempo. A bandeira da ética sempre foi hipócrita, e está totalmente esgarçada pelas traças do poder.
Esse rompimento tardio de Marina, que foi ministra de Lula, remete ao caso do escritor Saramago, que rompeu com Fidel Castro após uma nova perseguição a três intelectuais cubanos, ignorando os milhares de cadáveres acumulados na mais longa ditadura da América Latina.
Marina Silva resolveu sair do PT apenas quando seu espaço político estava prejudicado. Mas ela fez parte do governo, ainda que não tenha praticado atos ilegais. Quando abandonou o PT, disse que foi preciso coragem para sair de sua “casa política”, à qual ainda nutria profundo respeito. Quem respeita tanto assim o PT perde o meu respeito.
A Rede fez muito barulho com a bandeira ética, tal como o PT de ontem. Mas começou mal, ao recusar dinheiro de empresas de tabaco e cerveja, mas aceitar o de empreiteiras (eu inverteria). Aceitou ainda gente do PSOL envolvida no escândalo do bicheiro Cachoeira. Será que Marina concorda com José Dirceu, para quem a Lei da Ficha Limpa é absurda? Caiu na Rede é peixe?
Em suma, por trás daquela fala mansa e da mensagem messiânica (o próprio Alfredo Sirkis afirmou que se trata mais de um “estado de espírito” do que de prática política), jaz o embrião de mais um partido populista e demagógico, uma espécie de PT revigorado e embalado em alface orgânico. Um projeto personalista da “salvadora da pátria”.
O Brasil, infelizmente, continua com uma hegemonia de esquerda na vida política. Todos os partidos relevantes rezam o mesmo credo socialista envergonhado: intervencionista na economia, coletivista e paternalista no social. Nenhum fala abertamente em privatização, em redução do papel do governo na economia e em nossas vidas. Todos querem assumir o papel de “pai do povo” e controlar 40% do PIB nacional.
O grande nome “novo” é Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes e líder de um partido que ainda se diz socialista. Do lado dos tucanos, temos Aécio Neves, que parece o melhor da turma. Mas algo ali não cheira bem. Falta disposição para assumir uma postura efetiva de oposição.
Os milhões de brasileiros cansados da completa falta de ética na política, do viés estatizante de todos esses partidos, continuam órfãos políticos, sem representação partidária. Sei que há partidos demais (legendas, na verdade), mas precisamos de uma alternativa verdadeira, sem medo de assumir sua posição de direita liberal, a favor do livre mercado, da família e da propriedade.
Um partido que não venda ilusões e milagres por meio da pesada mão do Estado, mas sim reformas que devolvam o poder a cada um de nós. Um partido que diga “Basta!” a todos esses privilégios e subsídios estatais. Precisamos de algo realmente NOVO!
05 de março de 2013
Rodrigo Constantino, O Globo
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