Joaquim
Barbosa se recusa a polemizar com juízes da AMB, Ajufe e Anamatra, acirrando
guerra togada
05 de março de 2013
A já elevada
temperatura nos bastidores togados deve esquentar ainda mais hoje, na sessão do
Conselho Nacional de Justiça. O presidente Joaquim Barbosa tentará aprovar a
decisão que impede juízes de contratarem procuradores da Fazenda Nacional para
ajudá-los em decisões. Barbosa defende a tese de que a Receita Federal estaria
sendo muito favorecida quando ocorre tal assessoria, em detrimento dos
contribuintes.
A
decisão – sobre um tema de rotina do Judiciário – tem tudo para aprofundar uma
guerra aberta e declarada entre Joaquim Barbosa e entidades representativas de
magistrados. O presidente do STF e do CNJ se recusa a comentar o teor de um
manifesto contra ele lançado pelos presidentes da Associação dos Magistrados
Brasileiros (AMB), Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e Associação
Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra).
Barbosa
não abre mão de seu pensamento sobre a necessidade de uma reforma do Judiciário:
"O Judiciário que aspiramos a ter é sem firulas, floreios ou rapapés". No
comando do CNJ, Barbosa já investiu em duas decisões que mexeram com o
corporativismo togado. A primeira foi limitar a 30% do custo total o patrocínio
privado a eventos de juízes. A segunda, que causou mais pânico, é a proposta de
diminuir os 60 dias de férias da magistratura.
O
medo maior das entidades representativas de juízes é com a proposta de Barbosa
para o novo Estatuto da Magistratura. AMB, Ajufe e Anamatra sequer foram
consultadas por Barbosa sobre o assunto. O presidente do Supremo apenas criou
uma comissão interna para estudar o assunto que será entregue ao Congresso
Nacional. Barbosa sequer recebe os dirigentes das três entidades, como faziam
seus antecessores Cezar Peluso e Ayres Britto – o que gera ira e ciumeira entre
os togados postos de lado.
As entidades
reclamam que tais “ataques” de Joaquim Barbosa aos juízes e desembargadores
representam um risco para a liberdade e a independência da magistratura
brasileira. A gota d´água para o ataque unido a Barbosa foi a comparação -
feita pelo ministro - entre magistrados e membros do Ministério Público, em
recente entrevista a correspondentes estrangeiros.
Barbosa cutucou
seus colegas de toga: “As carreiras jurídicas são muito parecidas. Por exemplo,
as carreiras de um juiz ou de um procurador ou promotor de Justiça, são muito
próximas. Os concursos são os mesmos, a remuneração é a mesma, o pessoal quase
todo sai das mesmas escolas. Uma vez que se ingresse em uma dessas carreiras, as
mentalidades são absolutamente díspares. Uma é mais conservadora, pró status
quo, pró impunidade. E a outra rebelde, contra status quo, com pouquíssimas
exceções”.
Barbosa também
causou frisson entre seus adversários na toga, ao reafirmar aos jornalistas
estrangeiros sua visão sobre o papel político do Supremo Tribunal Federal: “Eu
costumo dizer aqui, em palestras, que isso aqui não é só um tribunal, né? Isso
aqui é um órgão de equilíbrio, de ajustes da Federação, do sistema político, que
decide muitas coisas de interesse imediato da sociedade. Então não é uma corte
de justiça comum, é um órgão político no significado essencial da palavra, de
igual para igual com o Congresso Nacional e a Presidência da República. É isso
que muita gente não entende, sobretudo os europeus”.
O Judiciário está
em guerra intestina. Os inimigos de Barbosa alegam que ele tem um projeto
político articulado – provavelmente para 2014. Pessoas próximas a Barbosa – e
ele próprio – descartam tal possibilidade. Perante a opinião pública, Barbosa
está bem na fita. O Judiciário como um todo, não.
Resta esperar
para ver no que vão redundar os conflitos contra Barbosa e os ataques dele ao
modelo de Justiça no Brasil.
Aula de História
Circula
na internet reprodução do diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de
Luís XIV, entre 1643 e 1715, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine
Rault:
Colbert:
- Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é
possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível
continuar a gastar quando já se está endividado até o
pescoço…
Mazarino:
- Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão.
Mas o Estado é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então,
ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!
Colbert:
- Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos
imagináveis?
Mazarino:
- Criando outros.
Colbert:
- Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os
pobres.
Mazarino:
- Sim, é impossível.
Colbert:
- E sobre os ricos?
Mazarino:
- Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver
centenas de pobres.
Colbert:
- Então, como faremos?
Mazarino:
- Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade
enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando
enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos,
cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão
para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a
classe média!
Abismo de Rosas
Vida que
segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
05 de março de 2013
Jorge Serrão é Jornalista,
Radialista, Publicitário e Professor.
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