"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 5 de março de 2013

MENTIROSOS E CANALHAS


Nem todo mentiroso é canalha. Uns mentem por compulsão, outros por interesse. Estes imaginando melhorar de vida, aqueles pretendendo escapar da cadeia. Existem, porém, os mentirosos que são canalhas, isto é, que mentem por canalhice.


Vai um episódio verificado nesses dias em que, por conta de uma intervenção cirúrgica nos olhos, obriguei-me a suspender a redação desta coluna. Seriam poucos dias, aliás, dois ou três. Chegaram a onze.

Vejamos por que: deixei o hospital na sexta-feira, 22 de fevereiro, sabendo que no fim de semana ficaria afastado do computador doméstico. No domingo, preparei-me para reiniciar minhas atividades na segunda-feira.

Por circunstâncias da natureza, quando mais ouvia do que assistia o “Fantástico”, caiu uma tempestade dos diabos na região onde moro, no Lago Sul da Capital Federal. Faltou energia desde a madrugada no aeroporto e por conta de raios e trovões, ao longo do dia o apagão foi-se estendendo ao bairro. Coisas de São Pedro, mas na segunda-feira bem cedo a luz estava restabelecida.

Qual minha surpresa ao verificar interrompidos os serviços da NET, ou seja, dos canais de televisão a cabo, e pior ainda, o computador informar com aquela indiferença criminosa não poder conectar-se com a Internet.

Naquele dia e nos seguintes, depois de longos períodos de silêncio, informavam gravações, ou então mocinhas pedantes, que o defeito atingia toda a região e nada poderiam fazer. Finalmente, na sexta-feira, primeiro dia de março, já com minha coluna obrigatoriamente suspensa por desídia da empresa, apareceu um funcionário.
Não ficou mais de cinco minutos para tomar conhecimento das interrupções nos canais a cabo e no computador. Disse apenas terem as ligações sido atingidas por um raio. Levou-me a assinar um recibo da visita e disse que ainda naquela tarde chegaria uma equipe especializada.

Não chegou. No sábado, pela manhã, dois técnicos entraram, mas, por artimanhas do diabo, o bairro estava novamente sem luz. Na frente deles acionei a CEB, Companhia Energética de Brasília, toda terceirizada, obtendo e informação de que em 30 minutos a energia estaria restabelecida. Propus à equipe tomar um cafezinho e aguardar, mas talvez por conhecer bem essas práticas advindas das privatizações, ficaram de visitar outro cliente infeliz e voltar dentro de uma hora.

Não voltaram. Novo calvário para conseguir que uma atendente da NET informasse que no dia seguinte, domingo, 3, entre as nove da manhã e as três da tarde, nova equipe estaria em minha casa. Aguardei e nada. Num milagroso atendimento pelas telefonistas que a gente não sabe onde se localizam, ouvi que até às 16.30 a empresa estaria cumprindo seu dever. Da mesma forma, nada.

Ontem, segunda-feira, a explicação foi de que não tinham ido porque faltava energia em toda a região. Retruquei ser mentira, porque no sábado efetivamente a luz voltou em menos de uma hora. Cobrei inutilmente as invisíveis equipes de domingo e de ontem, que também não apareceram, sob a insensibilidade das servidoras dessa multinacional desconhecida.

Assim estamos, nesta terça-feira. Onze dias se passaram sem que minhas obrigações pudessem ser cumpridas, não só pela impossibilidade de sair de casa no período, envolto em curativos em torno dos dois olhos, mas pela incompetência e o desprezo de uma empresa que nem brasileira é, interessada em mandar remessas de lucro para fora.

Hoje, desconfiando de que a equipe também não virá, contrariei as determinações médicas, fui para a rua e incomodei um amigo em cuja residência o computador funciona ligado à NET. Termino esse desabafo com a óbvia recriminação à CEB, que fornece energia quando quer, mas com muito maior e veemente protesto diante dessa quadrilha de canalhas mentirosos escondidos no rótulo de NET e Internet.
Porque há anos pago religiosamente as contas, sabendo que um dia de atraso determinará a suspensão dos serviços. Mas haverá ressarcimento pela inação forçada a que me obriguei? Se uma reclamação à ANATEL torna-se demorado calvário burocrático, imagine-se um recurso à Justiça…

Assim, melhor repetir, no espaço que me resta: CANALHAS MENTIROSOS, O SEU DIA CHEGARÁ!

05 de março de 2013
Carlos Chagas

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