Embaixador em Cingapura diz que agiu a pedido de Pimentel
Diplomata fez afirmação a revista. Ministério nega ação para favorecer Eike
Um ingrediente explosivo foi adicionado à polêmica envolvendo o embaixador do Brasil em Cingapura, Luís Fernando Serra, acusado de ter usado o nome do governo brasileiro para favorecer o empresário Eike Batista, com o objetivo de transferir o projeto do estaleiro Jurong Aracruz do Espírito Santo para o Porto do Açu, de Eike.
Em entrevista à revista “Época”, o diplomata disse ter agido a pedido do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel. Segundo o diplomata, Pimentel queria que ele arranjasse um encontro com um representante da SembCorp, responsável pelo projeto, para falar sobre a troca.
O mesmo apelo teria sido feito por Amaury Pires, diretor de Relações Institucionais da EBX, que informou ao embaixador que Pimentel iria procurá-lo com esse objetivo. Num telefonema, Pimentel teria pedido o encontro com o representante da SembCorp. Serra recebeu na embaixada um ofício em papel, em que o ministro solicita “seus bons préstimos” para marcar a reunião. Na entrevista, Serra conta que, após o telefonema de Pimentel, Pires continuou a procurá-lo em Cingapura por telefone e e-mail.
“Foram inúmeras e incontáveis vezes. O assunto era sempre o mesmo: acertar o encontro entre o executivo da SembCorp e o ministro. Em todas as ocasiões, ele (Amaury Pires) mencionava que o objetivo era levar o investimento para o Porto do Açu. Meu trabalho foi, a pedido do ministro Pimentel, viabilizar o encontro”, disse o embaixador à revista.
Patriota quer detalhes
Procurado, o MDIC negou a versão publicada. Disse que Pimentel recebeu, no último dia 13, o vice-presidente-executivo da SembCorp, Tan Cheg Guanb, e o diretor financeiro, Tan Cheng Tat, para discutir a ampliação dos investimentos da companhia no Brasil. O órgão assegurou que, em nenhum momento, foi discutida a transferência de investimentos no estaleiro e que essa garantia foi dada pelo próprio ministro ao governador capixaba, Renato Casagrande.
“A política de atração de investimentos do governo federal não inclui a discussão sobre a localização territorial desses investimentos, decisão que cabe aos governos locais e à iniciativa privada”, destacou o MDIC em comunicado.
Para Pimentel e o Itamaraty, houve um “ruído de comunicação”. Mesmo assim, o chanceler Antonio Patriota deve conversar nesta semana com seu colega do Desenvolvimento e com o embaixador para saber, em detalhes, o que aconteceu.
Serra será convocado para explicar o ocorrido à Comissão de Relações Exteriores. A previsão do presidente da Comissão, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), é que ele poderá ser ouvido na quinta-feira. A informação sobre a atuação do embaixador foi divulgada por Ferraço que, ao perceber que seu estado poderia perder investimentos, pediu que o caso fosse apurado.
20 de março de 2013
ELIANE OLIVEIRA e GERALDA DOCA - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário