Artigos - Cultura
In looking back, I think if we had realized the confusion and chaos which existed, we would indeed have thought ours a hopeless task. (Olhando para trás, penso que se tivéssemos compreendido a confusão e o caos que existiam, pensaríamos, na verdade, que não havia esperança para o cumprimento da nossa tarefa.)
Gen. Lucius Clay
Governador Militar dos EUA na Alemanha ocupada
Gen. Lucius Clay
Governador Militar dos EUA na Alemanha ocupada
A nazificação da Alemanha foi de uma velocidade estonteante, como demonstrado por vários autores, entre eles Karl Mannheim (1), William Shirer (2), Victor Klemperer (3), Curzio Malaparte (4), Nicholas Goodrick-Clarke (5), Lively & Abrams (6), Steigmann-Gall (7), Richard Grunberger (8), Rohan D’O Butler (9) e muito outros. Daniel Goldhagen (10) defende que o Holocausto não foi um espetáculo de horror ao qual os alemães teriam sido obrigados a assistir, mas, na verdade, produto de ideais amplamente compartilhadas pela maioria do povo alemão durante a primeira metade do século.
A facilidade da nazificação pode ser explicada pela noção que guiava o povo alemão há séculos: o de volk, que não pode ser traduzido simplesmente por ‘povo’, pois não é uma mera associação de cidadãos, mas sim o de uma comunidade tribal considerada como uma nação incluindo a conotação de homogeneidade racial. Johann Gottfried von Herder substituiu a concepção tradicional político-jurídica de Estado pelo da Nação-Volk, representando um desenvolvimento histórico como orgânico, particularmente no aspecto biológico. Este organismo se completava pelo ‘espírito nacional’, o espírito volk.
Fichte perguntava:
Qual espírito possui um direito indisputável de exigir e ordenar a todos, queiram ou não, a forçar aos que resistem, arriscar tudo, inclusive sua vida? Certamente não o espírito dos cidadãos pacíficos que amam a Constituição e as Leis, mas a inflamada noção de alto patriotismo que reveste a nação como uma veste eterna (Hülle des Ewingen) pelo qual os homens de mente nobre se sacrificam graciosamente, e os ignóbeis, que só existem para a razão dos demais, devem também ser sacrificados.
Fichte perguntava:
Qual espírito possui um direito indisputável de exigir e ordenar a todos, queiram ou não, a forçar aos que resistem, arriscar tudo, inclusive sua vida? Certamente não o espírito dos cidadãos pacíficos que amam a Constituição e as Leis, mas a inflamada noção de alto patriotismo que reveste a nação como uma veste eterna (Hülle des Ewingen) pelo qual os homens de mente nobre se sacrificam graciosamente, e os ignóbeis, que só existem para a razão dos demais, devem também ser sacrificados.
Entende-se, portanto, que a desnazificação tenha sido um processo muito difícil e a literatura não é vasta sobre o tema. O livro de Jim Marrs, The Rise of the Fourth Reich: The Secret Societies That Threaten to Take Over America, parece muito fantasioso começando com a negação do suicídio de Hitler e Eva Braun. Baseio-me fundamentalmente no de Edwin Hartrich, The Fourth and Richest Reich: how the Germans conquered the postwar world.
A desnazificação foi parte de um programa maior chamado de Desteutonização da Alemanha caracterizada por quatro D’s: desmilitarização, desnazificação, desindustrialização e democratização. Este processo, no entanto, foi levado a efeito de forma diferente em cada zona ocupada.
Na Zona Soviética todos os oficiais nazistas e do Exército tiveram restaurados sua completa cidadania, com exceção dos envolvidos em crimes de guerra.
Na Zona Francesa, o General Perrin-Pelletier declarou que
Nós, os franceses, partimos no ponto de vista de que todos alemães continuavam sendo nazistas e, se não quiséssemos matar todos, teríamos que trabalhar com eles. No Saara não cometemos o erro idiota da desnazificação.
Nós, os franceses, partimos no ponto de vista de que todos alemães continuavam sendo nazistas e, se não quiséssemos matar todos, teríamos que trabalhar com eles. No Saara não cometemos o erro idiota da desnazificação.
Na área britânica a desnazificação foi a busca e o reconhecimento dos nazistas que eram culpados de atos criminosos e aplicar a eles o Código Criminal Alemão na perseguição e condenação dos criminosos. O processo era fundamentalmente jurídico, não político, e dirigido por juízes comuns e não políticos ou militares como nas outras zonas. Restringiu-se a processar os membros das SS, SD, Gestapo e os principais líderes nazistas. Somente 10% da população civil foi envolvida no processo (22.296 julgamentos), comparado com 30% na Zona Americana (169.282).
Segundo Hartrich o programa de desnazificação na área Britânica foi o mais justo e efetivo nos esforços de erradicar o âmago dos elementos criminosos nazistas que tinham conseguido sobreviver ao colapso do sistema.
Notas:
1 - Diagnóstico de Nosso Tempo, Cap. Vi: A estratégia do grupo nazista
2 - Rise and Fall Of the Third Reich
3- LTI – A Linguagem do Terceiro Reich, com especial atenção para a modificação da língua. ‘O nazismo se embrenhou na carne e no sangue das massas por meio de palavras, expressões e frases impostas pela repetição milhares de vezes, e aceitas inconsciente e mecanicamente. Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e parecem ser inofensivas. Passado um tempo o efeito do veneno se faz notar’.
4 - Técnica do Golpe de Estado
5 - The Occult Roots of Nazism: Secret Aryan Cults and Their Influence on Nazi Ideology
6 - The Pink Swastika
7 - O Santo Reich: concepções nazistas do Cristianismo – 1919-1945
8 - The 12-year Reich: A Social History Of Nazi Germany 1933-1945
9 - The Roots of National Socialism
10 - Os Carrascos Voluntários de Hitler - O povo alemão e o Holocausto
27 de maio de 2013
Heitor De Paola
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