Deu nos jornais que o déficit das transações correntes do Brasil com o resto do mundo atingiu níveis recordes no mês passado. Entre as razões para esse déficit, sobressaem os gastos de turistas brasileiros no exterior.
Segundo pesquisa do governo americano, os turistas brasileiros estão entre os que mais gastam em compras nos Estados Unidos, só perdendo para os japoneses e os britânicos.
A situação parece preocupar o governo brasileiro que, segundo os jornais, estuda aumentar os impostos e adotar outras medidas para restringir os gastos dos brasileiros no exterior.
Antes de o governo adotar mais medidas protecionistas, talvez seja bom se perguntar por que é mesmo que, em vez de desfrutarem mais das belezas desse país tropical bonito por natureza, os brasileiros preferem gastar dólares em navios-cruzeiros ou em compras nos shoppings de Miami?
A resposta parece óbvia, se considerarmos que os turistas brasileiros não parecem estar atrás de bens culturais inexistentes no país.
Numa enquete do governo americano, 95% dos turistas brasileiros dizem que vão lá para comprar. O que os brasileiros compram nessas viagens aos Estados Unidos está em geral disponível no Brasil. Só que custa até o dobro ou o triplo do preço, e a qualidade é com frequência inferior.
Por isso, vale a pena pagar o custo da passagem aérea internacional, mesmo porque ela também é bem mais barata por quilômetro voado do que a nacional.
A resposta à pergunta por que os brasileiros gastam tanto no exterior é que o Brasil se tornou um país caro.
Quem pode, gasta lá fora — os ricos sempre puderam e sempre o fizeram; agora a classe média ascendente vai atrás e por isso cresce o déficit nas transações correntes.
Quem fica por aqui são os pobres, para quem estão reservados os produtos mais caros, a não ser quando descolam um contrabando paraguaio de qualidade duvidosa no comércio informal.
Por que o Brasil se tornou tão caro? Por muitas razões, mas uma das principais delas é o protecionismo — os altos impostos sobre bens e serviços importados, as taxas alfandegárias e os custos portuários, as regras de conteúdo nacional, os padrões diferentes de nossas tomadas elétricas e bens duráveis de consumo, e por aí a lista vai. Tudo isso faz com que os bens e serviços vendidos no país, tanto importados como nacionais, sejam caros.
Se o problema é o protecionismo, não é com mais protecionismo que o governo devia tentar resolvê-lo. É verdade que mais impostos e restrições às compras externas podem tirar a classe média de Miami. Mas isso somente faria agravar o apartheid social brasileiro, contra o qual a ascensão dessa classe média é o melhor antídoto.
Que tal pensar em como produzir bens e serviços melhores e mais baratos para todos os brasileiros?
27 de maio de 2013
Edmar Bacha é economista.
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