Vilões malvados promovem uma refinada e violenta onda de terrorismo e destruição. O plano é fabricar uma grande guerra – iludindo os militares. O todo-poderoso chefão do bando pensa até que é um Super Homem – com astúcia e inteligência superiores, prestes a dominar todos, como um déspota esclarecido. Tudo tem de ser feito conforme sua vontade, até que um dia a casa cai.
A descrição parece justa e perfeita para o filme mais badalado dos Estados Unidos no momento, que estreia em junho por aqui. Star Trek Into Darkness - que nossos manés daqui traduziram, imprecisamente, para Star Trek Além da Escuridão. Na verdade, o certo seria “na escuridão”. Ou nas trevas. Mas, se for assim, o filme dirigido pelo genial J.J. Abrams vai ficar igualzinho a nossa conjuntura política, econômica e psicossocial. E isto não pegaria bem...
Presta atenção nesta fala do Capitão James Tiberius Kirk fazendo um sincero desabafo ao primeiro-imediato Spock, sobre sua insegurança acerca da melhor e mais eficaz forma de combater um super inimigo, em meio a um estado de terrorismo e violência já implantados: “Não tenho ideia do que devo fazer. Só sei que posso fazer”. Que falta nos faz um Kirk – um militar criativo, competente e corajoso que sempre encontra uma luz na escuridão e salva a tripulação da sua nave Enterprise!
Pelo amor da Frota Estelar! Parece que o comandante da nave-mãe do Star Trek é funcionário das Forças Armadas Brasileiras. O dilema de Kirk parece o mesmo de nossos heróis daqui. Com a diferença favorável ao personagem da ficção em relação aos servidores públicos fardados do mundo real tupiniquim: Kirk foi à luta e derrotou o poderoso e maldito inimigo, no final da História. Parabéns, Kirk! Você e o capitão Nascimento sempre salvam a Pátria – quando tudo parece perdido.
Por aqui, a Jornada é para nos salvar das Estrelas dos petralhas. Em nosso Star PTrek into darkness o buraco negro é muito mais embaixo. Os vilões que aterrorizam e roubam o Brasil são muito mais malvados que o poderosíssimo super-homem Khan (sim, ele mesmo, aquele do velho filme “Jornada nas Estrelas 2, a Ira de Khan, ou do epísódio da série clássica de Star Trek, dos anos 60, “As sementes do espaço”.
O ator inglês Benedict Cumterbatch dá um show neste imperdível espetáculo cinematográfico de Star Trek Into Darkness. A divulgação do filme, para não quebrar o impacto dos fãs, omite a informação de que sua identidade real não é a do terrorista John Harrisson – mas sim a do velho Vilão Khan – um produto da engenharia genética que criou um super homem com a mente maldosamente privilegiada para criar armas e liderar uma guerra mundial ou universal.
Cumterbatch dá um show como Khan. Só não dá para afirmar que ele supere o imortal Ricardo Montalban – que foi o Khan na série de 1966-67 e no Jornada II. Para não cometer injustiça, ambos brilharam em suas interpretações. O khan atualizado só parecia um pouco mais “inglês”: frio, calculista e ultrafocado em seus objetivos, usando e abusando da dissimulação, da traição, da violência e do terror.
Aliás os vilões bem construídos sempre roubam a cena nos grandes filmes. No Brasil, é que os vilões costumam roubar muito mais que isto... Mas este é um problema para outros heróis resolverem – se realmente tiverem vontade. O mal é que os roteiros da vida real não são tão bem escritos para nos dar um final mais feliz...
Os roteiristas do cinema trabalham melhor. Os de Star Trek into Darkness prestaram uma homenagem aos fanáticos fãs de Jornadas nas Estrelas – chamados de “trekkies”. O escritor Damon Lindelof, sendo um deles, ajudou a fabricar uma interessante releitura do clássico “A Ira de Khan”, fazendo apenas a inversão da historia original.
No filme de 1982, quem morreu para salvar a tripulação foi o super Spock. No terceiro filme da velha série, “Á Procura de Spock”, a vida lhe seria devolvida pelos efeitos colaterais de um projeto chamado Gênesis. Agora, na escuridão, quem canta para subir na Enterprise, depois de um banho de radiação para religar os motores da nave, é o capitão Kirk. O enredo foi muito bem construído, e Chris Pine se destacou. O herói foi salvo pelo super sangue do vilão Khan.
Os trekkies brasileiros vão vibrar com a aparição especialíssima do velho Spock. É mais rápida que um relâmpago a participação do consagrado ator Leonard Nimoy – hoje com 82 anos de idade terrestre – e que já tinha participado do filme anterior de Star Trek na safra J.J. Abrams. Muito bom que o embaixador Spock ainda teve tempo de dar uma dica valiosa ao jovem Spock (muito bem interpretado pelo Zachary Quinto).
Ouvindo a sinfonia especialmente feita para Star Trek na escuridão nos vem uma luz: bem que podíamos convidar o J.J. Abrams e sua Bad Robot Productions para fazer a versão tupiniquim deste clássico da ficção científica. Ainda bem que o diretor está escalado para fazer os próximos três filmes da também clássica Guerra nas Estrelas (Star Wars). Do contrário, como aqui tem muito vilão perigoso, J.J. poderia ser abduzido por um deles e acabar forçado a fazer a campanha reeleitoral da Dilma ou a do Lula para senador...
J.J. Abrams certamente não toparia. Mas seria enorme o risco de ele impedir que os mensaleiros acabassem presos. O diretor, fatalmente, os convidaria para uma atuação com a turma do Dart Vader. Sem duvida, tal papel só poderia ser dado a duas figuraças: ao chefão que acabou impune até agora ou àquele outro que o STF apontou como sendo o chefe, usando a tal da teoria do domínio do fato... Ambos são extraordinários atores...
A versão brasileira do filme, evidentemente uma porcaria, se chamaria “Star Ptrek tudo darkness” (que os “tradutores” escreveriam: “A coisa está preta com o Governo do Crime Organizado”). Inflação subindo. Calote aumentando. Produção caindo. Exportação diminuindo. Povo se emburrecendo. Todos se embrutecendo com a violência e o Terror. E os políticos cada vez mais se dando bem e enriquecendo às custas da maioria que trabalha, produz e paga impostos absurdos.
Num cenário assim, precisaríamos de uma parceria operacional entre o Capitão Nascimento e o Capitão Kirk – em perfeita combinação com a fria lógica vulcana do Spock. Seria antológico o roteirista botar na boca do Kirk aquela épica fala do Almirante Barroso (1804-1882) – nosso super herói da Batalha do Riachuelo, na Guerra do Paraguai, em 11 de julho de 1865. Bastaria ligar a fantástica máquina do tempo do Spock e ouvir algum Kirk (com o espírito do Barroso) gritar:
“Inimigo à vista. Preparar para o combate. O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever. Atacar e destruir o inimigo o mais perto que puder. Sustentar o fogo que a vitória é nossa”.
Já pensou se, além da frase do Barroso, outros brasileiros resolvessem imitar o Capitão Kirk, no Star Trek na escuridão, e praticar a mensagem:
“Não tenho ideia do que devo fazer. Só sei que posso fazer. E vou fazer agora”.
A turma do Khan ou do Dart Vader seria varrida rapidamente para o lixo da História...
Mas como nosso pessoal peca por pouco fazer ou por fazer errado, assistimos à desintegração de nossa amada nave “Enterprise”.
A ironia é que o desmanche da Enterprise simboliza o Brasil que parece ter horror a empreender as coisas certas, na hora certa, com as pessoas certas...
PS - Assim que estrear no Brasil, vale a pena ver o Star Trek into darkness. Não digo o melhor, mas um dos melhores de todos os Jornadas nas Estrelas. Claro, para quem gosta e acompanha a série. Quem não é trekkie, corre o risco de não entender nada... Mas se este for o caso, faça que nem a Dilma no comando da economia do Brasil e na condução da política... Finge que entende... E deixa a nave se espatifar...
Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
27 de maio de 2013
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.
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