Internacional - América Latina
Pedir em Cuba que lhes entreguem o país converte as FARC em “amigos da paz”? Não houve uma só semana, nos últimos 50 anos, sem que as FARC tenham-se abstido de assassinar a um ou a vários colombianos.
Tornou-se uma rotina do presidente Santos difamar seus opositores. Como os planos para entronizar as FARC nas instituições (que elas tratam de destruir há 50 anos) recebem críticas fortes todos os dias, o chefe do Executivo, cada vez que toma um microfone, lança chispas e centelhas contra os que informam e comentam esse estado de coisas.
Ontem, durante um foro em Bogotá, intitulado “Afrocolombianidad y paz”, Juan Manuel Santos declarou: “Os inimigos da paz não são muitos mas são muito ativos”. E, a modo de argumentação, improvisou: “Criam-se fantasmas e começa a satanização. Ninguém falou de impunidade, querem envenenar o processo”.
A maioria desses “inimigos da paz” são jornalistas. São pessoas que combatem as FARC com a palavra, com a pena, com editoriais, colunas de opinião, blogs, no Twitter, em artigos e reportagens. Ao acusá-los dessa maneira Santos quer frear as opiniões adversas e enviar uma mensagem: que as FARC são os “amigos da paz” e não devem ser criticadas. E que os críticos do falso processo de paz são os “inimigos da paz” e devem ser amordaçados.
Santos divide assim o país em dois blocos hostis: os “amigos da paz” de um lado e os “inimigos da paz” do outro. Em um lado, estão ele e seus ministros, e as FARC e seus porta-vozes em Havana, e no outro estão os colombianos que ele tanto despreza: os que aspiram à paz porém sem a guilhotina ameaçadora de umas FARC armadas, livres, riquíssimas e atrevidas sobre as cabeças de todos.
A campanha de Santos contra os críticos da aventura em Havana se agudiza na medida em que aparece um fato com mais força: que o chamado “processo de paz” está morto, pois sempre repousou sobre um horizonte de impunidade para os maiores criminosos do país.
Santos diz que “ninguém falou de impunidade”. Ele brinca com a verdade: o “marco jurídico para a paz” é isso. O Promotor Montealegre faz a apologia da impunidade quando assegura que não há base legal na Colômbia para que os chefes das FARC paguem um dia de cárcere por suas atrocidades. A postura do Promotor é grotesca porém ele, para ajudar Santos, insiste nisso.
Para que a Corte Penal Internacional e as grandes capitais do mundo livre não se inteirem disso, Santos espera submeter todos a uma postura que considera correta. Como está fazendo Obama com a imprensa opositora do seu país. É necessário acompanhar os três últimos escândalos: com a Associated Press, com o jornalista James Rosen da Fox News e com a jornalista Sharyl Attkisson da CBS News, a quem intervieram em seus computadores.
Vozes se levantam contra a “cultura da intimidação” que se respira hoje nos Estados Unidos. Santos se sente autorizado e reparte repreensões grosseiras. Ao fazer isso, ele dança sobre uma corda bamba: minar a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa é cometer um delito. É minar um pilar fundamental de nossa democracia.
Os jornalistas temos que levar este assunto a sério e acorrer às instâncias internacionais que velam pelo respeito à liberdade de imprensa para que assumam uma posição sobre o que está ocorrendo na Colômbia. Pois os organismos locais, que teoricamente se ocupam do mesmo, não se atrevem, por temor ou cumplicidade, a esboçar a mais leve crítica contra a insidiosa campanha do chefe de Estado.
Pedir em Cuba que lhes entreguem o país converte as FARC em “amigos da paz”? Não houve uma só semana, nos últimos 50 anos, sem que as FARC tenham-se abstido de assassinar a um ou a vários colombianos. Em alguns períodos, sobretudo quando montam a farsa do “processo de paz”, a morte de inocentes se intensifica. Isso é ser amigo da paz? Só um perverso irrecuperável pode conceber as coisas assim.
Os inimigos das FARC são muitos. Nisso Santos se engana. Nesse campo, cada vez maior, estão o Procurador Geral da Nação em exercício e o ex-presidente Andrés Pastrana. Estão o ex-presidente Álvaro Uribe Vélez e dezenas de milhões de colombianos que se identificam com ele e com sua gesta política.
Há ali muitíssimas personalidades de todos os âmbitos e de todos os partidos democráticos: parlamentares, políticos, militares, policiais, industriais, agricultores, religiosos, advogados, comerciantes, acadêmicos, jornalistas, comentaristas, editorialistas, repórteres, blogueiros, professores e estudantes. Todos eles combatem, no seu nível e segundo suas capacidades, pela verdade e pelas liberdades ameaçadas na Colômbia. E as pesquisas o dizem.
Aprendamos dos europeus. Quando Rodríguez Zapatero se empenhou em levar o braço político do ETA às instituições, os espanhóis saíram às ruas e fizeram, sobretudo, uma grande “manifestação preventiva” que contribuiu, meses depois, à saída dos socialistas do governo. É necessário mostrar a Santos onde estão as maiorias. É necessário organizar uma grande manifestação preventiva contra a chegada das FARC às instituições.
27 de maio de 2013
Eduardo Mackenzie
Tradução: Graça Salgueiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário