"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 27 de maio de 2013

SENADOR LAMBE SANDÁLIAS E VIRA PROFESSOR DE MORAL


 Denunciar os crimes do PT – que os petistas chamam de malfeitos – é um imperativo de todo cidadão honesto. Daí a conceder créditos a qualquer idiota que critica o PT vai uma longa distância. Ainda há pouco, o tal de Lobão andou publicando livro em que desanca tanto o partido como o governo como as esquerdas em geral, particularmente Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto. Que de esquerda nada têm e não passam de meros oportunistas. Se amanhã der dinheiro e prestígio ser de direita, viram a biruta na hora.
Da noite para o dia, o roqueiro virou herói, merecendo até mesmo elogios do Rodrigo Constantino.

Demonstrando coragem insólita, o analfabeto funcional fez uma crítica letal às esquerdas: “intelectual de esquerda é punheta de pau mole”. Foi incensado por articulistas hostis ao PT. Como se seus impropérios de mau gosto quisessem dizer algo. O roqueiro atroz revela a mesma estupidez do recórter tucanopapista hidrófobo da Veja, quando chama Che Guevara de porco fedorento. Ora, para que servem tais insultos de moleque? No fundo, invalidam a crítica e acabam prestigiando o criticado. Quem quiser criticar as esquerdas, que as critique com propriedade. Palavrões só servem para absolvê-las.

Sobre o corajoso “intelectual” que “ousou” enunciar o óbvio, recebi de um leitor algumas informações a partir de uma entrevista sua, concedida à Playboy em 2000. Pinço alguns itens:

- tentou suicídio com overdose de Rivotril, em 1979, por estar vivendo no que classificou de “cárcere privado”; sua mãe bipolar tentou pelo menos 16 vezes suicídio, mas só foi exitosa em 1984
- tomou “acidentalmente” um coquetel de calmantes e álcool que o deixou em coma por quinze dias
- usou e abusou de maconha, cocaína, heroína e álcool além de promover turnês ensandecidas
- em 1987 foi preso com um papelote de cocaína, 30 gramas de haxixe e 2 gramas de maconha no aeroporto Tom Jobim. Foi processado, julgado e condenado. Ficou preso durante um ano (1988-1989) sem direito a sursis. Uma arbitrariedade, segundo ele
- foi preso cinco vezes por desacato à autoridade, incitação ao uso de drogas e atentado ao pudor e respondeu a apenas 132 processos judiciais (prescritos)
- começou a fazer reportagens com exus, leu toda a doutrina espírita e umbandista. Decidiu fazer um ritual em casa. Colocou um LP de Pink Floyd na vitrola, fez um altarzinho, acendeu umas velas e disse: “Ó, Exu, pode me falar. Aqui tem um ombro amigo, pode vir. Estou aqui para lhe servir. Você deve ser uma figura difícil, rejeitada, utilizada pelas pessoas. Olha, acho isso um absurdo...” Dali a pouco estrebuchou, caiu no chão. Acordou tonto, deitado na cama. Olhou ao redor e percebeu que tudo estava destruído, as gavetas puxadas, uma garrafa de álcool que tinha rasgada no meio. Chamou pela mamãe bipolar. Perguntou-lhe se não tinha ouvido algum barulho. “Barulho seu eu sempre ouço”, respondeu ela. Depois disso, o roqueiro foi fazer eletroencefalograma
- achou que, em certa época, era uma coisa charmosa ficar chocando as pessoas com suas histórias de incesto
- a primeira masturbação foi numa cruz. Teve tesão por Jesus Cristo. Tinha 6 anos de idade e foi numa Sexta-Feira Santa. Foi beijar o corpo de Cristo na igreja, e achou aquela tanguinha uma delícia! Quando chegou ao quarto, botou a cruz no colchão, deitou em cima e se masturbou pela primeira vez. Ao mesmo tempo que era uma coisa meio pervertida, também achou que era lúdico
- e, pior que tudo isto, votou em Lula por duas vezes.

Com esse formidável currículo, o ex-detento, viciado, profanador de imagem religiosa e decadente roqueiro – como diz o leitor – vira lúcido só porque proferiu algumas sandices contra as esquerdas.

Neste país em que até os partidos ditos de oposição não ousam criticar o governo corrupto do PT, a única oposição que se vê no horizonte é aquela feita pela imprensa. Que tem denunciado, antes mesmo da Polícia ou do Ministério Público, os “malfeitos” – como costuma dizer a presidente – do PT. Não fosse a imprensa, maracutaias como o mensalão teriam passado despercebidas pelo próprio Judiciário. Neste sentido, louve-se a Veja, que tem sido a fonte de não poucas denúncias. Mas a revista exagera em seu zelo.

Recentemente, um senador da República, abdicando da dignidade inerente – ou que inerente deveria ser – a um senador, escreveu uma carta cheia de lamúrias ao ex-presidente da República, reclamando de seu malvado partido, o PT, que quer subtrair-lhe a curul no Senado.
Caro presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

Sempre teríamos na transparência de nossos atos e na ética da vida pública os valores fundamentais do PT, foi o que muitas vezes ouvi de você. Nesses 33 anos de militância honrei esses valores e objetivos.

Quero lhe transmitir pessoalmente a minha disposição de ser candidato ao Senado em 2014 e naquela casa continuar a honrar o PT. Tenho procurado marcar um encontro pessoal, há meses, mas por alguma razão tem sido sempre adiado. Gostaria de relembrar que, em 2011, quando éramos cinco os pré-candidatos a prefeito de São Paulo, você convocou os demais para dialogarem com você no Instituto Lula para que desistissem em favor de Fernando Haddad. Imagino que tenha avaliado que não precisava conversar comigo.

Há cerca de duas semanas, conforme soube pela imprensa, houve reunião no Instituto Lula, em que estiveram presentes os presidentes nacional e estadual, Rui Falcão e Edinho Silva, outros importantes dirigentes e pelo menos oito prefeitos do PT. Não fui convidado, embora ali se tenha discutido a campanha de 2014, os procedimentos para a escolha do nosso candidato ao governo de São Paulo, ao Senado e possíveis coligações.


E por aí vai. Temendo perder a legenda, o senador lambe as sandálias do nordestino analfabeto. Veja titula:
Em carta a Lula, Suplicy dá sutil lição de moral

Nos planos da cúpula do PT, o senador Eduardo Suplicy foi escolhido para o sacrifício eleitoral. Para viabilizarem uma coligação ampla que permita ao partido disputar o governo de São Paulo em 2014, os petistas planejam entregar a vaga do senador a outra agremiação. Pode ser ao PMDB, ao PSD ou até mesmo ao PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto. Feito isso, a menos que mude de partido, Suplicy não poderia disputar sua recondução ao Senado. A estratégia petista prevê, no máximo, a possibilidade de ele concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados. “Ele seria o nosso Tiririca”, conta uma liderança petista. Suplicy identificou a origem do plano e, durante os últimos meses, tentou uma audiência com o ex-presidente Lula para tratar do assunto. Ligou para a secretária, pediu a ajuda de companheiros, enviou recados. Nada. No último dia 6, sem receber nenhuma resposta, o senador foi ao Instituto Lula e entregou uma carta ao ex-presidente. Uma carta cheia de ponderações e desabafos - uma sutil lição de moral.


Que lição de moral? O senador despiu-se de toda dignidade e implorou pela preservação de sua boquinha. Clown de plantão do PT – neste país em que ser palhaço rende milhões de votos, vide Tiririca – Suplicy, o tanso, ainda não percebeu que seu partido acaba de jogá-lo à intempérie. A súplica choramingas de Suplicy o transforma, de repente, em professor de moral.


27 de maio de 2013
janer cristaldo

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