O PSDB levou ao ar na noite desta quinta-feira (30) a sua propaganda partidária. Foram 10 minutos de Aécio Neves e Minas Gerais em rede nacional. Há tempos o tucanato não exibia uma peça tão bem concebida. Sem citar Dilma Rousseff, expôs as principais fragilidades do governo. Sem mencionar 2014, apresentou um candidato alternativo. Sem medo dos velhos estigmas, retirou FHC do armário.
Aécio e o partido não vão escapar de uma representação no TSE. A lei desautoriza a conversão da publicidade partidária em vitrine eleitoral. Mas o tucanato fez o que todas as outras legendas fazem. Aproveita-se da hipocrisia propiciada por uma lei frouxa. A multa é mixuruca: de R$ 5 mil a R$ 25 mil. Para quem precisa popularizar um candidato, é dinheiro de troco.
Num instante em que o Bolsa Família virou matéria prima de boato, Aécio ensaia um discurso engenhoso. Ele atribui a FHC a paternidade dos programas de transferência de renda. Com isso, foge da armadilha que seria desmerecer o socorro monetário que chega a 13 milhões de famílias. Após cercar-se desse cuidado, Aécio repisa: “Não acho que a herança que um pai de família pode deixar para os seus filhos é o cartão do Bolsa Família.”
No papel de âncora do programa, o presidenciável Aécio faz um passeio pelas iniciativas do ex-governador Aécio. Realça o micro-empreendedorismo: as artesãs de Diamantina, o pecuarista familiar de Unaí. O candidato fala de “superação real da pobreza” e da importância de preparar as pessoas para o trabalho. Defende a Educação como mola do desenvolvimento.
A bordo de uma van, Aécio simula uma escala no Vale do Jequitinhonha, o pedaço do mapa de Minas com as mesmas características climáticas do Nordeste. Passa por cima da pobreza para exaltar um projeto de irrigação, o Jaíba. Tudo muito sutil. Numa fase em que o sertão nordestino arrosta a pior seca dos últimos 50 anos, é como se Aécio batesse no peito: vejam como lidamos com isso aqui em Minas.
A certa altura, o candidato, agora sob a pele de presidente do partido, reúne-se com um grupo de cidadãos ditos comuns. A inflação ganha o primeiro plano. O salário diminuiu ou custo de vida aumentou?, pergunta uma senhora. A sensação é de abuso!, constata outra. Perdemos o direito até à salada de tomate. Nesse ponto, Aécio recorda o passado das maquininhas remarcadoras de preços e da luta que foi para fazer o Plano Real. Tudo o que veio depois veio com a estabilidade, ele afirma, antes de borrifar na tevê um slogan: “Inflação tem que ser tratada com tolerância zero”.
Para encerrar, um lote de cenas da convenção em que Aécio foi guindado à presidência do partido. É a festa da unidade do PSDB, discursa Geraldo Alckmin. Estamos unidos para servir o Brasil, dissimula o governador de São Paulo. Inimigo cordial de Aécio, José Serra esgoela-se em defesa da democracia, da liberdade, da independência dos poderes e da decência na vida pública.
O momento é de mudanças importantes, diz FHC. Ecoando-o, Aécio fala de construir um tempo novo no Brasil. Uma página de dignidade, competência e utopia, ele acrescenta. Um país assim, como se sabe, exige mais do que propaganda. Porém, nas últimas três jornadas sucessórias, o tucanato não se acertava nem na publicidade. Perdeu para um PT que trocou o radicalismo retórico pela descoberta de que, com boa propaganda, o eleitor compra até ovo sem casca.
31 de maio de 2013
Blog Josias de Souza - UOL
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