Não pense que estou falando de algum tipo de prato remexido dentro de uma atraente panela de barro. Ou de uma escola de samba que atravessou (não o samba) a avenida levantando os expectadores.
Na verdade estamos tentando lembrar algumas situações que começaram dentro da ilegalidade, foram ignoradas, cresceram e quando passaram a incomodar, as "autoridades atentas" descobriram que o fato que deveria ser combatido há 10 anos agora será tratado em estado de emergência, gerando conflitos sociais. Eis algumas ilustrações.
1) A secretaria de edificações públicas sempre está atenta se você efetua alguma benfeitoria no muro de sua casa ou de seu prédio. Rapidamente surge o fiscal para conferir se todos os formulários para colocar uma jardineira no muro foram preenchidos, carimbados e tiveram a assinatura reconhecida. Mas este órgão jamais atua (orientado por quem deseja obter votos de necessitados) quando surgem os 5 primeiros barracos num logradouro da cidade, mesmo em locais de enorme risco de vida aos novos moradores (sob viadutos e ao lado de refinarias). Depois que milhares de barracos são edificados, não possuem mais dispositivos legais e físicos para remover o aglomerado (des)humano. Então inventam uma sigla "favela barro" e nasce um novo bairro desestruturado (sem escola, posto de saúde, saneamento) para esconder os 10 traficantes mais perigosos da área.
2) Quando as 5 primeiras barraquinhas de camelôs são colocadas nas praças da cidade, a grande maioria até aprecia ter por perto onde comprar um refrigerante, um salgadinho, um isqueiro, duas pilhas ou um cartão telefônico. Depois que centenas de barracas invadem as ruas da cidade impedindo nossa caminhada, a Guarda Municipal faz jogo de cena fingindo estar combatendo o problema agora insolúvel (sob o ponto de vista eleitoral) e aproveitam para “confiscar” alguns produtos. Os comerciantes se aproveitam do caos e até colocam mercadorias adquiridas sem notas em bancas na frente de suas lojas. E apelam para tolerância humana alegando que se os donos das barraquinhas não puderem exercer esta atividade, aumentaremos o número de desempregados.
3) Quando as 5 primeiras vans começam a trafegar pelo bairro, os moradores que estão irritados com os ônibus demorados, inseguros e lotados, apreciam o novo conforto disponível. Depois que milhares de veículos entopem as vias sem critérios e criam pontos onde bem lhes interessa, surgem as autoridades (depois de eleitos) alegando que combaterão tal prática. Depois se acomodam pois muitos veículos pertencem às cooperativas criadas por vários integrantes do próprio órgão gestor do trânsito caótico. E o mesmo argumento do desemprego é usado para a manutenção do tráfego de veículos onde seus condutores nem sempre estão preocupados com a segurança dos usuários.
Eis que recentemente resolveram fechar os bingos, alegando ilegalidade da prática. Mas só viram isto depois de 10 anos de funcionamento dos estabelecimentos? Nesta época eram 100 ou 200 pessoas na atividade. Hoje são dezenas de milhares que de alguma forma ganham seu sustento em torno da atividade conduzida agora dentro de sítios ou becos escuros. Efetivamente estamos precisando que se legalize os cassinos (a serem implantados em regiões mais pobres – num instante surgirá água no sertão). A alegação de que tal atividade leva muitos freqüentadores a abalar o orçamento doméstico é pura demagogia. Será que nos hipódromos e nas casas lotéricas onde vendem as raspadinhas que jamais premiam tal risco não existe?
Na verdade esta onda é só para criar manchetes para distrair o povo do foco principal envolvendo o fato da arrecadação imoral para fundos de campanhas eleitorais. A luta para evitar uma CPI supera os projetos de interesse do futuro da nação. A técnica já é conhecida. Lançar uma bomba de gás lacrimogênio para afastar os curiosos que insistem em ficar em volta da fogueira onde queimam nossa dignidade nacional.
Agora, se me dão licença, estou tentando observar Cachoeira (o PC Farias do novo milênio) cuja sentença é uma tremenda “cascata”. Ou mesmo Brizolinha no RS. Certamente eles já possuem o tempero para "virar legal" a próxima pizza a ser digerida pela nação colonizada sob anestesia da cultura televisiva "bigbroderiana" em andamento.
Afinal, se as "pizzas" não forem legalizadas, quantos cozinheiros ficarão desempregados?
31 de maio de 2013
Haroldo P. Barboza é Professor e Escritor.
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