"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 24 de junho de 2013

A COPA DO MUNDO É NOSSA?

 

 

No momento em que escrevo, as manifestações, gigantescas e espalhadas por todo o país, já se refletem na Copa das Confederações.
Se for suspensa, o Brasil terá de pagar uma indenização milionária e não vai usufruir dos resultados de seus investimentos. Mais dinheiro público vai para o ralo.
Nesse momento, é possível dizer que a manobra política de realizar a Copa no Brasil fracassou. Alias, manobra que não foi só do PT mas de todos os partidos no poder.
Há uma crença generalizada de que futebol dá voto. Gastar dinheiro com estádios monumentais compensa eleitoralmente. Nenhum governador, mesmo de partidos de oposição, deixou de se render ao fascínio da Copa, injetando milhões no processo.
A Copa era destinada a mostrar a grandeza econômica do Brasil e nossa capacidade de organização. Iríamos posar de pais quase perfeito, no limiar do chamado Primeiro Mundo.
Garrincha tem uma frase boa para definir o cálculo de Lula, Cabral, Paes e dos governadores do PSDB e PSB: já combinaram com os russos?
Ninguém combinou com os russos e deu no que deu. Ao invés de projetar suas qualidades, o Brasil revelou dramaticamente para o mundo todas as suas imperfeições.
De um ponto de vista de imagem externa, o que ficará nos olhos do mundo é a indignação popular com os gastos da Copa e péssimos serviços públicos.
A imagem do Brasil tem novos contornos. O que fazer agora com os estádios gigantescos construídos para o que a propaganda afirma ser uma grande festa?
Se a Copa for cancelada perdemos dinheiro. Se for mantida, será difícil para os turistas do mundo inteiro ter vontade de participar de um torneio que é execrado por parte da população.
Só viria mesmo quem adora futebol e de certa maneira está acostumado com o cheiro de gás lacrimogênio. Os hooligans, os violentos torcedores ingleses, até que gostariam de quebrar algumas vidraças.
Mas até eles vão duvidar se sobram vidraças o bastante para compensar a viagem.
O país da Copa virou um campo de turbulência, refletindo as grandes incertezas que vivemos no Brasil e em muitas democracias do mundo.
Muitos dizem que não era possível prever tudo isso. Mas o cinismo e a provocação cotidiana de um mundo político insensível não poderiam provocar outro resultado.
Finalmente o Brasil se move. E todos nós temos de mover com ele, cada um com suas crenças e suas bandeiras, do melhor transporte, ensino e saúde, passando por todos os outros anseios, inclusive o expresso num bem humorado cartaz carioca: não é por 20 centavos mas por um gol do Taiti
24 de junho de 2013
Fernando Gabeira
 

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