"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 24 de junho de 2013

BRASILEIRO TROCA CRÉDITO PARA CONSUMO POR FINANCIAMENTO PARA PAGAR DÍVIDAS

Com orçamentos cada vez mais apertados e endividamento no topo, famílias recorrem principalmente ao crédito consignado, que cresceu 20,8% em 12 meses, e fogem dos empréstimos para a aquisição de bens, como os automóveis
 
  
Mudou a procura dos brasileiros por crédito. As pessoas têm buscado mais as linhas que oferecem dinheiro vivo, usado principalmente para pagar dívidas, do que aquelas que vinculam o financiamento à compra de um produto.

E a estrela do crédito é o consignado, cuja prestação é descontada do salário do trabalhador, praticamente sem risco de calote para os bancos. O volume de aprovações do consignado cresceu 20,8% em 12 meses até abril, segundo dados do Banco Central (BC).
 
Também as concessões no cartão de crédito à vista, que acabam dando um fôlego extra para o orçamento das famílias até a data do pagamento da fatura, cresceram 15,4% em 12 meses até abril.

Já as linhas ligadas diretamente ao consumo tiveram baixo crescimento ou até caíram no período. As concessões de crédito para a compra de veículos, por exemplo, recuaram 5,9% em 12 meses até abril.
 
A mudança no perfil da demanda por crédito foi provocada pelo alto endividamento das famílias, combinado com a inadimplência elevada e resistente, segundo os especialistas em crédito.
Além disso, o avanço da inflação nos últimos meses corroeu o poder de compra da população, o que resultou no desempenho pífio do consumo das famílias, que cresceu só 0,1% no 1.º trimestre deste ano ante o último de 2012.
 
"Hoje, o ambiente é outro. As pessoas estão procurando crédito para fazer caixa, não para consumo", afirma o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas.
Como houve crescimento significativo nas concessões no primeiro trimestre nas linhas de consignado e cartão à vista, o economista ressalta que esses são fortes indícios de que "as famílias estão com o caixa estrangulado e precisam de crédito para completar o orçamento". Segundo ele, as linhas ligadas ao consumo perderam dinamismo.
 
Essa também é a avaliação do economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes.
Nas contas dele, entre dezembro do ano passado e abril deste ano, a média diária de concessões do crédito consignado cresceu 46,1%, considerando as variações típicas desses meses.
Em contrapartida, no mesmo período, as aprovações diárias de financiamentos para aquisição de bens e compra de veículos caíram 22,9% e 17,2%, respectivamente, no mesmo período.
 
O destaque foi o consignado. Segundo Bentes, em fevereiro deste ano, a fatia do saldo dos empréstimos consignados ultrapassou pela primeira vez a de veículos no crédito pessoal com recursos livres, excluindo o crédito imobiliário. Em abril, o último dado disponível, o consignado respondia por 28,6% do total emprestado ao consumidor e os veículos, por 27,2%.
 
"O consumidor está com menos folga no orçamento", diz Bentes. Pesquisa da CNC mostra que 65,8% das famílias mais pobres, com renda inferior a dez salários mínimos (R$ 6.780), estavam endividadas em maio. Foi o segundo mês seguido em que o endividamento aumentou nesse estrato de renda. Em maio de 2012, esse índice era 56,9%.
 
Dinheiro. Bancos e financeiras confirmam a mudança de perfil da demanda por crédito. "Tem mais gente procurando crédito em dinheiro do que financiamento para a compra de produto", diz Ramon Martinez, diretor de Risco da Cetelem, financeira do BNP Paribas.
 
No primeiro quadrimestre do ano, as concessões da linha de crédito pessoal da financeira cresceram 25% em relação a igual período de 2012, mais que o dobro da variação registrada na aprovação de crédito de cartões (12%), normalmente atrelada à compra de produtos.
Por meio de cartões, a Cetelem financia as vendas em 30 varejistas espalhadas pelo País. "O desempenho do crédito pessoal surpreendeu", diz Martinez.
 
No Itaú Unibanco, a carteira do consignado foi a que mais cresceu no primeiro trimestre no segmento de pessoa física. O saldo dessa linha de crédito aumentou 20% na comparação com dezembro e a perspectiva é fechar o ano com expansão de 50%. Rogério Calderón, diretor de Controladoria do banco, explica que uma parte do crescimento projetado para o consignado ocorre em razão da parceria fechada com o BMG em 2012. A outra parte se deve à maior procura por essa linha.
 
No Bradesco, o saldo da carteira de crédito consignado cresceu 22% em março deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado. O ritmo foi o dobro do registrado na carteira total do saldo de pessoa física (11,6%). "A população está mudando o jeito de tomar crédito e buscando taxas menores", diz o diretor adjunto do Bradesco, Octávio de Lazardi.

24 de junho de 2013
Márcia de Chiara - O Estado de S.Paulo

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