"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 5 de junho de 2013

BIBLIOTECA BRITÂNICA ABRE EXPOSIÇÃO SOBRE PROPAGANDA POLÍTICA

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Propaganda política iraquiana em forma de baralho, com Saddam estampando o às de espadas (Reprodução/Economist)

Mostra traça a história da propaganda política desde as moedas gregas até os dias atuais
     
É fácil perceber a presença de propaganda oficial. De folhetos despejados além das linhas inimigas a outros apelos mais óbvios à bandeira e à nação, as tentativas do governo de influenciar a opinião pública frequentemente parecem risivelmente óbvias – pelo menos em retrospecto. No entanto, muito do fomento do orgulho nacional costuma ser mais sutil – e mais eficiente, e talvez mais preocupante – do que gostamos de admitir. Esse é o argumento de “Propaganda: Power and Persuasion”, uma nova e provocativa exposição da Biblioteca Britânica em Londres.

A palavra "propaganda" foi registrada em sua forma escrita pela primeira vez em 1622. O tratado da Igreja católica exortando a "propagação" da fé é exibido na seção de abertura da exposição. Mas a prática é anterior aos papas e Lutero, tendo sido iniciada por moedas gregas cunhadas com o perfil dos governantes. Foi só a partir do início do século XX, no entanto, que se iniciou o que é compreendido hoje como propaganda. Os objetos históricos raros, por si, já tornam essa exposição obrigatória. Estes incluem o "Pequeno Livro Vermelho"
do camarada Mao, os rádios baratos de Joseph Goebbels vendidos para que os pronunciamentos nazistas fossem transmitidos, pôsteres de Hitler como um salvador nacional e "Mao vai a Anyan", a imagem mais reproduzida da história (impressa 900 milhões de vezes). O estabelecimento da lealdade nacional é especialmente vital em tempos de guerra, quando é necessário que os inimigos sejam demonizados e os cidadãos leais sejam tranquilizados, alarmados e instados a se sacrificar. Tais finalidades são claras na propaganda oficial criada
para a guerra do Iraque de 2003.


Um dos destaques da mostra é um conjunto de pôsteres de Normal Rockwell em perfeito estado chamado "As Quatro Liberdades" cedido por um galerista de Londres. Criados para persuadir os americanos a comprarem títulos de guerra durante a Segunda Guerra Mundial, esses pôsteres de 1943 angariaram US$ 130 milhões ao retratar os valores nacionais da família, da oração e da nobreza do homem trabalhador. Um tom semelhante é verificado em um cachecol de 1942 com um mapa que aponta as localizações dos ataques de bomba, no qual também se lê o slogan "London Can Take It" (Londres consegue aguentar) extraído do famoso discurso "Lutaremos contra eles nas praias" de Winston Churcill.

Métodos de disseminação do medo e intimidação, como aqueles de construção de confiança, não mudam muito ao longo do tempo, afirma Cooke. Em exposição está o famigerado baralho distribuído pelos militares americanos no Iraque em que fotos dos iraquianos mais procurados estampam as cartas, sendo que o ás de espadas coube a Saddam Hussein. A exposição também inclui um exemplo notório de propaganda oficial falsa: uma primeira página do Daily Express
londrino com a manchete “Saddam pode atacar em 45 minutos”. Baseado em
declarações enganosas do governo, a tática de apavoramento ajudou a levar a Grã-Bretanha à guerra em 2003.


*Texto traduzido e adaptado da Economist por Eduardo Sá.

05 de junho de 2013

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