Houve um tempo em que os carros, automóveis, todo e qualquer veículo que pertencesse ao serviço público tinha a placa de licenciamento de cor branca. Carro com chapa branca era carro oficial, do serviço público, e se identificava como tal.
Nossos carros tinham placas amarelas. Automóvel nosso tinha a “chapa cidadã", de cor amarela, que era a chapa dos carros particulares. Quem ainda se lembra disso?
O mau uso do carro oficial ficava explícito, e podia dar encrenca. Carro de chapa branca – um bem público - usado em uma atividade de caráter nitidamente privado, era imediatamente identificado.
Transferida a capital para Brasília, no recém-criado estado da Guanabara, uma vez empossado Governador, Carlos Lacerda não hesitou: deu ordem para que os carros oficiais do novo estado, além da chapa branca, tivessem uma faixa amarela pintada na carroceria. Acabaram os abusos.
Mas agora, como que coroando a confusão entre o que é público e o que é privado, impuseram a todos nós o que era só deles, dos poderosos, e os identificava: veio chapa branca geral, universal, para todo mundo. Acabaram com a nossa placa, a placa cidadã, a placa amarela.
Uma medida simples e safada, nunca explicada. Sua origem nunca se soube, nem foi justificada. Foi simples e eficientemente corruptora: acabaram com a chapa amarela que identificava os nossos automóveis, particulares, pagos e sustentados por nós, para nós, com o nosso dinheiro.
E a confusão hoje se estende a aviões e helicópteros, além dos automóveis.
Prancha de surfe em helicópteros públicos, avião público para passeios privados, para ver jogo de futebol, para curtir vida boa com o imposto que pagamos. Uma imensa patifaria.
Está mais do que na hora de voltar a nossa chapa, a “chapa cidadã”, a chapa amarela. E era bom pintar uma enorme faixa amarela em todo e qualquer veículo público: carro, helicóptero, avião, trator, navio, o que fosse. Seria uma grande medida moralizadora: obrigaria todo mundo a mostrar a cara.
16 de julho de 2013
Edgar Flexa de Ribeiro é educador.
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