"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 16 de julho de 2013

"NA MORAL" DE PEDRO BIAL

           
          Media Watch - Outros 
O programa “Na Moral”, apresentado por Pedro Bial, levou ao ar um “debate” (bota aspas nisso) cujo tema foi a “legalização das drogas”, no último dia 4 de julho. Dentre os convidados para o “debate” estiveram o ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso, o músico Marcelo D2 e a atriz Fernanda Montenegro.
 
Citar os convidados já bastaria para dizer do que se trata. Pois é. Foi mais um daqueles típicos “NÃO vale a pena ver de novo”, salvo o caso se alguém for assistir a atração global como se fosse um biomédico que colhe uma amostra fecal – neste caso, da canalhice midiática brasileira.
Não que desta vez tenha havido uma apologia à legalização da maconha. Não. Desta vez foi uma apologia à legalização de absolutamente tudo. Isto é dizer que foi o maior exemplo recente do uso da técnica da porta na cara da televisão brasileira [1]. Coisa para Ivan Karamazov nenhum botar defeito.
 
Sob pretextos monetários e a conclusão (feita pelo próprio Bial) de que a guerra foi vencida pelos bandidos, ficou-se convencionado (pelo menos entre o apresentador e seus convidados) que é necessário estender o tapete vermelho para as FARC, Beiramar e cia. Ltda por se tratar de uma guerra impossível de vencer.
Bem, eu não o vi “dar nome aos bois”, mas como será possível chamar os distintos guerrilheiros e traficantes de “bandidos” quando cocaína for mercadoria devidamente legalizada?
 
Que é uma guerra impossível de vencer é coisa sabida, mas daí tirar a conclusão de que se deve cessar a guerra e dar os louros da vitória à bandidagem… bom, isso é infame, para dizer o mínimo.
 
Se aceitarmos essa infame conclusão, deveremos então acatar a sugestão do primeiro infeliz que advogar o fim da medicina por ser uma guerra sem prognóstico vitorioso; não precisa ser um gênio para saber que as doenças jamais serão eliminadas deste mundo. E mais: cada vez que o sol nasce, maior é o gasto do combate às doenças. Deveríamos então cessar a medicina por conta de ser uma guerra cada vez mais cara e sem chance de vitória? Nessa lógica macabra (típica das organizações as quais o nosso ex-presidente apoia) sim.
 
É óbvio que nesse infame pacote não poderia deixar de vir embutida alguma absurdidade daquelas que passam despercebidas e são inculcadas no subconsciente do telespectador: a criminalização do açúcar. Imagine só você quantas desgraças e quantos assassínios foram causados pelo açúcar.
Pense só quantos filhos roubaram todos os pertences da família para poder desfrutar de mais um milk-shake!  
Quantas vezes vimos José Luiz Datena e Marcelo Rezende se indignando com os canalhas que submeteram comunidades inteiras para desfrutar de um bolo de brigadeiro!
Imagine você a formação de uma milícia como as FARC que se sustente por meio da venda de açúcar.
 
E antes que venha alguém mais engraçadinho que eu dizer: “ora, mas e as pessoas com diabetes e outras doenças agravadas pelo açúcar, o que você diz?”. Digo que até água em excesso mata.
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[1] Explicando resumidamente, essa técnica consiste em pedir algo muito maior para conseguir algo menor, que no final das contas, era o que se pretendia desde o começo. Por exemplo: Quero 10 reais, portanto peço 100 reais; Quando a pessoa recusar a quantia maior (e fechar a porta na minha cara), eu peço então que ela faça uma pequena cessão de apenas 10 reais – uma quantia muito menor que a originalmente pedida.

Pois bem, quando a luta era apenas pela legalização da maconha, conseguiu-se uma tolerância bem maior com os usuários (estou dizendo que foi assim, não estou fazendo juízo de valor). Agora que isso não basta mais, prega-se a legalização de todas as drogas para que se legalize pelo menos uma (ou algumas delas) e assim vai: de porta em porta na cara eles vão conseguindo o que querem. No livro Maquiavel Pedagogo – que eu não canso de citar – existem exemplos práticos da aplicação mal intencionada dessa técnica no meio educacional.

16 de julho de 2013
Leonildo Trombela Júnior é jornalista e tradutor.

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