Junho e suas manifestações mostraram que o tabuleiro de 2014 se misturou tanto, que aquelas tendências para intenção de votos nas eleições presidenciais de há dois meses – em que Dilma fazia os demais competidores comerem poeira - mudaram radicalmente.
Nesse cenário novo, avança em caminho de paus e pedras a criação do partido Rede Sustentabilidade, formado para sustentar a candidatura supostamente outsider da ex-ministra do meio ambiente, ex-senadora e ex-petista Marina Silva.
Os apoiadores de Marina se guiam pela esperança de que, em 2014, ela vá muito além dos 19,6 milhões (19,3%) de votos angariados em 2010, quando defendeu programa macroeconômico radicalmente neoliberal - baseado superávit primário, independência do BC – e tergiversava entre valores conservadores, para agradar o voto evangélico, e propostas “sustentáveis”, para não desagradar parcela progressista de seu eleitorado.
Agora, a ex-Partido Verde quer fazer da indefinição ideológica um trunfo da Rede em seu plano de voo à vitória. Percebeu que os meios de comunicação disseminaram amplamente uma aparência desideologizada das manifestações e quer surfar na onda histórica.
Segundo notícias de imprensa, os capas-pretas da Rede orientaram seus apoiadores a não participar das manifestações, provavelmente mirando em dois alvos.
De um lado, planejando angariar eleitores entre os que são contra as PECs, contra o Feliciano, contra a corrupção blá blá blá (e que terminaram por intimidar com violência nas manifestações aqueles que vestiam camisas de partidos e centrais sindicais, numa atitude fundamentalista e fascista).
Essa primeira opção geraria um segundo produto valioso: a simpatia dos meios de informação, tornando esta Rede – supostamente também contrária ao “tudo que está aí” - um amigo simpático às corporações televisivas, que mantém enorme peso em eleições nacionais e têm ascendência justamente entre os sem-ideologia.
Pessoalmente, Marina também aposta nessa estratégia pró-desesperançados. "Ao ser questionada se é de direita ou de esquerda, Marina disse ser "sustentabilista progressista" (Valor Econômico, 12/07), como se isso significasse alguma coisa. (Não estará sozinha: o presidente do STF Joaquim Barbosa também segue a linha anti-partido)
Não foi sequer inovadora a ex-petista. Lula, seu ex-líder, quando perguntado nos anos 80 e 90 se era comunista ou socialista, respondia sem pestanejar: "Sou torneiro mecânico". No sistema lulocrático que sempre vigiu no PT, ninguém ousava dizer que aquela era uma tirada de oportunismo político diante da queda do Muro de Berlim e do “fim da história”. Mais tarde, o “torneiro mecânico”, ansioso de acessar o poder, assinou a Carta ao Povo Brasileiro. Faz-se lá ideia do que seria capaz agora alguém que se enrede em um conceito tão vazio quanto este "sustentabilista progressista".
16 de julho de 2013
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.
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