Artigos - Cultura
LEIO N’O GLOBO: “Para brasileiros, mídia é a entidade mais confiável”. Oh My! Será mesmo que li essa enormidade? Atualizo a página e LEIO N’O GLOBO: “Para brasileiros, mídia é a entidade mais confiável”. Sim, é verdade. Juro pela alma do mc daleste – mais a do Safatle, de troco (se é que ele tem uma). Não vou emporcalhar minha página com o link.
Acreditem em mim. Se vocês são brasileiros e acreditam na mídia, então vocês acreditam em qualquer coisa. Acreditem em mim. 66% cabeças de gado guarani-kaiowa consideram que os veículos de comunicação são confiáveis. Em suma: brasileiros são a entidade menos confiável do universo. Elevamos a estupidez ao estado da arte. É o único Nobel que merecemos. Antes ler isso do que ser cego. Antes SER CEGO do que ler isso.
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BOLSA-FILISTEU (para os íntimos, ‘vale-cultura'): projeto da Marta Suplicy será assinado pela presidente na próxima semana. A patacoada é a seguinte: empresas estatais (todas) vão repassar um benefício mensal de cinquenta dinheiros para os trabalhadores que recebam até cinco salários mínimos (cinco salários já não caracterizam a classe-média fascista?). O cidadão terá, portanto, uns trocados a mais para consumir os bens culturais que porventura os artistas chapa-branca vierem a produzir. Todo mundo agora vai poder se ilustrar dignamente, vejam só.
E o mais importante: o benefício será cumulativo. A pessoa pode juntar as figurinhas e comprar um instrumento de batuque, um dvd do mc daleste, uma revista de qualidade como a 'caros amigos' ou, se suas necessidades por cultura forem prementes, chacoalhar o esqueleto num ‘batidão’ qualquer. "A pessoa pode usar com tudo que for majoritariamente cultural, cinema, teatro, museu, livraria, banca de jornal e instrumento musical.
Se não tem produção cultural na cidade, como a pessoa vai gastar?”, diz a ministra. Para resumir é o seguinte: o dinheiro do estado (eu, tu, ele, nós, vós, eles) criará demanda e financiará mais produções – “majoritariamente culturais”, hein? – execráveis de vagabundos respectivos, nesse que é o mais eficiente sistema de arrendamento de liberdades artísticas e intelectuais de que se tem notícia. Ditadura de esquerda? Nós não precisamos disso. Nossos outsiders são mais insiders que os outsiders dos outros.
12 de julho
ZEITGEIST ‘Espírito do tempo’, ou: conjunto de merdas costumeiramente pensadas, sentidas, acreditadas, ditas e escritas num dado momento histórico. Por exemplo: as gentes esclarecidas promovem o aborto e todo aquele lero-lero sobre partes do corpo, direitos da mulher e demais estultices, mas ficam horrorizadas se você pisa num ovo de tartaruga ou derruba árvore centenária que pende sobre sua casa. A vida concebida no ventre materno não é vida – e, se é vida, não é vida humana –, mas quando encontram a porcaria de uma bactéria numa porcaria qualquer de planeta é aquela gritaria: “Vida! Vida!”. Direitos do nascituro? Nascituro tem é de ficar quieto – pequenininho demais pra já começar reclamando! –, enquanto o malandro com 17 anos e 11 meses que executa criança deve ficar só um pouquinho na Fundação Casa e depois ser ressocializado e comprar pão na padaria, que nem você. Padre não pode dar um pio nem mesmo para seus fiéis – nem para as velhinhas beatas –, mas temos de conceder nossa atenção e nosso respeito aos pensadores da Frei Caneca, quando resolvem dissertar sobre todas as coisas tidas, havidas, moventes e viventes entre o céu e a terra. Retirem-se os símbolos cristãos do alcance da vista! Mas a foice e o martelo, e a foto daquele cão vadio (aka Che Guevara) na camiseta da molecada representam o que há de mais atual no quesito ‘liberdade de expressão’ (Korda, seu puto, eu não esqueço de você). Em suma, Zeitgeist: 'Obras Completas' do Leonardo Sakamoto. Introdução e notas por Vladimir Safatle.
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ENGRAÇADO isso de se dar nome aos bois. Aos bois não: aos carros. Você tem o, vejamos, ‘Fiesta’. Daí eles trocam uma lâmpada e lançam o ‘Novo Fiesta’. Trocam a luz de freio e vira ‘Novo-New-Fiesta’. Mais um botão no painel e a porra do carro vira ‘Novo-New-Neo-Fiesta’. Um pouco mais e temos o ‘Novo-New-Neo-Eu-To-Falando-Que-Dessa-Vez-É-Diferente-Fiesta’. E por aí vai. Gosto mesmo da famigerada obsolescência programada. Sério. Deus me livre de ficar com o mesmo objeto por trezentos anos. Sou conservador mas não sou tarado. Agora, essas inovações de carros e telefones celulares já são outros quinhentos. Guénon deve estar por trás disso aí, hein, não sei não.
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ME PERGUNTAM TAMBÉM (virei o gênio da lâmpada, parece. Queria avisar as gentes que o gênio da lâmpada é o Ronald Robson. Grato) o que eu penso sobre a Fernanda, aspas, Young (já passa dos 40, salvo engano). Nunca li. Sei que ela escreveu aquela bobagem que passou na tv globinho – ‘Os Normais’, confere? Se não, problema de quem escreveu. Mas o que tenho a dizer da Fernanda Young com aquela cara de ‘Oh como eu sou pós moderna e sexy com esse jeitão aqui de quem sabe do vazio civilizacional de que Freud falava’ que ela tem é o seguinte: ela fotografou pelada para a revista Playboy, fiquei sabendo. E eu nem dei por isso. Fim.
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PENSE NUM escroque. Sujeito sem vergonha, mesmo, amigo de gente da pior qualidade. E, mesmo assim, o sacripanta fala sobre coisas importantíssimas e está certo sobre muitas dessas coisas importantíssimas. Aquele tipinho que você não pode ignorar; antes, você tem de prestar muita atenção no que ele anda dizendo, ainda que não seja lá razoável 'gostar' dele. Um gênio do mal, ou algo próximo disso. Tem cabelo branco e tem nome: Julian Assange.
11 de julho
POLÊMICA: sou contra a pena de morte. Por essa vocês não esperavam, hein? Duas dúzias de amigos conservadores devem, neste exato momento, estar considerando seriamente a possibilidade de desfazer tão nefasta amizade. Eu os traí. Eu sou o Caim do conservadorismo. Mas não, amigos e inimigos, eu não os traí. Eu traí a agenda. Muito embora enquadramentos ideológicos sejam pouco interessantes, não tenho problema algum em assumir meu conservadorismo. Antes: a ‘disposição conservadora’ de que fala Michael Oakeshott, reativa e necessariamente cética. Mas assumir essa disposição não significa carregar todo o pacote pra casa.
Devo mais à minha consciência do que a um conjunto de preceitos políticos ou a um cortejo de Abéis. Sim, eu sei que nem mesmo a Igreja Católica condena a pena capital. Santo Tomás de Aquino escreveu sobre e o fez muito bem – e eu não tenho pena dos vilões. A questão é outra e a questão é simples. Se, como conservador, nego ao estado, em princípio, a prerrogativa de tributar; se nego ao estado o monopólio da educação; se me desagrada que o estado regule a economia e se, enfim, quero o estado limitado às funções mínimas que nem bem sei quais seriam – tamanho meu repúdio prudencial ao ‘detentor do monopólio da força’ –, então não me parece razoável que eu conceda ao estado o maior poder entre todos: o de decidir quem pode viver e quem deve morrer. Admitir que o estado execute é, na prática, aceitar o muito e rejeitar o pouco. É cuspir um Jean Wyllys e engolir um Josef Stalin.
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OH LORD: me perguntam o que penso sobre aquela adolescente tardia, a Marcia Tiburi. E por dois minutos e meio resolvi pensar que ela deveria pensar algo que preste, de vez em quando, e ter comportamento respectivo. Mas prefere fazer caretinhas com aquelas gengivas pornograficamente de fora. Ela acredita que suas caretinhas sejam uma graça. Não são. Ela acredita que as bobagenzinhas que escreve sejam uma graça. Também não são.
As garotas vagamente feias e desajeitadas do colégio? Algumas delas resolvem estudar filosofia ou ciências sociais e viram a Marcia Tiburi. Só para mais tarde poderem dizer – depois de setecentos e noventa e quatro relacionamentos frustrados – que o casamento monogâmico não funciona, que a melhor forma de não se fazer sexo é casando, que homens são de marte e mulheres são de vênus, e as bobices todas que qualquer mulher um pouquinho mais razoável já teria superado depois dos vinte. A propósito: sabiam que o Pondé perdeu um debate pra ela? Pois é, num daqueles cafonérrimos cafés filosóficos. Fodão, ele. E pronto: já pensei na Marcia Tiburi.
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NO TEMPO BOM em que as crianças nasciam de papais e mamães e não do cruzamento de wyllyzinhos, cena bastante costumeira era vista: o garoto estava na rua a jogar bola, a incomodar os vizinhos, a apertar a campainha alheia (sim, eu confesso) e, duas horas mais tarde, ouviria um grito que gelava sua espinha: “Sai da rua, moleque! Vem já pra dentro tomar banho, estudar e comer!”. Eu ouvia isso e, garanto, em dez segundos, estivesse onde estivesse, voltava pra casa. Obediente como um soldado. Contrito como um santo.
Era o tempo, aliás, em que as bolas entravam no quintal alheio e de lá saiam invariavelmente retalhadas – e ali acabava o futebol. Mas todos compreendiam, sem muitas palavras, que não se pode incomodar os vizinhos. Exercíamos nossa rebeldia (natural, para a idade) até certos limites que não seriam ultrapassados.
Muita coisa mudou desde então, e hoje o grito que se ouve já não é mais da mãe ou do pai que, em casa, exigiam que saíssemos da rua. Hoje é o grito da rua que nos exige sair de casa: “Vem pra rua!”, ouço daqui. Agradeço a lembrança, mas declino do convite. Não contem comigo. Vou já pra dentro tomar banho, estudar e comer.
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MANIFESTANTE BRASILEIRO aprendendo a conjugar civicamente os verbos: Eu protesto/ Tu trabalhas/ Ele trabalha/ Nós protestamos/ Vós trabalhais/ Eles trabalham.
10 de julho
ERA UMA VEZ um parque, cheio de eucaliptos e sombra. No parque havia também um lago e, no lago, patos. Lá eu passei muitas tardes na infância. Vinte anos depois daquela infância, não há mais eucaliptos, lago ou patos. Quase não há crianças porque quase não há parque. O que se tem, agora, é espaço – muito espaço – e objetos desconexos, como que autossuficientes. Um arquiteto qualquer há de ter visto fotos de um idílico gulag, e dali terá vindo sua inspiração. Não pode ser outra coisa. A arquitetura moderna, no limite, é isso: uma forma sofisticada de se ignorar as pessoas e louvar o cimento. O concreto. O inorgânico. Grandes espaços vazios – e, como os urbanistas gostam de dizer, ‘planejados’ – para que as pessoas os 'usem'. Mas viver em cidades é não planejar viver em cidades: é conviver, é habitar. Desejar estar ali e cultivar hábitos. Um prédio qualquer do – morreu mesmo, certo? – Oscar Niemeyer é um culto ao isolamento e ao egocentrismo. Pois o que nos protege da violência urbana e da solidão não são as praças desportivas ou as ruas cuidadosamente desenhadas, mas as ruas tais como são: cheias de gente, movimento e arranjos ocasionais. E também os parques com eucaliptos, sombras, lago e, se calhar, uns patos. A arquitetura moderna é um lugar onde não se quer estar.
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PETISTAS reclamando do Jô Soares, que parece ter reclamado da presidente de mentirinha, que parece ter reclamado para o presidente de verdade, que há de reclamar do Jô Soares. – in ‘Quadrilha’, atualização da.
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MC's et caterva (antes) "Nóis é foda nóis é vidaloka puliça raça do caralho".
MC's et caterva, and mommy (depois): "Mimimimimimimimi".
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SOCIALISMO: quando duas (ou mais) cabeças NÃO pensam melhor do que uma.
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MISANTROPOS de todo mundo, desuni-vos!
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É SEMPRE divertido lembrar: para que as tais ‘pessoas LGBT’ existissem, e fizessem o barulho que fazem, e votassem no Jean Wyllys, e pretendessem proibir a Bíblia, e reclamassem do coitado do papa, e sapateassem gritando que tudo, tudinho é homofobia – até o que não é homofobia é homofobia, senão eles ficam bravos –, e estudassem sociologia, e fundassem ongs, e um longo etc, foi preciso que certo dia um casal bem reacionário, conservador mesmo – boring a mais não poder –, tivesse ao menos uma relação heterossexual daquelas de antigamente: sem grandes pirotecnias, mas que funcionam desde que o mundo é mundo. Que foda, hein, que foda. Em suma: para cada wyllys falante há um casal de bolsonaros fazendo a coisa como sempre foi feita. Paciência. Mas só queria dizer isso, antes de dormir. Por pura ruindade.
9 de julho
NÃO CONCORDO com uma só palavra do que você diz, mas defendo até a morte (não, nem tanto; só se for a sua) seu direito a pensar melhor, considerar as possibilidades todas, amadurecer as idéias, tomar juízo na vida, conversar com sua mãe e, enfim, voltar aqui rapidinho e concordar comigo.
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CHEGA INFELIZMENTE ao meu conhecimento certo filme que pretende revelar coisas sobre aquela amazona de triste figura que atende por esse nome tão, como direi, rococó: “Desvendando Jean Wyllys: quando a verdade vem à tona”. Se o filme fala coisas ruins sobre a entidade em questão, eu concordo com o filme. Nem sei do que se trata, mas concordo com o filme. Onde é que eu assino? Mas uma coisa é certa: passo a vez. Se tem uma coisa no mundo que eu não quero nunca – vivo, morto ou zombie – é ‘desvendar’ o nobre deputado. Ele tem é de ficar vendado, amordaçado, encapuzado, enfaixado e embalado pra viagem (de ida). Deus me livre e guarde.
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CHUCKY (aka Dilmão) acordou invocada(o): resolveu que os médicos recém-formados terão de trabalhar no SUS por, pelo menos, dois anos (os cubanos já chegaram? Disso eles entendem). Só faltam agora os hospitais, os remédios e os agentes da polícia política. Mas eu queria mesmo é ver a(o) presidente trabalhar por dois anos – ao menos dois anos! –, depois de eleita(o). Digo isso e faço já um mea culpa: pior do que político que não cumpre o que promete é político que cumpre o que promete.
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SÓ ME CONFIRMEM uma coisa: a canaille, enfim, parou de protestar? Faz dias que não oiço nada sobre violentas manifestações pacíficas, ônibus acidentalmente incendiados por jornalistas, gás pimenta pra cá, vinagre pra lá, brioches, pec's, patriotismo de fancaria, estupidezes e a burrice costumeira que se exibe no jornal das 20h. Já quase estou com saudades de me emocionar com a charanga toda. Mas deixa eu voltar a dormir que esse clima não está nada bom aí fora, e hoje acordei homofóbico. Vamos ver se passa. Good morning, and good luck.
16 de julho de 2013
Gustavo Nogy
Publicado no site Ad Hominem.
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