O JANIO CARECA
RIO – Esta foi Carlos Lacerda quem contou, em suas memórias :
“Depoimento”. Uma jóia da alma histriônica e maquiavélica de Janio. Na manhã da convenção da UDN (Palácio Tiradentes, Rio) que derrotou Juraci Magalhães e o indicou candidato à Presidência da República, Jânio Quadros chamou Lacerda à suíte do Hotel Glória, onde estava hospedado:
- Carlos, não agüento essa sua UDN. Eu não agüento mais o que vem me dizer o Afonso Arinos, as condições que querem me impor.
- Jânio, não é bem assim. Você vai ganhar a convenção. Vamos lá.
- Não, não e não!
Afonso Arinos, que estava com outros dirigentes da UDN na sala da suíte, empurrou a porta:
- Governador, nós já vamos à convenção para começar os trabalhos e daqui a pouco uma comissão virá buscá-lo e aclamá-lo como candidato.
- É engano seu, senador. Não sou mais candidato. Eu quero lhe pedir o obséquio de ser o meu porta voz, porque não quero comprometer o Carlos, que já se comprometeu demais, coitado, com a minha candidatura.
LACERDA
Afonso Arinos quase teve um treco:
- O que é isso? E agora?
Lacerda entendeu o golpe:
- Ô Jânio, parece-me que você não quer é se atrelar a uma só candidatura, de um udenista, à vice-Presidência. Não é isso? (Havia Leandro Maciel, indicado pela UDN, e Fernando Ferrari, do MTR).
- Talvez, não é só isso. Talvez seja isso também.
- Bem, Jânio, não tenho condições de libertá-lo de compromissos. Mas se vou aceitar sua candidatura pela UDN, PDC, PR, PTN não sei mais o quê, você realmente não depende de ninguém.
- Está bem. Faço o sacrifício.
LEANDRO
Irritado, Lacerda renunciou à liderança da bancada da UDN na Camara dos Deputados, mas foi para o Palácio Tiradentes, onde fez, de improviso, um discurso histórico sobre “O Rio e a Liberdade”. Era 8 de novembro de 1959. Daí a pouco Janio entrava apoteoticamente na convenção da UDN, que o escolheu por 205 votos contra 83 dados a Juracy Magalhães, até há pouco presidente nacional do partido.
Janio começou a campanha, mas não dava a menor confiança ao vice Leandro Maciel, que chamava de “ataúde de chumbo”. Seus amigos ou faziam a campanha de Ferrari ou a de João Goulart, o vice do general Lott. Em 27 de novembro, novo golpe teatral de Janio: mandou uma carta à direção da UDN renunciando à candidatura “por falta de unidade politica” e desapareceu numa fazenda do interior de São Paulo.
Só voltou quando a UDN se comprometeu a substituir Leandro Maciel pelo inatacável Milton Campos, que perdeu para Jango em Minas.
SERRA
José Serra não é Janio com sua cabeleira e suas manhas revoltas. É careca sem caspas e intelectual concentrado. Mas também apela para o patético. Em 2002, candidato a presidente da Republica contra Lula, no jantar de aniversario de um radialista amigo, também em São Paulo, Serra, tenso, pegou pelo braço o deputado e criador da Força Sindical, Luiz Antonio Medeiros, e levou-o para a varanda:
- Medeiros, desta vez você vai ficar conosco?
- Não posso, Serra. Sou PL e meu partido deve apoiar o Lula. Pela primeira vez vou ficar com o Lula. Da próxima conte comigo.
- Não haverá a próxima, Medeiros. Será agora ou nunca. Estou com 60 anos e sei que minhas energias e chances são agora. Vi o Montoro acabar o governo gagá, aos 70 anos. (Montoro nasceu em 16 de julho de 1916, terminou o governo em 86 e morreu em 16 de julho de 99. Serra nasceu em 19 de março de 1942.). Vai ser tudo ou nada, Medeiros. Vou jogar tudo e passar por cima de quem se puser na minha frente.
Lula passou por cima dele.
LEONIDAS
Mas Serra não é fácil. Nas campanhas, os aliados sofrem para administrar seus mistérios. O general Leonidas Pires Gonçalves, ministro do Exercito do governo Sarney de 85 a 90 e eleitor de Serra, entrou em um elevador, em São Paulo, com a mulher. Encontrou José Serra lá dentro:
- Senador, como vai o senhor?
- Bem.
- Esta é minha mulher, senador.
Serra não cumprimentou nem olhou para a mulher do general Leônidas, que também não disse nada e saiu sem se despedir. O general até hoje não entendeu a grossura de Serra. Não sabe se ele não o reconheceu, se ele é assim mesmo ou tinha acabado de receber uma pesquisa.
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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