"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 28 de maio de 2012

A LUTA PELA IDENTIDADE À DISTÂNCIA


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'Nada de Olimpíadas na terra do genocídio', diz o cartaz do manifestante circassiano contra os Jogos Olímpicos de 2014, em Sochi (Reuters)
Espalhados por mais de 40 países, circassianos buscam a formação de uma identidade nacional e o reconhecimento do massacre de seus ancestrais no século XIX

Entre as causas perdidas, a do circassianos é especialmente triste. Depois de ter fugido de sua terra natal no nordeste do mar Negro, no século XIX com a expansão para o sul da Rússia imperial, 90% deles (as estimativas variam entre 5 e 8 milhões) estão no exílio. Eles se reuniram em mais de 40 países, em 21 de maio, para lembrar os massacres de, dizem eles, mais de um milhão de pessoas em 1864.

Os comícios marcaram um novo ponto alto, depois de décadas em que a causa ardeu numa diáspora espalhada. “Por muito tempo nós limitamos a manter viva a nossa dança e linguagem”, diz Tamara Barsik, uma norte-americana de origem circassiana, de 29 anos e moradora de Nova Jersey. “Mas a internet nos deixou ler sobre a Circássia. Estamos trabalhando agora para desenvolver uma identidade nacional”. Ela e seus colegas estudam de perto as táticas de outros imigrantes que lutam por causas distantes, incluindo os grupos armênios, estonianos e judaicos.

Um dos objetivos é ter o reconhecimento de seu sofrimento passado. Ativistas se irritaram com a escolha de Sochi para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014. Agora, um resort à beira-mar russo, a cidade já foi a capital circassiana, e o palco de eventos esquecidos na Rússia moderna. “Queremos que os atletas saibam que, se competirem aqui estarão esquiando sobre os ossos de nossos parentes”, diz Iyad Youghar, que lidera o Conselho Internacional Circassiano, um grupo de lobby. Os Estados Unidos dão um pouco de apoio aos circassianos, realizando transmissões televisivas em uma das duas principais línguas. O parlamento da Geórgia, ansioso para irritar a Rússia, oficialmente classificou os massacres como “genocídio”.

Tais movimentos criaram a suspeita na Rússia de que a causa circassiana é um complô ocidental. O restante dos circassianos estão espalhados por três repúblicas no conturbado Norte do Cáucaso. Embora a região não seja assolada pela violência da Chechênia por perto, as autoridades locais têm mantido um controle apertado. “Não me sinto livre e confortável lá”, diz Sataney Chigun, um jornalista jordaniano de origem circassiana que se mudou para a região quando criança, mas partiu em 2010.

No entanto, a Rússia tem suas atrações também – especialmente para os cerca de 100 mil circassianos envolvidos no conflito da Síria. Parlamentares russos examinaram sua situação em março, e 25 famílias se mudaram de volta em maio. Mas a Rússia, inquieta com os muçulmanos, preocupada com os amigos dos circassianos, e uma fiel aliada do regime de Damasco, ainda tem de decidir se receberá mais refugiados.

28 de maio de 2012

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