"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 28 de maio de 2012

BOM SENSO

Nosso coeditor perpetrou um belo post em Verborréia, 27/05. Histórias do passado sempre rendem um bom texto, quando o redator sabe misturar um caso com outros aspectos do presente. Mas o que me chamou mais a atenção foi uma frase.
Aquele que se propõe a redigir para outros lerem deve estar sempre atento, pois uma simples palavra pode ser a inspiração para outro texto.

É o caso. A frase a que me refiro é “decadência do bom senso no mundo”. Isso me levou a concluir, pelos últimos anos que decorreram no Brasil, mais precisamente a partir de 2003, quando um partido conseguiu o poder, enganando os eleitores com um "discurso sobre a ética".


Jacqueline Stefani, mestranda em Filosofia pela UNISINOS, aborda em artigo, o seguinte:

“O modelo proposto por Apel e Habermas pôde vir à tona como um profícuo espaço atual de renovação da ética devido à emergência da linguagem como temática central no seio da filosofia da metade do século XX; já não se tratava, paradigmaticamente, de pensar o ser [como na antiga Grécia e no pensamento medieval], nem o sujeito, a subjetividade [como no pensamento moderno]; a linguagem, então, pôde desvelar-se como meio intransponível de toda reflexão teórica e prática. A proposta baseada numa ética universal de solidariedade encontrou seu lugar de destaque num momento da história em que se clamava por respostas tanto ao ‘vazio ético’ entranhado nos espíritos contemporâneos, quanto à generalizada fragmentação e relativização de preceitos morais – Ética do Discurso – A partir do fim dos anos 1960 e início dos anos 1970, surge uma nova perspectiva na história da filosofia denominada “ética do discurso”, cujo critério de fundamentação das normas morais é a linguagem, ou melhor, o consenso validado intersubjetivamente; a verdade deixa de ser um problema de adequação entre a proposição e o mundo real, ou seja, um problema exclusivamente semântico e passa a ser concebida como uma questão consensual de verdade.
Desse modo, um predicado é verdadeiramente adequado a um sujeito, se todos os integrantes da roda do discurso chegarem ao consenso dessa adequação.
Discurso significa, para Habermas, uma interação comunicativa que não se propõe a trocar informações sobre algo, mas a fundamentar as pretensões de validade levantadas na ação comunicacional. A linguagem é compreendida como ação.

Pois bem, não é o temos visto. O discurso era sólido mas, a ação veio a contradizer o discurso, mostrando que, na verdade, era apenas uma atitude semântica para obter o poder. E o corolário das ações mostra que o glorioso partido™ vem tentando, há tempos, revogar a lei do bom senso. Pela eficiência demonstrada, já conseguiu seu intento.
Resta apenas redigir, com a ajuda dos outros partidos, cujo apoio foi obtido com sinecuras descaradas, uma Constituição Federal que seja o diploma legal das ações que vem implantando.

É curioso. O Brasil precisa sempre ser diferente do resto do mundo. Um regime esquerdista instalado sem sangue. Merecem até elogios. Se sangue vai correr depois, isso já é outra história, como diria o narrador de antigo programa de televisão infantil, O Sítio do Pica-Pau Amarelo.


28 de maio de 2012
Magu
(*) Foto: Karl-Otto Apel com Jürgen Habermas.

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