"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 28 de maio de 2012

NOVA EXTREMA DIREITA, UNIDA PELA ISLAMOFOBIA


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Partidos em guerra com o Islã conseguem de 5 a 20 por cento dos votos na Europa
Mesmo sem pregar racismo ou xenofobia, partidos radicais europeus atacam imigração muçulmana para conquistar eleitores insatisfeitos com a globalização

O novo sucesso do Front National nas eleições presidenciais francesas mostra que a extrema-direita se converteu em “direita nacional” na Europa. Pelo menos no discurso, os radicais agora rejeitam a xenofobia, o racismo e o antissemitismo, mas continuam com um discurso forte contra a imigração muçulmana, sua bandeira mais rentável.

Estratégias parecidas com a do Front National ganham terreno em todo o continente. O jornal Le Monde lista uma série de partidos que adotaram a mesma corrente de Marine Le Pen. São eles o Partido do Povo dinamarquês, o Partido pela Liberdade holandês, o FPÖ e o BZÖ austríacos, os Verdadeiros Finlandeses, Direito e Justiça na Polônia, Ataka na Bulgária, a Liga do Norte na Itália, os Democratas suecos, a União Democrática do Centro na suíça. Segundo o jornal, todos estes partidos alcançam os 5%, quando não chegam aos 25%.

Tais partidos se equilibram em duas corrente ideológicas distintas: alguns abraçam o populismo nacionalista anti-liberal e contra a União Europeia e o euro. É o caso do Front National, que tentou conquistar os votos das zonas rurais atacando a globalização e se dizendo a serviço dos mais pobres. Já o Partido pela Liberdade holandês defende um “populismo liberal”, segundo o especialista em extrema-direita Jean-Yves Camus. São a favor de costumes liberais, assim como do liberalismo, da laicidade e da União Europeia.

O único ponto em comum entre eles é a crítica feroz ao islã e ao multiculturalismo. Segundo o cientista político austríaco Anton Pelinka, eles usam a “imigração muçulmana para reunir os perdedores da globalização”.

Basta ler um dos textos de Geert Wilders, líder do Partido pela Liberdade, que circula em fóruns na internet. Aqui, ele faz sua descrição dos subúrbios de conjunto habitacionais, onde vivem a maior parte dos muçulmanos nas cidades europeias:
“É o mundo das cabeças cobertas por lenços, onde seguidamente as mulheres circulam cobertas uma aparência de barraca, com um carrinho de bebê e um séquito de crianças. Seus maridos, ou melhor, proprietários de escravas, caminham três passos na frente delas. É um mundo com mesquitas em todos os cantos. As lojas têm inscrições que você não conseguirá ler. É difícil achar qualquer sinal de atividade econômica por lá. São ghettos muçulmanos controlados por fanáticos religiosos”.

Marine Le Pen é outra que pede o fim de qualquer imigração vinda de países do sul. A candidata frontista fala em “inversão dos fluxos migratórios”. “Falar em inversão, é pedir para que se expulse os franceses de origem imigrante”, diz Jean-Yves Camus ao Le Monde. “Eles precisam ser mais claros! É uma lógica de enfrentamento entre os bons e os maus franceses.”

O movimento anti-islã é apoiado por diversos intelectuais. Bíblia da nova extrema direita, o livro do jornalista norte-americano Christopher Caldwell, Como o islã vai transformar a França e a Europa, afirma que os muçulmanos invadem a Europa graças à sua fecundidade ao mesmo tempo que os nascimentos europeus descem até um filho a cada três mulheres. O livro prevê que a Itália perderá, até 2050, metade de sua população nativa. Que 17% a 20% da Holanda será muçulmana. Que os estrangeiros representarão entre 20% e 32% da população europeia.

O antropólogo Malek Chebe considera esta islamofobia anacrônica, incapaz de pensar a pluralidade dos muçulmanos nos anos 2010. “A maioria dos muçulmanos da zona asiática, os mais povoados, vivem um islã pacífico”, afirma ao Le Monde. “Vejo inclusive exemplos de modernização. Em todos os lugares, a juventude protesta, se mostra impaciente ao não ver as estruturas fósseis se moverem; agora nenhum déspota consegue conduzir seu povo sem ser contestado, nenhum demagogo religioso faz prevalecer sua ligação única com Deus quando todo mundo tweeta ou skypeia”.

 
28 de maio de 2012
opinião & notícia

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