Erundina deixou todos petistas
constrangidos. Fez o que qualquer petista histórico faria. O PT dos anos 1980,
não este pragmático, sem cor, sem cheiro, sem forma. Praticamente matou a
candidatura de Haddad. Só uma reviravolta para colocar a militância engajada (da
zona leste e sul) na rua.
Os pragmáticos, do PT e PSB, estão furiosos e jogam a culpa na escolha do nome da ex-prefeita. Não se importam com programa ou ideologia. Se importam com vitória, com cálculo de votos.
Assim, pautados pela
popularidade, se tornam conservadores, fiéis escudeiros do status quo,
justamente porque não querem mudanças fundamentais, mas apenas se tornarem
populares.
Um atalho para a construção da hegemonia gramsciana. Em Gramsci,
havia diálogo e costura de múltiplos interesses. Mas o pragmatismo petista de
hoje é rebaixado. Não procura costurar interesses a partir de um programa.
Faz o
contrário: constrói seu programa a partir do cálculo de força eleitoral.
Cede.
Se rebaixa. Na verdade, não se preocupa com programa algum. Eleito, administra e
sai a cata de programas que tenham algum sentido estatal-desenvolvimentista, o
que sobrou do modo petista de governar.
Aquele modo petista, mesmo difuso e
confuso, tinha uma inspiração de transformação social, plasmada no slogan
"inversão de prioridades".
O participacionismo, outra marca do início dos
governos petistas, foi abruptamente abandonado. O motivo parece óbvio: não há
como abrir a participação dos de baixo se os cálculos eleitorais exigem acordos
com as elites coronelistas de sempre.
Erundina é a última petista. O que deve incomodar profundamente os caciques do PSB e do PT.
Rudá Ricci
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