"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 29 de junho de 2012

SURGE NOVA EMPRESA FANTASMA DO ESQUEMA CACHOEIRA

CPI descobre nova firma de fachada envolvida no pagamento de R$ 45 mil ao jornalista Luiz Carlos Bordoni, que prestou serviços ao governador de Goiás, Marconi Perillo. Trata-se da Adércio & Rafael Construções
Bordoni afirmou à CPI ter recebido R$ 45 mil da empresa fantasma Adércio & Rafae

Além da já conhecida Alberto & Pantoja, há uma outra empresa fantasma do esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira relacionada com o pagamento do jornalista Luiz Carlos Bordoni pelos serviços que ele prestou ao governador de Goiás, Marconi Perillo.
Ao falar à CPI na quarta-feira (27), Bordoni disse ter recebido R$ 45 mil de uma empresa chamada Adércio & Rafel Construções e Incorporações Ltda. Investigação feita pela CPI do Cachoeira revela que essa empresa foi criada com o mesmo modus operandi que criou a Alberto & Pantoja e outras firmas de fachada do esquema de Cachoeira.
Na raiz da criação da empresa, segundo a CPI, está o contador Rubmaier Ferreira de Carvalho, o mesmo que aparece relacionado com a criação de pelo menos uma outra fachada de Cachoeira, a Brava Construções.

Bordoni: “Fui pago com dinheiro sujo” por Perillo
Contador garante: “Não tenho nada a ver com isso”
Veja nota do governo de Goiás sobre o caso

Em seu depoimento à CPI, Bordoni afirma ter acertado com Marconi Perillo receber R$ 120 mil, e mais um bônus de R$ 50 mil no caso da vitória, pelos seus serviços na campanha eleitoral do governador em 2010.

Segundo ele, foram pagos R$ 33,3 mil pelo comitê financeiro da campanha, através de uma empresa chamada Art Mídia. Outros R$ 40 mil, conforme seu relato, teriam sido pagos pessoalmente pelo próprio Marconi Perillo – ele afirma que Marconi tirou o dinheiro de dentro de um frigobar desligado, numa sala de seu escritório político.

Outros R$ 10 mil teriam sido pagos em espécie pelo tesoureiro da campanha, Jayme Rincón. No dia 14 de abril de 2011, diz ele, foram depositados R$ 45 mil vindos da Alberto & Pantoja na conta de sua filha, Bruna Bordoni. Agora, em seu depoimento, ele diz que outros R$ 45 mil foram também depositados na conta de sua filha a partir da Adércio & Rafael, no dia 18 de maio de 2011.

Segundo a CPI, a Adércio & Rafael é, como a Alberto & Pantoja, uma empresa fantasma. Com o CNPJ 11.965.762/0001-49, ela tem como endereço uma loja na cidade de Novo Gama, em Goiás, próxima do Distrito Federal. Mas o telefone que aparece como sendo da empresa é de Brasília. Mais exatamente, como pode constatar o Congresso em Foco, do escritório de contabilidade de Rubmaier Ferreira de Carvalho.
De acordo com as informações da CPI, os sócios originais da Adércio & Rafael eram Adécio Conceição e Rafael dos Santos Oliveira. No dia 25 de maio de 2011, portanto poucos dias depois do pagamento feito a Bordoni, houve uma alteração societária, e os donos da empresa passaram a ser Gilmar Oliveira Cabral e Carlos Alberto de Lima. Neste mesmo dia, a empresa mudou de nome, e passou a se chamar G & C Construções e Incorporações Ltda.

Operação Saint Michel

Com este novo nome, G & Construções e Incorporações Ltda., a empresa já era conhecida da CPI e das investigações da Polícia Federal sobre o esquema de Cachoeira. A G & C, conforme as informações da CPI, não tem sequer um funcionário, o que indica sua condição de empresa fantasma.

Ela aparece nas investigações da Operação Saint Michel, da Polícia Federal – que, junto com as Operações Vegas e Monte Carlo, investigou o esquema de jogo ilegal de Cachoeira. Segundo a Saint Michel, a G & C fez três pagamentos de R$ 10 mil a Valdir dos Reis, lobista que tentou fraudar a licitação do sistema de bilhetagem eletrônica do Governo do Distrito Federal (GDF) para beneficiar a Delta.

Como telefone da empresa, está o telefone do escritório Teccom, no bairro do Cruzeiro, um dos mais antigos do Distrito Federal. Seu dono é Rubmaier Ferreira de Carvalho. Segundo a CPI, Rubmaier, como contador, teria criado várias empresas de fachada para o esquema de Cachoeira. Ele próprio admite ter se envolvido na criação de uma dessas empresas, a Brava Construções.

A Brava recebeu R$ 13 milhões da Delta Construções. E da conta da empresa saiu dinheiro para Geovani Pereira da Silva, que seria o principal contador do esquema de Cachoeira, e que está foragido. Há um requerimento de convocação de Rubmaier aprovado, e a intenção da CPI é convocá-lo para depor na próxima quinta-feira (5 de julho).

Para o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), o aparecimento da Adércio & Rafael é mais um elo a reforçar como funcionava o esquema de Cachoeira. “A CPI ainda não tinha conhecimento sobre essa empresa.

Quebrando o sigilo dela, nós vamos identificar quem ela pagou”, disse Odair ao Congresso em Foco. O senador Pedro Taques (PDT-MT) já apresentou requerimento pedindo a quebra dos sigilos bancário e fiscal da Adércio & Rafael, para segundo ele, “aquilatar documentalmente a veracidade das informações prestadas pela testemunha na audiência, Sr. Luiz Carlos Bordoni, além de possibilitar seja sopesado o envolvimento de outras autoridades e empresas com a organização criminosa”.
Na próxima semana, a CPI ouvirá também Alberto Pantoja, suposto dono da empresa de fachada Alberto & Pantoja, e Edivaldo Cardoso, ex-diretor do Detran de Goiás, além de Rubmaier.

congresso em foco
Rudolfo Lago e Mariana Haubert
29 de junho de 2012

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