Dia desses, o ator Paulo Betti lamentava o esvaziamento daquela que foi uma arena de debates políticos e até tertúlias literárias que atraíam vasto público no Rio de Janeiro.
Segundo ele, a Casa da Gávea talvez tivesse de ser fechada, pois não se estava conseguindo pagar os custos de manutenção e, a cada vez, menos pessoas ali compareciam. Lembrava também momentos inesquecíveis nos anos de 1990.
Falo disso agora porque nesta semana começam as campanhas para os pleitos municipais de outubro. E de há muito ando preocupada com a ausência de debates políticos, como os que já aconteceram um dia no país. A lista de eventos antigos talvez devesse começar pelos grandes comícios da luta pelas eleições diretas, ainda durante a ditadura militar.
Os comícios não eram meu instrumento preferido de eleição. Eles sempre se caracterizaram como “fala de mão única”, já que neles o público apenas ouve, bate palmas ou vaia, mas não pode falar (a não ser, acredito, na campanha de Juscelino Kubitschek, quando, reza a história, alguém do povo, em Goiás, lhe cobrou, em comício, a mudança da capital federal, que constava das constituições desde 1891). Em todo caso, no meio da multidão, enquanto os oradores não se apresentavam, havia rodinhas de conhecidos ou desconhecidos, conversando entre si sobre coisas da vida pública.
O melhor eram os debates de candidatos, cada um por sua vez, ou entre eles, nos auditórios das universidades, das associações comerciais, dos sindicatos. Lembro-me, inclusive, de uma iniciativa muito diferente das comuns, quando, em Sabará, convidaram candidatos a deputado estadual, um de cada partido existente à época, para debater com o público, que compareceu em massa ao clube de festas mais conhecido da cidade.
Imaginem que eu, que fiz campanha para o governo de Minas, em plena Lei Falcão – a que só permitia o retrato e a biografia do candidato -, chego a pensar que isso talvez fosse melhor que os programas gravados hoje em dia, para os quais marqueteiros, pagos a peso de ouro, bolam as melhores estratégias publicitárias para vender seus contratados, ao bom estilo de mercadorias. E quanta mentira vai ao ar!
Quanta gente posando de “alguém do povo”, lendo no “teleprompter” uma fala feita sob medida para dizer maravilhas sobre o candidato. Infelizmente, até quando se quis melhorar as práticas políticas, conseguiu-se diminuir o espaço de discussão, a boa e velha discussão política: a lei de iniciativa popular, a propósito de evitar a compra de votos, impede toda e qualquer iniciativa com que a criatividade dos mais pobres tentava substituir a opulência do gasto dos muito ricos.
Hoje eu não poderia distribuir mudas de plantas no dia da primavera, nem balões à criançada, chamadas por mim para um dia de passeio no Parque Municipal de Belo Horizonte em 1982.
Para não falar dos enfadonhos debates televisionados – onde quem mais aparece são, na verdade, os tais mediadores. Isso não é discussão política, nem esclarece o público.
Segundo ele, a Casa da Gávea talvez tivesse de ser fechada, pois não se estava conseguindo pagar os custos de manutenção e, a cada vez, menos pessoas ali compareciam. Lembrava também momentos inesquecíveis nos anos de 1990.
Falo disso agora porque nesta semana começam as campanhas para os pleitos municipais de outubro. E de há muito ando preocupada com a ausência de debates políticos, como os que já aconteceram um dia no país. A lista de eventos antigos talvez devesse começar pelos grandes comícios da luta pelas eleições diretas, ainda durante a ditadura militar.
Os comícios não eram meu instrumento preferido de eleição. Eles sempre se caracterizaram como “fala de mão única”, já que neles o público apenas ouve, bate palmas ou vaia, mas não pode falar (a não ser, acredito, na campanha de Juscelino Kubitschek, quando, reza a história, alguém do povo, em Goiás, lhe cobrou, em comício, a mudança da capital federal, que constava das constituições desde 1891). Em todo caso, no meio da multidão, enquanto os oradores não se apresentavam, havia rodinhas de conhecidos ou desconhecidos, conversando entre si sobre coisas da vida pública.
O melhor eram os debates de candidatos, cada um por sua vez, ou entre eles, nos auditórios das universidades, das associações comerciais, dos sindicatos. Lembro-me, inclusive, de uma iniciativa muito diferente das comuns, quando, em Sabará, convidaram candidatos a deputado estadual, um de cada partido existente à época, para debater com o público, que compareceu em massa ao clube de festas mais conhecido da cidade.
Imaginem que eu, que fiz campanha para o governo de Minas, em plena Lei Falcão – a que só permitia o retrato e a biografia do candidato -, chego a pensar que isso talvez fosse melhor que os programas gravados hoje em dia, para os quais marqueteiros, pagos a peso de ouro, bolam as melhores estratégias publicitárias para vender seus contratados, ao bom estilo de mercadorias. E quanta mentira vai ao ar!
Quanta gente posando de “alguém do povo”, lendo no “teleprompter” uma fala feita sob medida para dizer maravilhas sobre o candidato. Infelizmente, até quando se quis melhorar as práticas políticas, conseguiu-se diminuir o espaço de discussão, a boa e velha discussão política: a lei de iniciativa popular, a propósito de evitar a compra de votos, impede toda e qualquer iniciativa com que a criatividade dos mais pobres tentava substituir a opulência do gasto dos muito ricos.
Hoje eu não poderia distribuir mudas de plantas no dia da primavera, nem balões à criançada, chamadas por mim para um dia de passeio no Parque Municipal de Belo Horizonte em 1982.
Para não falar dos enfadonhos debates televisionados – onde quem mais aparece são, na verdade, os tais mediadores. Isso não é discussão política, nem esclarece o público.
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