"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 12 de julho de 2012

E AINDA RESTAM 19 DEMÓSTENES NO SENADO

demostenes6 g E ainda restam 19 Demóstenes no Senado
                                                                               Os advogados não podem tudo

Bastavam 41, mas foram 56 votos a favor da cassação do mandato do senador Demóstenes Torres, eleito pelo DEM de Goiás. Agora só resta descobrir quem foram os 19 senadores que votaram contra a cassação. Ou seja, acharam que ele era inocente e não fez nada de errado nas suas relaçoes especiais com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Cinco outros ficaram na dúvida e se abstiveram de votar, beneficiando o denunciado. Só um, Cloris Fecury (DEM-MA), faltou à sessão.

Embora o voto seja secreto, gostaria muito de saber quem são, o que pensam e o que levou quase um quarto dos nossos representantes no Senado Federal a votar pela manutenção do mandato de Demóstenes Torres, depois de tudo o que foi investigado e provado contra ele pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Devem pensar e agir como ele. Restaram, portanto, 19 outros Demóstenes.

Ao ouvir a bem fundamentada acusação feita pelo relator da comissão de ética, Humberto Costa (PT-PE), e os argumentos usados nos discursos dos senadores que se manifestaram na tribuna, todos a favor da cassação e em defesa da credibilidade da instituição, fiquei me perguntando: como Demóstenes conseguiu enganar os jornalistas e seus colegas parlamentares por tanto tempo, desde que assumiu seu primeiro mandato em 2003?

Entre muitas outras, este episódio nos ensinou uma singela lição: os advogados, por melhores e mais caros que sejam, não podem tudo. Quatro meses após o escândalo estourar, graças a um tal de rádio Nextel descoberto pela Polícia Federal, Demóstenes foi cassado e Carlinhos Cachoeira continua preso. Não fosse isso, e Demóstenes continuaria pontificando no Senado até 2018.

Já no desespero, sabendo que nem mesmo Antonio Carlos Almeida Castro, o Kakay, seria capaz de salvá-lo, Demóstenes tomou o lugar do advogado na tribuna para fazer a sua própria defesa. Depois de aparentar a humildade dos injustiçados e perseguidos, partiu para o ataque contra o relator Humberto Costa, querendo provar que são todos iguais.

Demóstenes não soube cair de pé. No final do seu discurso, foi duas vezes ingrato. Primeiro rifou o parceiro Carlinhos Cachoeira e depois se queixou da imprensa _ justamente as duas entidades que tanto o ajudaram a se tornar o paladino da ética, o maior e o último dos homens públicos honestos na República.

Foram três horas que vão ficar na história das nossas instituições democráticas. O Senado Federal lavou a alma e a sociedade brasileira ressuscitou por alguns instantes velhas esperanças de um dia poder viver num Brasil mais decente e mais justo.

12 de julho de 2012
balaio do kotscho

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