"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 14 de julho de 2012

ELOGIO A FERNANDO LONDOÑO HOYOS

    
          Internacional - América Latina        

Como jurista, intelectual e jornalista, Fernando Londoño Hoyos assumiu posições valentes em todos os debates importantes do país.

Permitam-me participar deste ato de homenagem para dizer, através desta mensagem, minha grande admiração e simpatia por esse colombiano eminente que é Fernando Londoño Hoyos.

Fernando Londoño Hoyos foi um grande ministro do Interior e Justiça em um dos momentos mais obscuros e difíceis da história do país. Reforçadas militar e politicamente por um iníquo e falso “processo de paz” com o governo daquela ocasião, as FARC haviam se apoderado de meio país e estavam se preparando, no começo dos anos 2000, para dar uma patada final contra a Colômbia. E muitos acreditavam que a única saída era a capitulação do Estado ante a guerrilha comunista.

Por sorte, o presidente Álvaro Uribe Vélez, eleito em 2002, pôs fim a esses diabólicos planos mediante uma nova política de segurança, uma reorganização das Forças Armadas e um rearmamento institucional e moral que permitiu às maiorias participar dos esforços patrióticos contra os verdugos da Colômbia.
Como ministro do novo chefe de Estado, Fernando Londoño foi um dos criadores mais audazes e brilhantes dessa empresa de salvação nacional, graças à qual hoje podemos estar, dez anos depois, reunidos neste recinto do Clube El Nogal, tão carregado de simbolismo para a luta anti-terrorista.

Durante estes últimos oito anos, Fernando Londoño Hoyos foi, por outra parte, um jornalista excepcional, um dos melhores editorialistas do país, senão o mais importante.
Ele pôs seu muito ouvido noticiário La Hora de la Verdad, da Radio Súper, a serviço do bem comum e das liberdades. Não há uma testemunha mais lúcida e informada do que ele acerca da luta imensa que a Colômbia leva, em muitas frentes e todos os dias, para preservar sua soberania, seu modo de vida e para consolidar suas conquistas democráticas.

Como jurista, intelectual e jornalista, Fernando Londoño Hoyos assumiu posições valentes em todos os debates importantes do país.
Fernando Londoño foi ao mesmo tempo ator desse combate tão nobre, destinado a desbaratar os desígnios totalitários de potências e agentes estrangeiros que procuram reduzir a escravidão e a miséria mais abjeta nosso livre e belo país.

Se isso não fosse exato, se esse não fosse o combate que Fernando Londoño leva com não pouca abnegação, o ato solene de hoje em Bogotá não teria sentido. Entretanto, tem sim e em grau máximo.
O covarde atentado que Fernando Londoño Hoyos sofreu em 15 de maio de 2012 em Bogotá, pelas mãos das FARC, no qual foi gravemente ferido e no qual dois de seus guarda-costas e amigos perderam a vida, e no qual foram feridos mais de 30 civis, lembrou violentamente ao mundo inteiro quem é Fernando Londoño Hoyos, e por que a Colombia deve estar orgulhosa de ter um lutador político como ele.

Esse atentado mostrou que as FARC recuperaram, desgraçadamente, a iniciativa ante a ausência de uma política de combate sem ambigüidades contra elas.
Esse atentado revelou a todos a dimensão profunda do difícil combate histórico que se leva na Colômbia entre a liberdade e o totalitarismo.
Mostrou quão grande é nossa solidão em um mundo que parece não querer entender este enorme desafio. Por isso a reunião de hoje é de importância capital e suas conclusões devem ser dadas a conhecer à comunidade internacional.

Porém, esta distinguida reunião não cumpriria de todo seus objetivos se não tratamos de colocar em dúvida, mesmo que seja rapidamente, certos clichês que os adversários de Fernando Londoño Hoyos difundem. É verdade que ele é uma personalidade inclassificável.

É um espírito livre e independente que se mantém à margem da baixa cozinha política para poder denunciar os abusos, assinalar as carências e advertir sobre os perigos que vêm. Fernando Londoño é, intelectualmente falando, um jurista rigoroso sem ser intransigente, uma patriota firme que não cai em sectarismos, um erudito da história colombiana que não chega jamais a ser pedante.

Em minha modesta opinião, Fernando Londoño é um conservador que está longe de ser um reacionário. Ao mesmo tempo, é um “progressista” que tem a vantagem de saber que o igualitarismo e o coletivismo socialista levam sempre à confiscação de tudo e à violência.

Em outras palavras, Fernando Londoño é um democrata liberal, mas não liberal no sentido estreito que costumamos dar a essa palavra, senão como pôde sê-lo um Benjamin Constant, um Alexis de Tocqueville, um Jean-François Revel. Quer dizer, como alguém que estima que a liberdade econômica é inseparável da liberdade individual, que a liberdade de produzir e distribuir é indissociável da liberdade de informação.

Quem apresenta Fernando Londoño como um conservador recalcitrante incorre na mais indecente falsificação.
A democracia liberal de Fernando Londoño é a que todos compartilhamos, aquela que repousa sobre um Estado de direito que garanta a propriedade privada e a ordem pública, que cultiva o pluralismo de opinião, que exige uma real divisão de poderes e uma limitação de cada um destes, que aspira a que o poder judiciário respeite escrupulosamente a Constituição e as leis. Essa democracia liberal inclui, além disso, uma boa dose de pragmatismo inteligente capaz de apontar soluções imediatas aos desafios de toda ordem de uma sociedade aberta porém complicada como a colombiana.

Por isso estamos aqui rodeando Fernando Londoño neste dia. Dizendo ao mundo que ao atentar contra ele, as FARC atacaram a todo um povo e aos melhores valores desse povo.
E que a resposta deste povo a tal agressão será unitária, maciça e permanente.

Deploro não poder terminar esta mensagem sem mostrar minha surpresa ante um fato: um mês e meio depois do atentado contra Fernando Londoño, as autoridades colombianas não conseguiram capturar nenhum dos envolvidos direta e indiretamente nesse crime horrível.

Não sei sequer se a instrução desse processo avança, pois as promessas de umas “capturas imediatas” lançadas pelo Ministério Público há várias semanas não culminaram em fatos.
O governo, por sua parte, parece ter esquecido desse atentado e a imprensa dá conta tão-só de hipóteses sem verificação. Essa situação não pode continuar. Os terroristas que ordenaram e realizaram esse atentado devem ser capturados e levados a julgamento.

Fernando Londoño deve ser protegido, assim como sua equipe de jornalistas. A continuidade de La Hora de la Verdad deve ser garantida. Não se pode permitir que a barbárie terrorista destrua a voz valente de homens e mulheres livres.

O que é que todo jornalista pode esperar do Estado colombiano? Que garanta a liberdade de imprensa e de expressão e que proteja a vida. E o que pede o país a todo jornalista? Que trabalhe pela verdade e pela liberdade, que transforme esses princípios em atos, mesmo que estes sejam modestos.

Albert Camus, que era jornalista e escritor, em seu memorável discurso em 1957, ao receber o Nobel de Literatura, disse: “Sejam quais forem nossas dificuldades pessoais, a nobreza de nosso ofício repousa sempre em dois postulados difíceis de cumprir: o rechaço a mentir sobre o que se sabe e a resistência contra a opressão”.

Camus acrescentou: “Em todas as circunstâncias da vida, obscuro ou temporariamente célebre, sob os grilhões da tirania ou livre por um momento para se expressar, o escritor pode reencontrar o sentimento de uma comunidade viva que o justifica na condição de que aceite, na medida de suas possibilidades, as duas exigências que tornam seu ofício grande: servir à verdade e à liberdade”.

Creio que todos podemos pensar aqui que Fernando Londoño Hoyos, como advogado, ministro, jornalista e escritor, esteve sempre à altura dessa exigência.

Nota da tradutora

Este artigo foi escrito para ser lido na homenagem prestada a Dr. Fernando Londoño Hoyos, por iniciativa do ex-presidente Álvaro Uribe Vélez, que proferiu o discurso inicial ao homenageado e da organização Centro de Pensamento Primeiro Colombia, no dia 5 de julho de 2012, no Clube El Nogal em Bogotá, ocasião em que foi criada uma plataforma inicialmente intitulada “Frente contra o terrorismo”. Desta organização fazem parte ainda o renomado jornalista José Obdulio Gaviria e o ex-presidente Álvaro Uribe Vélez.

Eduardo Mackenzie
14 de julho de 2012
Tradução: Graça Salgueiro

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