Quanto, afinal, devem os assalariados brasileiros?
Em excelente matéria publicada na edição de 6 de julho da Folha de São Paulo, a repórter Júlia Borba colocou em foco, manchete de página, a divergência entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central a respeito de a quanto monta o endividamento das famílias brasileiras, portanto dos assalariados principalmente.
Para o Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, é de 64% da massa de vencimentos. Para o Banco Central, da ordem de 44%. Só isso? Penso que não. Holland provavelmente se referiu a uma percentagem acima da massa salarial.
O que significaria (ou significa) um endividamento em torno de 1 trilhão e 600 milhões de reais. O Banco Central, de outro lado, estima as dívidas na escala de 440 bilhões, acima do total dos salários. O total dos salários oscila em torno de 1 trilhão e 100 bilhões de reais.
Pode-se chegar a este número com relativa facilidade. A arrecadação total do FGTS no ano passado, publicada no Diário Oficial, foi de 61 bilhões. Como tal receita decorre da incidência de 8% sobre os pagamentos dos celetistas, multiplica-se 61 bilhões por 12,5 vezes. Vai dar algo em torno de 750 bilhões de reais. Mas há os servidores públicos que não têm Fundo de Garantia. Tem que se somar estes para efeito de remuneração total. Há ainda os trabalhadores avulsos e os que não possuem carteira assinada. Muito bem. Chegamos dessa forma, suponho eu, ao patamar de 1 trilhão e 100 bilhões a cada doze meses.
Se as dívidas acumuladas fossem de 64%, somariam mais ou menos 700 bilhões. Se fossem 44% produziriam um resultado final de aproximadamente 500 bilhões. Muito pouco.
A verdade é outra. Basta citar que só o movimento dos cartões de crédito vai fechar este ano na escala mínima de 400 bilhões. Atingiu 107 bilhões no primeiro trimestre, revelou outro dia O Estado de São Paulo. Mas existe o crédito direto oferecido pelas lojas comerciais. Mais duzentos bilhões.
Existem as compras financiadas de automóveis. Há os cheques pré-datados em profusão. Além disso, os empréstimos pessoais junto aos bancos e a loucura dos cheques especiais.
Como se percebe, todas essas modalidades de crédito somadas não podem representar apenas 640 bilhões e, muito menos, 440. Não. Pois só os cartões de crédito movimentam 400 bilhões de reais.
Logo é necessário que a Fazenda e o BACEN refaçam os cálculos para patamares mais realistas. Sugiro à repórter Júlia Borba, portanto, que dê sequência à reportagem que iniciou. Não tenho dúvida que ela irá encontrar a verdade. Importante para informar claramente o fenômeno à opinião pública.
Mas ia me esquecendo mais uma forma de endividamento: o crédito consignado, cujos juros mensais são na altura de 2% ao mês, para uma taxa inflacionária de 5,1% ao ano, como achou o IBGE.
Faz inevitavelmente explodir os orçamentos dos aposentados e pensionistas. Setenta e cinco por cento ganham o salário mínimo pago pelo INSS. Vinte e cinco por cento acima do piso. Este ano, por exemplo, enquanto três quartos dos 26 milhões de inativos foram reajustados em 14%, os 25% restantes receberam aumento nominal de 6 pontos. Assim, como poderão, todos eles, pagar juros anuais de 24%?
Impossível. A curto prazo passarão a se encontrar mais endividados do que já estão hoje. De modo geral é por isso que a inadimplência nos últimos dois nãos subiu de 5 para 7,5%. Cinco por cento é a taxa esperada. Mas 7,5 situa-se 50% acima do ponto de submersão social.
A propaganda na televisão oferece mil facilidades para liberar dinheiro. E oculta o verdadeiro custo desse dinheiro.
Com isso, os assalariados brasileiros vão se endividando cada vez mais e, claramente, não conseguirão se livrar da espiral: seus salários não chegam pelo menos a empatar com a inflação. Não podem assim vencer as estatísticas do IBGE. Já estão abaixo da linha d’água. Qual será seu limite de resistência?
Em excelente matéria publicada na edição de 6 de julho da Folha de São Paulo, a repórter Júlia Borba colocou em foco, manchete de página, a divergência entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central a respeito de a quanto monta o endividamento das famílias brasileiras, portanto dos assalariados principalmente.
Para o Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, é de 64% da massa de vencimentos. Para o Banco Central, da ordem de 44%. Só isso? Penso que não. Holland provavelmente se referiu a uma percentagem acima da massa salarial.
O que significaria (ou significa) um endividamento em torno de 1 trilhão e 600 milhões de reais. O Banco Central, de outro lado, estima as dívidas na escala de 440 bilhões, acima do total dos salários. O total dos salários oscila em torno de 1 trilhão e 100 bilhões de reais.
Pode-se chegar a este número com relativa facilidade. A arrecadação total do FGTS no ano passado, publicada no Diário Oficial, foi de 61 bilhões. Como tal receita decorre da incidência de 8% sobre os pagamentos dos celetistas, multiplica-se 61 bilhões por 12,5 vezes. Vai dar algo em torno de 750 bilhões de reais. Mas há os servidores públicos que não têm Fundo de Garantia. Tem que se somar estes para efeito de remuneração total. Há ainda os trabalhadores avulsos e os que não possuem carteira assinada. Muito bem. Chegamos dessa forma, suponho eu, ao patamar de 1 trilhão e 100 bilhões a cada doze meses.
Se as dívidas acumuladas fossem de 64%, somariam mais ou menos 700 bilhões. Se fossem 44% produziriam um resultado final de aproximadamente 500 bilhões. Muito pouco.
A verdade é outra. Basta citar que só o movimento dos cartões de crédito vai fechar este ano na escala mínima de 400 bilhões. Atingiu 107 bilhões no primeiro trimestre, revelou outro dia O Estado de São Paulo. Mas existe o crédito direto oferecido pelas lojas comerciais. Mais duzentos bilhões.
Existem as compras financiadas de automóveis. Há os cheques pré-datados em profusão. Além disso, os empréstimos pessoais junto aos bancos e a loucura dos cheques especiais.
Como se percebe, todas essas modalidades de crédito somadas não podem representar apenas 640 bilhões e, muito menos, 440. Não. Pois só os cartões de crédito movimentam 400 bilhões de reais.
Logo é necessário que a Fazenda e o BACEN refaçam os cálculos para patamares mais realistas. Sugiro à repórter Júlia Borba, portanto, que dê sequência à reportagem que iniciou. Não tenho dúvida que ela irá encontrar a verdade. Importante para informar claramente o fenômeno à opinião pública.
Mas ia me esquecendo mais uma forma de endividamento: o crédito consignado, cujos juros mensais são na altura de 2% ao mês, para uma taxa inflacionária de 5,1% ao ano, como achou o IBGE.
Faz inevitavelmente explodir os orçamentos dos aposentados e pensionistas. Setenta e cinco por cento ganham o salário mínimo pago pelo INSS. Vinte e cinco por cento acima do piso. Este ano, por exemplo, enquanto três quartos dos 26 milhões de inativos foram reajustados em 14%, os 25% restantes receberam aumento nominal de 6 pontos. Assim, como poderão, todos eles, pagar juros anuais de 24%?
Impossível. A curto prazo passarão a se encontrar mais endividados do que já estão hoje. De modo geral é por isso que a inadimplência nos últimos dois nãos subiu de 5 para 7,5%. Cinco por cento é a taxa esperada. Mas 7,5 situa-se 50% acima do ponto de submersão social.
A propaganda na televisão oferece mil facilidades para liberar dinheiro. E oculta o verdadeiro custo desse dinheiro.
Com isso, os assalariados brasileiros vão se endividando cada vez mais e, claramente, não conseguirão se livrar da espiral: seus salários não chegam pelo menos a empatar com a inflação. Não podem assim vencer as estatísticas do IBGE. Já estão abaixo da linha d’água. Qual será seu limite de resistência?
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