"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 14 de julho de 2012

FARRA DO GOVERNO COM PUBLICIDADE NA MIRA DOS PARLAMENTARES

Publicidade institucional poderá ter regras mais duras. Gastos com mídia são alvo de projetos de parlamentares que defendem mais transparência

Os gastos governamentais com publicidade estão na mira de alguns parlamentares, que apresentaram, este ano, projetos tornando mais duras as regras para com esse tipo de despesa. Ainda há um longo caminho para que eles venham a ser aprovados, mas a intenção é tornar mais transparente e eficiente a forma como o governo trata as campanhas publicitárias.

Um dos autores dessas propostas, o deputado Francisco Praciano (PT-AM), presidente da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção, se inspirou, em parte, na Lei de Acesso à Informação, que entrou em vigor em maio.
No dia 5 deste mês, o deputado apresentou um projeto que torna obrigatória a divulgação do que é gasto em cada peça publicitária divulgada. Assim, por exemplo, um comercial televisivo que custou R$ 1 milhão deverá informar isso enquanto é veiculado na TV.
Segundo ele, o cidadão, ao tomar conhecimento do quanto é gasto, poderá questionar se aquela despesa realmente vale a pena.

— A gente vê muita propaganda desnecessária, sem função social, sem educação, muito mais elevando o prestígio das lideranças do que promovendo o serviço de educação e informação à sociedade — disse Praciano.

Na justificativa do projeto, o deputado cita a Lei de Acesso à Informação. Segundo ele, a lei “estipulou que, em certos casos, não é suficiente disponibilizar as informações ao público. Nestas situações, é dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de requerimentos, a divulgação de informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas.”

Outra proposta, apresentada no mesmo dia, é do deputado Ruy Carneiro (PSDB-PB). Pelo projeto de lei, um mínimo de 20% do gasto de publicidade da União deverá ser destinado à campanhas educativas.

— Hoje, o governante tem 100% de liberdade da mídia que ele faz. Se ele quiser investir hoje R$ 1 milhão e fazer mídia com a inauguração de um hospital ou uma obra pública, que, às vezes, é muito mais mídia do governo dele e interessa muito menos para a população, ele tem essa liberdade — argumentou.

Os dois projetos se aplicam apenas à União. Segundo os dois deputados, haveria o risco de a lei ser inconstitucional, caso se estendesse a estados, municípios e Distrito Federal. Mas ambos acreditam que seus projetos podem inspirar autoridades estaduais e municipais. Ainda assim, Praciano antevê dificuldades na tramitação da matéria.

— Os representantes dos estados aqui (no Congresso) normalmente vão falar a linguagem dos governadores. Não tem governo que goste disso. Transparência é uma coisa que, normalmente, os governos, os Executivos, não gostam. Então, como em todos os projetos aqui, nós teremos também dificuldades. Há representantes de governos (estaduais) e municípios que tentarão evitar a transparência. Mas como esta Casa tem aprovado várias leis de transparência, acredito que já há uma tendência desta Casa de aprovar — disse o petista.

André de Souza - O Globo
14 de julho de 2012

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