Alerta o escritor espanhol Javier Cercas na Flip
(*) Fillipe Mauro, do Opera Mundi
Um dos países mais devastados pela crise social e econômica que põe em xeque a União Europeia, a Espanha corre o risco de reviver uma onda de nacionalismo fascista semelhante à que liderou o ditador Francisco Franco entre as décadas de 1930 e 1970, na opinião do escritor espanhol Javier Cercas.
Ele visita a 10ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) nesta semana para divulgar o lançamento de Soldados de Salamina e Anatomia de um Instante, dois romances lançados pela Editora Globo e consagrados por nomes célebres como o de Susan Sontag e Mario Vargas Llosa, mas que desembarcaram no Brasil apenas no último mês de junho.
Por enquanto, Cercas diz acreditar que não há uma “reinvenção da Falange”, partido político fascista idealizado pelo advogado José Antonio Primo de Rivera, em 1933, e liderado pelo general Franco até sua morte. Contudo, diante dos altos índices de desemprego apresentados pelo país, deixa um sinal de alerta: “se isso se prolongar, uma situação muito parecida à da década de 1930 pode ocorrer. Só nos resta esperar que isso não aconteça”.
Os números mais recentes divulgados pelo Eurostat, o escritório de estatísticas da Comissão Europeia, apontam que mais de 24% da população economicamente ativa da Espanha encontra-se desempregada. Quando o parâmetro são os mais jovens, o percentual se eleva para a marca recorde de 50% e torna patente o sentimento de frustração de toda uma geração.
“Mas essa não é uma crise espanhola”, ressalva Cercas. “Está é uma crise de todo o continente, que agora precisa definir o que quer ser, se quer ser uma Europa unida ou se não quer ser uma Europa unida”, argumenta.
Mesmo que seu país esteja ao lado de Itália e Grécia no grupo dos países com maior taxa de endividamento público, o que faz com que, há meses, economistas mais pessimistas especulem o colapso da Zona do Euro, o escritor busca deixar claro que “esse não é um problema só da Espanha”.
Seu maior sucesso, Soldados de Salamina é reconhecido por críticos como um dos elementos que mais contribuíram para reabrir os debates da opinião pública em torno da história política da Guerra Civil espanhola. Narrando o enredo da busca de um jornalista pelos detalhes que envolvem o peculiar fuzilamento do poeta falangista Rafael Sánchez Mazas,Cercas alega ter conseguido “trazer novamente uma história supostamente bem resolvida”, dentro de um país onde o passado comumente se apresenta “bastante fechado”.
Publicado em mais de 20 países, o romance recebeu uma versão cinematográfica em 2003, dois anos após sua primeira edição ter sido publicada. Mas Cercas se queixa do livro que consagrou uma estética literária célebre por combinar relato histórico com criação literária na tentativa de cruzar passado e presente com temas de repercussão pública.
“Todos só falam dele e isso deveria ser o suficiente para odiá-lo”, critica. A surpresa surge quando, ironicamente, confessa sentir o oposto: “Mas para mim, Soldados de Salamina não é ruim.
É um livro raro, um sucesso bestial. Não me incomoda. Sinto-me confortável diante dele.”
06 de julho de 2012
(*) Fillipe Mauro, do Opera Mundi
Um dos países mais devastados pela crise social e econômica que põe em xeque a União Europeia, a Espanha corre o risco de reviver uma onda de nacionalismo fascista semelhante à que liderou o ditador Francisco Franco entre as décadas de 1930 e 1970, na opinião do escritor espanhol Javier Cercas.
Ele visita a 10ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) nesta semana para divulgar o lançamento de Soldados de Salamina e Anatomia de um Instante, dois romances lançados pela Editora Globo e consagrados por nomes célebres como o de Susan Sontag e Mario Vargas Llosa, mas que desembarcaram no Brasil apenas no último mês de junho.
Por enquanto, Cercas diz acreditar que não há uma “reinvenção da Falange”, partido político fascista idealizado pelo advogado José Antonio Primo de Rivera, em 1933, e liderado pelo general Franco até sua morte. Contudo, diante dos altos índices de desemprego apresentados pelo país, deixa um sinal de alerta: “se isso se prolongar, uma situação muito parecida à da década de 1930 pode ocorrer. Só nos resta esperar que isso não aconteça”.
Os números mais recentes divulgados pelo Eurostat, o escritório de estatísticas da Comissão Europeia, apontam que mais de 24% da população economicamente ativa da Espanha encontra-se desempregada. Quando o parâmetro são os mais jovens, o percentual se eleva para a marca recorde de 50% e torna patente o sentimento de frustração de toda uma geração.
“Mas essa não é uma crise espanhola”, ressalva Cercas. “Está é uma crise de todo o continente, que agora precisa definir o que quer ser, se quer ser uma Europa unida ou se não quer ser uma Europa unida”, argumenta.
Mesmo que seu país esteja ao lado de Itália e Grécia no grupo dos países com maior taxa de endividamento público, o que faz com que, há meses, economistas mais pessimistas especulem o colapso da Zona do Euro, o escritor busca deixar claro que “esse não é um problema só da Espanha”.
Seu maior sucesso, Soldados de Salamina é reconhecido por críticos como um dos elementos que mais contribuíram para reabrir os debates da opinião pública em torno da história política da Guerra Civil espanhola. Narrando o enredo da busca de um jornalista pelos detalhes que envolvem o peculiar fuzilamento do poeta falangista Rafael Sánchez Mazas,Cercas alega ter conseguido “trazer novamente uma história supostamente bem resolvida”, dentro de um país onde o passado comumente se apresenta “bastante fechado”.
Publicado em mais de 20 países, o romance recebeu uma versão cinematográfica em 2003, dois anos após sua primeira edição ter sido publicada. Mas Cercas se queixa do livro que consagrou uma estética literária célebre por combinar relato histórico com criação literária na tentativa de cruzar passado e presente com temas de repercussão pública.
“Todos só falam dele e isso deveria ser o suficiente para odiá-lo”, critica. A surpresa surge quando, ironicamente, confessa sentir o oposto: “Mas para mim, Soldados de Salamina não é ruim.
É um livro raro, um sucesso bestial. Não me incomoda. Sinto-me confortável diante dele.”
06 de julho de 2012
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